31 março 2022

Música pra se ouvir com olhos e ver com os ouvidos.

Música. Ontem, hoje, agora, ainda e sempre. Gravada ou ao vivo, via rádio, seja AM ou FM, em CD original ou pirata, no MP3, no vinil, no computador, na trilha sonora de filmes, de novelas, de minisséries televisivas, de peças teatrais, no coreto da praça, na viola de um cego cantador, no repente surpreendente do repentista eminente, na tuba, na conga, conga, conga, no contrabaixo, no alto falante do circo mambembe, na flauta doce ou salgada, na gaita de quem não tem gaita, no saxofone, no violino de som fino, na rabeca da Rebeca, no oboé ou não é, no bandonione, no realejo, no fagote, no violão, na guitarra, no contrabaixo, na harmônica, no realejo, no órgão da igreja, nos atabaques dos terreiros de candombé, na chaleira do Hermeto, no prato da Edith, na caixinha de fósforos do Cyro Monteiro, no pente sem um dente, no cavaquinho, no bandolim, no banjo do arcanjo, na lira do delírio, no fole prateado só de baixo 120 botão preto bem juntinho como nego empareado, no triângulo, na zabumba, nos oito baixos de Januário, nos pífanos, no pandeiro, no reco-reco, bolão e azeitona, na cuíca, na tumbadora, no piano de cauda, no berimbau, na guitarra havaiana, na guitarra portuguesa, na guitarra baiana, plugged ou unplugged. Música, música. Chico, Caetano, Milton, Tom, João Gilberto, Baden, Gil, Bosco, Aldir, Macalé, Pixinguinha, Gal, Elis, Carmen, Dolores, Maysa, Marisa Monte, Daúde, Gal, Bethânia, Tomzé, Titãs, Mutantes com Rita Lee, Rita Lee sem os Mutantes, Cássia, Calcanhotto, Clementina, Marina,  Maysa, Raul, Chico Science, Siba, Arnaldo Antunes, Jorge Benjor, Chorão, Cartola, Nelson - o Gonçalves e o Cavaquinho - , Gonzagão, Mozart, Sivuca, Hermeto, Dominguinhos, Jackson, Genival, Manezinho, Gordurinha, Ludugero, Aznavour, Armstrong, Modugno, Amália, Sapoti, Piaff, Callas, Baleiro, Gordurinha, Manezinho Araújo, Riachão, Batatinha, Walmir Lima, Chico César, La Lupe, Chavela Vargas, Chabuca Granda, Celia Cruz, Nina Simone, Bola de Nieve, Piazzola, Lennon e McCartney, Roberto e Erasmo. Música, música. Samba, rock, baião, xaxado, xote e xoxote, maxixe e jiló, chorinho, dobrado, mazurca, jazz, tango, fado, valsa, frevo, coco, maracatu, corta-jaca, tarantela, samba-de-véio, samba-duro, samba de roda, samba-reggae, samba-rock, samba de breque, samba de black, blues, funk, bossa-nova, chá-chá-chá de la secretária, salsa, mambo, calipso, merengue, cumbia, reggae, bolero-lero-lero-lero, begin the beguine. Música, música. Até mesmo feita plasticamente, com o som fluindo de pincéis deslizando sobre uma tela carregados com tinta acrílica, como nesta pintura que fiz con mucho gusto e que resolvi usar como ilustração para esta postagem. Música, música. Excetuando-se a unanimemente indesejada marcha fúnebre, qualquer música, ah, qualquer, logo que me tire da alma esta incerteza que quer qualquer impossível calma!
(111019)

Bola de Nieve, um artista maior de Cuba / Uns caras que eu amo 7

Ignacio Jacinto Villa Fernández. Se você sair por aí perguntando quem conhece esse grande pianista, cantor e compositor cubano, certamente ouvirá sonoras negativas. Mas se a pergunta for “você conhece Bola de Nieve?”, sempre haverá os mais atentos que dirão conhecer. Bola de Nieve era o apodo dado a Ignacio Jacinto. Com ele acabou virando uma lenda de uma música de alta qualidade produzida em Cuba, que findou por apaixonar gente de todo esse planeta azulzinho. Caetano Veloso gravou canções desse grande artista cubano que sua mãe, Dona Canô, cantava para ele em sua infância, e volta e meia se refere a ele elogiosamente. Pedro Almodóvar, cujos filmes primam também pelas belíssimas trilhas sonoras, incluiu a voz única de Bola de Nieve em pelo menos duas de suas películas de sucesso, La ley del deseo (Déjame recordar) e La flor de mi secreto (Ay amor), sendo que nesse último uma frase da linda composição de Bola de Nieve integra-se ao roteiro ao ser citada por um dos personagens da trama. Tempos houve em que as canções cubanas reinavam soberanas entre os amantes da música mundo afora. Orquestras, bandas, cantores, cantoras, percussionistas, pianistas e instrumentistas diversos interpretavam mambos, rumbas, salsas, chachachás, boleros e outras maravilhas sonoras. Bola de Nieve tornou-se um mito cantando divinamente e, além do Espanhol, cantava em Português, Francês, Inglês, Italiano e até em Catalão. Seus dotes eram muitos e com eles encantava plateias mundo afora. Cantava bonito e interpretava com alma as suas canções nesses idiomas diversos, tocava piano de forma linda e bem pessoal, conversava com o púbico com empatia. E compunha canções que adentraram a História da música popular cubana e se perpetuaram. Mister se faz dizer que Bola de Nieve teve que lutar duramente contra obstáculos difíceis em sua trajetória artística, como o racismo e a homofobia. Mas sua genialidade visível na sua maneira pessoal, apaixonada e única e até teatral, de tocar o piano e interpretar canções, acabou por prevalecer e músicas que compôs ou que interpretou se perpetuaram gritando bem alto o seu talento difícil de ser igualado. No seu repertório há uma vasta quantidade de tesouros, entre tantos, para nosso orgulho pátrio, está a canção Faixa de Cetim, do carioquíssimo mineiro Ary Barroso. Dos inúmeros sucessos de Bola de Nieve vale citar canções como La Flor de la canela, Ay amor, Drume negrita, No me comprendes, Ne me quitte pas, La vie en Rose, Dejame recordar, Vete de mi, Ay Mama Inés. Fácil, muito fácil amar a Arte maior de Bola de Nieve.
No vídeo abaixo, veja quão genial é este cantante, musicante e compositante cubano, aqui interpretando uma deliciosa canção que fala de um caprino inconsequente que rompeu o tambor de um homem do povo, privando-o de seu imprescindível instrumento musical, gerando fortes sentimentos de vingança por parte do sujeito que cogita cobrar bem caro o malfeito arrancando o couro do indigitado caprino. Grande, grande Bola de Nieve.
(02/09/16)

30 março 2022

O dia triste em que comi Alcione, a marrom

 
Pindorama, além de ser o nome indígena desta Terra Brasilis, é também o topônimo que designa uma mui aprazível cidade da hinterlândia paulista. Foi dali que vieram sumidades do porte de Raduan Nassar e Marilena Chauí. Era lá que, ainda um niño de Jesus, eu vivia uma vidinha pacata ao lado dos meus amáveis genitores e irmãos. Meu pai se afastara do emprego para um longo e necessário tratamento de sua debilitada saúde e passava os dias em casa procurando ocupar seu tempo com leituras e escritos. E volta e meia inventava uma nova ocupação. A mais recente era um pequeno galinheiro que ele houvera por bem colocar no fundo do nosso amplo quintal de casa interiorana. Passei a ajudá-lo no trato com as penosas que me atraíram desde a chegada. Trazia-lhes milho, água, ração, remédios. Tão apegado a elas fiquei que decidi dar-lhes nomes da forma com que se faz aos animais de estimação. Como elas cantassem bonito, batizei cada uma com nomes de cantoras de minha preferência, Wanderléa, Vanusa, Martinha, numa sincera homenagem nascida de minha mente sem malícias de inocente infante. Minha predileta entre as preferidas era uma bem mais rechonchuda que todas as outras e que tinha porte de rainha ao caminhar no terreiro. Por ter sua plumagem num lindo tom marrom e por seu canto poderoso, dei-lhe o nome de Alcione. Seu reino, poleiro e terreiro. Ali ela agitava suas brilhantes asas marrons e cacarejava de afinadíssima forma. Uma belezura! Eis que um dia anunciou-se pelos corredores da casa a vinda de um irmão de meu pai, tio Dario, que morava em Bauru e vinha nos visitar aproveitando o feriadão gerado pelo carnaval que se aproximava. Na véspera da chegada de meu tio, mamãe anunciou que ia matar umas galinhas para um lauto almoço de boas-vindas ao ilustre visitante. Meu coração disparou. "A Alcione, não! A Alcione, não, mamãe!" . Todos riram da minha aflição. Mas o que eu temia aconteceu e minhas preferidas terminaram seus cacarejantes dias em grandes panelas a meio de uma infinidade de cebolas, alho, cebolinha picada e congêneres. Lacrimoso, inconsolável, jurei a mim mesmo não tocar nos pratos feitos com minhas amigas. Chegado o momento do ágape o aroma dos guisados e assados invadiu minhas narinas de petiz, enfeitiçando-me. Minha mãe tinha mãos divinas ao cozinhar. Em uma travessa percebi aquelas coxas maiores e mais atraentes que as outras. Eram de Alcione, eu sabia. Com gestos mecânicos puxei a travessa e servi-me generosamente do peito e das coxas. Quase em transe, dispensei os talheres e sem ligar para o preclaro visitante, enfiei meus dedos naquele peito macio e cheiroso e o levei à boca ansiosa. Ah!, prazer dos prazeres! Meus olhos então se fixaram nas coxas de Alcione. Coxas belas, roliças, de maravilhosa cor dourada e capitoso olor. Caí de boca de forma descontrolada. E novamente minha língua passeou naquelas carnes divinas. Simplesmente delirante. O apetite saciado me trouxe de volta à realidade. Caí em mim e incontinenti percebi a grave traição em que eu incorrera com aquela descontrolada e quase antropofágica conduta. Saí da mesa correndo para que não pudessem notar minhas copiosas lágrimas. Era emoção demais para meus verdes anos de vida. Em um só dia conheci os inesquecíveis prazeres da carne, vindos das coxas macias, do peito aveludado de Alcione, a marrom. Desolado descobri que sou um fraco nas minhas convicções e que oscarwildeanamente resisto a tudo, tudo. Menos a uma tentação.
(230514)

Roberto Calos, o rei. Sua vida dupla, suas manias excêntricas, e a Velha Jovem Guarda

Mesmo sendo filho do Espírito Santo, os céus não ajudaram muito Roberto Calos em sua juventude. Vindo de uma família que fazia malabarismos para sobreviver com curtíssima grana, esse cara sou eu tinha que trabalhar arduamente, sendo que era obrigado a encarar uma extenuante jornada dupla para ganhar a vida. De dia, Roberto Calos era jogador de futebol e em campo defendia uns pixulés jogando na lateral esquerda. Mal o juiz apitava o fim do jogo, Roberto Calos saía a 120...150...200 km por hora para os vestiários e ali mesmo sapecava uma peruca em sua cuca legal, vestia um terno azul ou branco, colocava um medalhão no pescoço, enchia os dedos de anéis e, na maior azáfama, ia em busca de mais uns trocados que conseguia amealhar atuando como cantor de diversas boates. Alguns, invejosos dessa sua versatilidade, insinuavam que ele não cantava banana nenhuma, que ele só urrava, daí o terem cognominado de Urrei Roberto Calos. Depois de muito ralar, RC conseguiu juntar umas economias e com elas resolveu se dedicar inteiramente à sua carreira de cantante e compositante. Vai daí, ao menos provisoriamente, desistiu de ser beque e comprou um calhambeque. Empolgado e gritando "Eu sou terrível!", saiu guiando sua caranga que não era lá uma máquina quente. Mas o moço acabou se dando mal pois parou na contramão nas curvas da Estrada de Santos e um guarda apitou. Inflexivel, o dito homem da lei tascou-lhe uma multa que quase fez o cantor perder a voz. Inconformado, o filho de Lady Laura bradou: "Querem acabar comigo!" Como o policial não se comoveu, o cantante não contou conversa e, indignado, vituperou: "Quero que vá tudo pro inferno!". De repente, se tocou que aquilo dava música. Chamou seu amigo Marasmo Calos e com sua parceria compôs um hit do iê-iê-iê que se tornou um verdadeiro hino da juventude vendendo toneladas de cópias pelo mundo afora, o que lhes trouxe muita grana cofre a dentro. Já tendo vendido mais de 100 milhões de álbuns no planeta, RC não sabe mais o que fazer com tanto dinheiro que ganhou. São milhões, bilhões e fudelhões de reais, dólares, yuans e euros que permitiram, entre otras cositas, que RC contratasse os melhores psicanalistas da praça para tentar curá-lo de algumas excentricidades e manias estapafúrdias que ele havia desenvolvido, como o fato de gostar exclusivamente das cores branca e azul, achando que as demais lhe traziam mau agouro, abominando a cor preta, o cinza, o marrom e o verde que não te quero verde, cruz-e-credo!, pé de pato!, mangalô!, três vezes!! Esse lance meio bizarro lhe trouxe problemas e constrangimentos, sendo Roberto Calos muito criticado por ter chegado ao cúmulo de dizer à Garota Marota Alcione que parasse de se insinuar para ele, afirmando que jamais iria convidá-la para jantá-la só pelo fato dela ser a Marrom.
(190514)

25 março 2022

O cartunista Biratan, o escultor Valtério e Setúbal na Ilha do Fogo .

Quando morei em Juazeiro, na Bahia, muito frequentei a Ilha do Fogo, fluvial ínsula situada bem no meio do largo Rio São Francisco, sobre a qual foi construído a quilométrica ponte Presidente Dutra. Lugar mais que aprazível, lá ia eu tentar meus tímidos mergulhos, tomar cerveja, comer surubim e ficar jiboiando nas areias claras sob o sol. Ali ciceroneei diversos amigos que lá iam me visitar e conhecer a cidade onde nasceram João Gilberto e Ivete Sangalo. Por diversas vezes recebi uma admirável dupla, o premiadíssimo cartunista paraense Biratan Porto, com seu bigode à la Nietzsche, e o perfulgente escultor baiano Valtério Sales, dileto filho de Ruy Barbosa -  refiro-me, é claro, à cidade, não ao famoso Águia de Haia em pessoa. Na Ilha do Fogo, em meio aos frequentadores habituais, gente do povo,  nos abancávamos os três em uma barraca improvisada e assim protegidos do causticante sol da região bebíamos alguns magotes de gélidas cervejotas e deitávamos falação sobre tudo e tantos. Ali, naquele espaço popular,  plenos da mais certíssima certeza, discutíamos os rumos desta nação auriverde, execrávamos seus corruptos, articulávamos maneiras de com nossas artes salvar de trágicos destinos o explorado e sacrificado povo brasileiro. Para nossa sempre renovada surpresa, sem prévio aviso, Valtério Sales livrava-se de sua bermuda jeans e, trajando uma sunguinha rosa-shocking de lycra, vistosa e despudoradamente sumária - porém preservando e mesmo esbanjando a mais viril das virilidades - nos mostrava ser ele um autêntico Johnny Weismuller redivivo.  Intimorato, com vigorosas braçadas, Valtério cruzava a todo instante as fortíssimas correntezas do São Francisco com elegância e raro destemor. Lépido e radiante, eis que Valtério mergulhava na Ilha do Fogo e ia dar lá em Petrolina. Sem descansar, célere, mergulhava em Petrolina e vinha dar novamente na Ilha do Fogo. Num átimo mergulhava de uma pedra qualquer da Ilha e ia dar lá em Juazeiro. Isto se repetia até o raiar do sol, ele mergulhando em um lugar para ir dar em outro, fazendo, com seus mergulhos, a alegria da garotada do lugar. O nobre Biratan Porto é testemunha de que o infatigável Valtério hoje morre de tristeza por saber que militares pernambucanos, talvez em comemoração aos 50 anos do golpe militar de 64, resolveram de forma reprochável proibir o acesso de moradores e civis em geral à Ilha do Fogo e destarte nosso amado escultor e cartunista está absurdamente impedido de ali, entre os ilhéus, exibir seu físico de Adonis, sua sunguinha rosa-shocking de lycra, sua invejável forma física e, pior ainda, Valtério vê tolhida sua arte aquática, sua álacre e assaz jubilosa prática de mergulhar em um recanto para ir mui alegremente dar em outro.  Lamentável, lamentável.
(060414)

Gutemberg Cruz, crítico de Histórias em Quadrinhos, falando sobre o SketchBook de Setúbal pela Editora Criativo.

Gutemberg Cruz e Gonçalo Junior, duas feras da imprensa, dois dos principais estudiosos e críticos das histórias em quadrinhos, são baianos. Para minha fortuna, ambos gostam de meu traço, de meus trabalhos como ilustrador, quadrinista, caricaturista e cartunista. Sorte minha. Esta semana, lendo o blog de Gutemberg Cruz, encontrei esta postagem em que ele comenta sobre o Sketchbook da Editora Criativo, de São Paulo, dedicado aos meus trabalhos de desenhista. A Carlos Rodrigues, da Criativo, a Gutemberg e a Gonçalo Junior meus mais sinceros agradecimentos.
Registro do artista gráfico Setúbal pela EDITORA CRIATIVO, de SP
Sketchbook é um caderno rascunho para registrar ideias e composições para posteriormente transformar em pinturas em telas ou usar outro suporte como papel e aquarela ou outro tipo de técnica. Alguns fazem os rascunhos e deixam dessa forma em cadernos. Servem para registrar a evolução do artista nos desenhos. E é isso o que a Editora Criativo está fazendo. Já lançou mais de 90 álbuns com os trabalhos de diversos artistas gráficos brasileiros.
O volume dedicado ao baiano Paulo Setúbal registrou o trabalho do artista com esboços e artes-finais em vários estágios, estilos e técnicas, tiradas de seu acervo pessoal, num flagrante não convencional de sua produção ao longo da carreira. O objetivo da coleção é formar uma grande galeria com os mais diversos estilos e traços, indo de nomes consagrados a iniciantes, incentivando o talento individual. Os álbuns têm acabamento com a qualidade, 64 páginas, papel off-set 150g, capas cartonadas com orelhas, no tamanho 21x28 cm, e mostram como cada profissional do desenho é um universo empírico e individualizado, seja ele um autodidata ou com formação acadêmica, havendo alguns pontos em comum na forma de criar e desenvolver os trabalhos.
Paulo Henrique Setúbal é cartunista, ilustrador, desenhista, argumentista, roteirista de quadrinhos, autor de textos de humor e artista plástico. Assina seus trabalhos como Paulo Setúbal ou simplesmente Setúbal. Nasceu na cidade de Candeias, na Bahia, onde viveu até os 9 anos de idade. Nesse período, as revistas de quadrinhos e o cinema eram suas grandes paixões, as primeiras inspirações e os elementos motivadores para seus primeiros desenhos. Buscando reproduzir o que via nas telonas e nos gibis, começou a desenhar e nunca mais parou. Quando seu pai, paulista de Pindorama, resolveu retornar para o interior de São Paulo, inicialmente, a família morou em Bauru por três anos. Pindorama, a terra natal do patriarca, foi o destino seguinte e ali viveram por dez anos. Com a morte do pai, a família mudou-se para a capital paulista.
 Em Sampa, disposto a fazer quadrinhos profissionalmente, buscou todas as informações possíveis a respeito dessa arte. Essa busca o levou a procurar o desenhista e editor Minami Keizi, que lhe indicou o também desenhista Ignacio Justo, de quem recebeu inúmeras e valiosas orientações que muito o ajudaram a fazer evoluir o seu desenho. Pensando em aprimorar-se, passou a cursar a Escola Panamericana de Artes, embora seu aprendizado tenha, em sua maior parte, acontecido mesmo de forma empírica.
Passando a residir em Salvador, iniciou a colaborar profissionalmente com jornais e revistas da imprensa baiana. Nela, trabalhou por mais de duas décadas, produzindo charges, caricaturas, cartuns, tiras, histórias em quadrinhos, pôsteres e ilustrações. Fez ilustrações para dezenas de livros de autores diversos. Como cartunista e caricaturista, colaborou com a imprensa alternativa, participou de diversas exposições coletivas e individuais, tendo também participado de Salões de Humor, havendo sido premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Atuando como artista plástico, fez igualmente diversas exposições, coletivas e individuais, tendo sido premiado por duas vezes com suas pinturas em Salões da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Tem telas adquiridas por colecionadores da Espanha, Portugal, França, Espanha e Itália, entre outros países do mundo.
Sobre o artista, comenta o pesquisador Gonçalo Júnior: “Setúbal é original, dono de um traço único, singular, personalíssimo. Ao mesmo tempo, traz em sua arte todo o sincretismo de raças, credos e ícones da cultura baiana e nordestina – tento de Salvador quanto do interior. Como o cordel e a xilogravura. Desde o começo de sua carreira, que ganhou ênfase nas páginas do jornal A Tarde, até a produção mais recente, Setúbal tem demonstrado talento tanto para a caricatura e o cartum como para a ilustração, para a imprensa e capas de livros e a história em quadrinhos – linguagem próximas, porém com características próprias”.
Mais informações sobre o artista, leia:
SETÚBAL: “Desenhar, para mim, é abraçar o mundo e a mim mesmo”

                   QUEM SOU Eu 
     GUTEMBERG CRUZ
Jornalista profissional formado pela Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBa em 1979. Registro Profissional DRT-BA 761. Atuou nos jornais Tribuna da Bahia, Diário de Notícias, Correio da Bahia, A Tarde e Bahia Hoje como repórter, redator e Editor de Cultura. Atuou ainda na Rádio Cruzeiro da Bahia (repórter), Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (gerente de produção), TV Itapuã (produtor) e rádios Piatã e Bandeirantes (produtor de programas). Atualmente exerce a função de Coordenador de Comunicação na União dos Municípios da Bahia.

12 março 2022

O cineasta Jim Jarmusch, o músico e cantor Screamin Jay Hawkin, Rock'n roll e Cinema.

Sou sabedor do elevado nível de inteligência e de conhecimentos gerais de vocês, preclaros leitores desse bloguito. Ainda assim, intuo que ao indagar se algum de vocês conhece ou já ouviu falar de um cara chamado Jalacy, um sonoro “não” será unânime. Talvez ajude um pouco se eu disser que Jalacy Hawkins era um negro norte-americano nascido em 18 de julho de 1929 em Cleveland, Ohio, USA. Mas a coisa seguramente mudará de figura se eu disser que Jalacy era músico de talento e cantor, idem, idem, e que ele usava o nome artístico de Jay Hawkins. Jay marcou a cena musical ianque, notadamente o rock’n roll, sendo um dos construtores desse estilo de música que é muito mais antigo do que podem imaginar os roqueiros mais aficionados, tendo esse dito estilo musical surgido da cultura negra, mantendo grandes analogias com o blues e outros ritmos negros, em que pese o fato de – Chuck Berry à parte - que os maiores ídolos sempre foram brancos, como Elvis, Jerry Lee Lewis, Bill Halley, todos muito talentosos, e outros mais, que é que se pode esperar em uma sociedade de supremacia branca. Jay era incrivelmente bom e inovador, tendo criado um estilo personalíssimo que findou por influenciar grandes estrelas do rock contemporâneo que são amados por fãs adolescentes que nos quatro cantos do mundo se descabelam por esses seus ídolos. Quem conhece e admira o canto e as interpretações de Janis Joplin, certamente reconhecerá em seu estilo intenso e vibrante a influência enorme de Hawkins. Quando cantava, Jay sabia usar sua expressividade de ator, assim, uma das suas características marcantes era uma interpretação de grande intensidade em que ele emitia gritos e grunhidos para fazer chegar, sem desvios, aos que o viam e ouviam, a sua força interior. Tão marcante isso era que ele ganhou um sugestivo aditivo em seu nome, sendo conhecido como Screamin Jay Hawkins. Ele foi um ator com considerável filmografia, já que mandava muito bem diante das câmeras. Muito boa, lúdica e profundamente divertida, é a sua atuação em Mistery Train, de 1989, bela película dirigida pelo criativamente inusitado Jim Jarmusch. O filme pode ser encontrado acessando-se o Youtube, se as coisas não mudarem enquanto faço esta postagem. O áudio é original, vez que Jarmusch exige que os áudios originais de seus filmes sejam mantidos para exibições em qualquer país, descartando o uso de dublagens. A cópia que vi tinha legendas em Italiano, o que certamente pode ajudar a compreender os diálogos originais, principalmente na parte em que dois jovens atores japoneses - um casal apaixonado por rock n'roll - dizem suas falas usando seu idioma pátrio. Uma das músicas de Screamin Jay, I put a spell on you, tornou-se um clássico e tem ótimas regravações, sobressaindo-se a versão arrasadora gravada pela não menos arrasadora Nina Simone. Esta antológica interpretação de Nina dá o clima exato a uma cena dramática do filme A balada de Jack e Rose - de Rebecca Miller, com Daniel Day-Lewis e Camilla Belle - em que a protagonista, uma adolescente às voltas com paixões marcantes, o florescer de sua sexualidade e com emoções delicadas de se lidar, tem seus longos cabelos cortados em uma sequência que vai mostrando as madeixas caindo em câmara lenta ao som da voz de Nina entoando a música de Screamin. Garimpem este belo filme de Jim Jarmusch, Mistery train, no Youtube ou em outro sítio da web, e deliciem-se com esse vídeo, vendo e ouvindo o grande, o magnífico, o inigualável Screamin Jay Hawkins.

11 março 2022

Cinema: Jim Jamusch e Mistery Train, um tesouro disponível no YouTube.

Arte e deleite estão sempre muito bem combinados nos filmes de Jim Jarmusch, cineasta norte-americano que, entre outras cositas, optou conscientemente por abrir mão de ganhos milionários dos produtores de filmes de Hollywood, preferindo ser livre em suas criações, seguindo, com as próprias pernas e mente, a trilha do cinema dito independente, desatrelado aos ditames dos bigshots hollywodianos, o que o salvou de ser apenas mais um cineasta fazedor de parte dessas toneladas de  filmes previsíveis que há décadas seguem fórmulas manjadas que lhes garantem substanciais lucros nas bilheterias dos cinemas do mundo. Melhor para o público do chamado cinema de arte, que pode se deliciar vendo Jarmusch imprimir sua criatividade nos seus belos e instigantes filmes. Uma outra coisa, nascida das idiossincrasias de Jim, é que o cara não permite que filmes seus sejam exibidos dublados em país nenhum, exigindo que seja mantido o áudio original de cada um de seus trabalhos fílmicos. Não tenho notícia de outro cineasta e produtor que aja assim, principalmente sendo um ianque. Essa semana, procurando no Youtube algum vídeo mostrando o incrível músico e ator Screamin Jay Hawkins, terminei encontrando um filme no qual ele participa, atuando com brilho, justamente sob a batuta de Jim Jarmusch. Trata-se de Mistery Train, rodado em1989, que se apossa bem a propósito do nome da canção que um dia Elvis Presley gravou, e que integra a bela trilha sonora do filme. Um trem chegando e partindo conduz personagens, colocando-os e retirando-os de cena. Em seus passos pelas ruas de uma Memphis, cidade do Tennessee, urbe famosa por haver sido local de morada do Rei do Rock, esses personagens deparam-se com a realidade de uma cidade que viu ficar para trás seus faustosos dias de glória, em que abrigava grandes astros da música, inclusive The King, Elvis. A câmera de Jim mostra uma Memphis que agora exibe um melancólico aspecto desgastado, muitos prédios em ruínas, já bastante castigada pelo tempo e pelas mudanças nesse mundo, mundo, vasto mundo moderno. Em certa medida, é possível fazer alguma analogia com Anônimo Veneziano, filme italiano de 1970, em que Salerno, seu diretor, faz uso de imagens de uma Veneza decompondo-se, decadente, servindo de paralelo para narrar a história de um amor que se esvai, marcado por um trágico e inevitável destino reservado ao par romântico da trama. Em Mistery train, lançando mão de uma trilha sonora recheada de rocks, baladas e blues, com direito à doce Blue Moon, Ray Parkins, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison, Jarmusch nos conduz por quatro histórias que ao princípio parecem separadas, independentes, com cada personagem vivendo seus sonhos, frustrações, angústias e dramas pessoais. Mas Jarmusch é Jarmusch e nos prepara surpresas com sua câmera, ora parada, ora se deslocando lentamente, enfocando bares, lanchonetes e hotéis em tomadas que lembram quadros pintados por Edward Hopper, pintor ianque que em suas telas congela momentos insólitos, em cenas que exibem ambientes plenos de solidão e mistérios. Sempre se valendo de bons parceiros, nesse Mistery Train Jim conta, como em diversas outras películas suas, com a participação de notáveis, tais como Steve Buscemi e John Lurie. Dois atores japoneses estão muito bem como o jovem casal nipônico que vem a Memphis realizar o sonho de suas adolescências, que é vivenciar o mesmo ambiente que seus ídolos musicais dos anos sessenta, como Elvis, viveram boa parte de suas vidas, incluindo aí cenas do lado externo da lendária Graceland, hábitat em que vivia The Pelvis. Voltando a essa lenda do rock, Screamin Jay Hawkins, o músico e ator, com seu vistoso blazer e gravata vermelhos, está impagável como o recepcionista do Arcade Hotel, em que se passa a maioria das ações do filme, atuando ao lado de Cinqué Lee, irmão de Spike Lee. Fiquem sabendo vocês, leitores fiéis, essa jóia cinematográfica é encontrável gratuitamente no Youtube que, entre tantas midiotices postadas por um magote de gente de cérebro, digamos, pouco brilhante, nos presenteia com tesouros como esse e outros filmes de Jim Jarmusch.
(060917)

08 março 2022

Jim Jarmusch, Coffee and cigarrettes, claquetes e muita fumaça.

Humanos prazeres são por vezes de difícil entendimento e aceitação para os que deles não desfrutam. Mas não há como negar o intenso e inebriante deleite que se adivinha por trás das expressões oriundas das faces daqueles viventes que fazem do hábito de desfrutar um cigarro depois de um café – e de um café antes do cigarro – um ritual sagrado, inadiável, inigualável, único para essa galera. Um turbilhão de prazeres nascendo de momento que aparenta ser de total banalidade, um vício saudável, diriam tais rubiaceasófanos e tabagísticos viventes. Jim Jarmusch, um dos meus cineastas norte-americanos de estimação, aborda, no mais colorido dos pretos e brancos, essa temática em seu Coffee and cigarrettes, filme lançado nos EUA em 2003. Nele, Jim vale-se de sua câmera e de uns poucos planos, de diálogos inteligentes, aparentemente despretensiosos, sempre oscilando entre o prosaico e o nonsense, ditos com propriedade pelas bocas de atores expressivos, que dominam o seu ofício de atuar. Mesmo os que como eu não fumam, nem bebem café com a sofreguidão dos personagens, certamente se regozijarão com as interpretações de astros como Roberto Benigni, Iggy Pop, Tom Waits, Bill Murray e tantos mais. Jarmusch capta o momento íntimo e aparentemente banal, em que personagens dividem seus cafés e cigarros sobre mesas cobertas com indefectíveis toalhas quadriculadas, e aí ele mistura ficção com realidade, vez que os atores entram em cena assumindo serem-se as pessoas que de fato são na dita vida real, atores mais que consagrados e, no entanto, seguindo o script escrito por Jarmusch, dizem coisas e vivem situações nas quais mostram um incômodo arsenal de defeitos de caráter, comportamentos desabilitados de figurar em manuais de boa conduta, em que pitadas de prepotência, arrogância, maledicência e desdém entram em cena, ao lado de ingenuidade, de simplicidade, da boa-fé, de sentimentos edificantes. Uau! O resultado é que isso evidencia um humor sutil, raro, pouco encontrável nas telinhas e telonas do mundo, os diálogos são divertidos, especialmente os protagonizados por Murray, Iggy e Waits. Molina e Coogan. La donna è móbile e a internet é ainda bem mais, então quem quiser assistir, encontrará, ao menos por ora, o filme no Youtube, com áudio em Inglês e legendas em espanhol. Eu, que um dia haverei de ser um poliglota, tiro de letra e assisto de boas, que dirá você, meu scholar leitor.
(09/06/18)

07 março 2022

O Brasil no traço do maravilhoso Percy Lau


Aqui neste bloguito já postei um texto-exaltação em que me alonguei tecendo loas ao estupendo desenhista Percy Lau, uma das minhas maiores paixões pictóricas. Os desenhos acima mostram o porquê. Nascido no ano de 1903 em Arequipa, no Peru, Percy mudou-se para o Brasil em 1921, ou seja, ao 18 anos, certamente com a alma transbordante de sonhos, que em nosso país ele soube tornar realidade.  Aqui ele se naturalizou e com seu talento raro transformou-se em um dos maiores brasileiros que esta terra encontrada por Cabral já teve a honra de conhecer. Sua obra marcou profunda e positivamente minha infância. E certamente marcou também a de milhões de brazucas que tiveram a felicidade de ver os deslumbrantes bicos-de-pena que Percy fazia para o IBGE e eram reproduzidos nos didáticos livros de Geografia adotados pelas escolas da Pátria. Bicos-de-pena de deixar qualquer um boquiaberto, feitos com o apoio de um belíssimo e preciso trabalho fotográfico, mostram aos brasileiros como era - e em muitos aspectos ainda é - o nosso Brasil do Oiapoque ao Chuí. Quem leu tais livros para aprender coisas sobre nossa Pátria, foi além disso pois viu a cara exata de nosso Brasil, um Brasil mostrado por inteiro, traduzido pelos olhos, mãos e coração de um artista com alma verdeamarelaazulebranca a quem devemos reverenciar eternamente, 
(06/12/14)

06 março 2022

Percy Lau, o Brasil, o Peru, o IBGE


Meu primeiro alumbramento não foi nenhuma manuelbandeiriana moça nua banhando-se em inocente despudor. Foram o cinema e os desenhos. Mal largara a mamadeira, eu já era fã ardoroso dos geniais Flavio Colin e Will Esner. Mas havia um cara cujos desenhos eu ficava horas olhando, embevecido. Um desenhista que nunca vi ser citado por qualquer dos grandes artista do traço. Seu nome, Percy Lau. E a quem se disponha a perguntar que personagem ele fazia, em que revista desenhava, vou avisando que os desenhos de Percy, que tanto me encantavam, eram publicados em didáticos livros de Geografia adotados oficialmente nas escolas. Eram bicos-de-penas fantásticos que mostravam cenas, cotidiano, folclore e tipos do Brasil e desnudavam aos meus olhos infantes essa pátria, esse povo brasileiro. Vaqueiro do Marajó, Aguadeiro do São Francisco, As cachoeiras de Paulo Afonso, O gaúcho, A baiana vendendo acarajé, Seringueiros, A Caatinga, A floresta atlântica brasileira. Tudo feito com maestria e um evidente, incontestável e desmesurado amor por este país, que me causava espécie. Ainda mais quando descobri que Percy não era baiano, carioca, paulista, potiguar nem capixaba. Ou era tudo isso, vez que nascera em nuestro hermano Peru e adotara o Brasil como sua pátria onde era funcionário contratado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, sob incumbência do qual traçava com suas abençoadas mãos o retrato mais que perfeito deste povo, desta terra. Seguramente ele ia além do que lhe era exigido. Em cada hachura sua, em cada pontilhado mostrava e despertava amor pelo Brasil. Esse mesmo Brasil, do qual sempre se diz ser um país injusto e sem memória, tem uma dívida enorme para com Percy Lau. É mais que hora do IBGE valorizar o tesouro que tem e a própria excelência da Instituição, que teve a competência de produzir um trabalho, um registro importante assim, chamando pessoas tão gabaritadas quanto Lau para executá-lo. É oportuno editar um livro que mostre a grandeza de Percy , parte fundamental deste projeto. Não falo de um livro como o que comprei em um sebo, Tipos e aspectos do Brasil, do próprio IBGE, com um pequeno parágrafo falando desse brasileiro nascido na urbe de Arequipa, e sim um que enfoque Lau e que mostre, além dos seus maravilhosos trabalhos, quem era o homem, além do funcionário dedicado, um grande artista brasileiro, nascido casualmente em terras distantes, como tantos. Um álbum à altura do fantástico Percy Lau. E uma exposição significativa com seus magníficos desenhos, que seja itinerante e que possa mostrar às pessoas desse país sua Arte fantástica. Há pouco se deu o centenário de nascimento dele, é oportuno. E se no IBGE não tiver gente consciente e de competência para tal, que a Embaixada do Peru acorde e tome a si a responsabilidade, numa iniciativa que mostre que os peruanos produzem tesouros com admirável talento artístico. Ou qualquer boa editora, historiadores dedicados ou amantes da boa arte em geral. O importante é dar visibilidade ao talento de um soberbo artista e à sua produção tão intrinsecamente ligada às raízes populares brasileiras, feita com amor, paixão, zelo e carinho por este país verde, amarelo, azul e branco. Um homem iluminado, um anjo com uma pena na mão e um Brasil nos olhos, na cabeça, no sangue, na alma. Um artista fantástico que nos ensinou a todos a enxergar, a conhecer, a entender e a amar mais e melhor esse auriverde país.
(10/10/12)