O mundo das
Histórias em Quadrinhos, como qualquer manifestação ou segmento da nossa
sociedade, artístico ou não, traz em si sinais evidentes do comportamento
humano predominante, sejam positivos ou negativos. Jornais, revistas e TV
quando noticiam ou deixam de noticiar qualquer coisa fazem a notícia chegar ao
público com as marcas de suas influências, forma de pensar, conveniências, seus
interesses comerciais e políticos. Por vezes não noticiar algo também é
indicativo claro desses interesses sejam individuais ou de grupos, que no mais
das vezes não correspondem aos interesses da população. Não fosse isso o bastante, ainda há nas coisas
veiculadas sinais indicativos do pensamento pessoal, individual de quem
escreveu o texto a ser veiculado ou do editor que determinou o tipo de enfoque
a ser dado na matéria ou artigo a ser publicado. Para uma multidão de leitores
desatentos ou mesmo alienados, tais coisas passam despercebidas. No entanto, há
os mais antenados, os atentos, os que leem além do que geralmente se publica,
que sabem perceber as coisas contidas nas entrelinhas ou decifrar verdades na
forma como foi escrito um texto. Assim é que ódios diversos, preconceitos
religiosos ou de cor ou de etnia ou de gênero costumam ser engolidos,
consumidos, digeridos, assumidos por milhões de pessoas mundo afora, sem serem
filtrados pela mente, com a necessária atenção e bom-senso. E esses ódios e
preconceitos são digeridos de forma muito rápida e quase instantaneamente se
instalam nos cérebros desses seres mais desavisados. Pessoas assim não
conseguem enxergar nos textos e notícias veiculados o racismo, a misoginia, a
homofobia,a exclusão social, o reacionarismo, as palavras de ordem do
extremismo, a exaltação de líderes nefastos, a propagação de ideias repletas de
aberrações sociais e políticas ou coisas menos graves mas, ainda assim, nocivas.
Evidentemente um assunto tão complexo como esse não se esgota em uma pequena
postagem como essa. Longe, muito longe disso. Mas esse meandro todo serve para colocar
em questão o tratamento diferenciado e injusto dado às profissionais mulheres
em relação aos homens. E aí volto às histórias em quadrinhos, já que quero me
referir especificamente a uma profissional dos quadrinhos de altíssima
qualidade, dona de uma extensa e extensa produção dentro do universo da chamada
Nona Arte. Essa profissional, uma norte-americana, chama-se Ramona Fradon.
Quem?!?, é a pergunta que muitos quadrinhomaníacos se farão por saberem de cor uma
extensa lista de nomes e nomes de famosos desenhistas de quadrinhos e não terem jamais lido algo sobre essa
extraordinária desenhista. Justamente porque o tratamento dado a uma mulher
profissional não é o mesmo dedicado a homens, como na imensa maioria dos
setores profissionais, artísticos ou não artísticos. Como se fosse natural,
homens são endeusados e mulheres tratadas como seres que merecem apenas o papel
de coadjuvantes e que devem se conformar com isso. Posto aqui alguns desenhos
de Ramona para que vejam a fera que ela é e sempre foi. Certamente a reação de
muitos será de surpresa ao ver que, sim, já conheciam e admiravam tão lindos
desenhos, apenas não sabiam se tratar de uma mulher. Não uma mulher qualquer,
uma mulher que provou ao longo de sua vasta e ininterrupta produtividade ao
longo de seus atuais 90 anos, que o talento e o poder de realização da bela e
sempre amada arte das HQs não é um campo restrito a privilegiados do gênero
masculino. Viva, Ramona Fradon com seu maravilhoso talento!
(26/08/16)
(26/08/16)