04 novembro 2018

Wladimir Maiakóvski, Fernando Pessoa, Caetano Veloso e um certo Edu. Pequenos equívocos sobre grandes poetas / Parte 1 de 2

Foi por saber que erra e erra muito, que desde os tempos de Sêneca o homem criou para si o axioma “errar é humano.” Isso parece dar a ele, na verdade a todos nós, seres humanos, certa “licença poética” para incorrer em erronias e equívocos, uma, duas, algumas vezes. Dá-se que muitos abusam da sua salvaguarda para cometerem sucessivos e incontáveis erros, erros à mancheia, que faz o povo pasmar. Dos errinhos pequenininhos, quase imperceptíveis, aos mais grosseiros e paquidérmicos. Uma vaga imensa deles, um tsunami, deslizes de todos os calibres, pesos e medidas, em todos os tipos de assuntos, a começar pelos mais prosaicos. Até mesmo equívocos que versam sobre a Cultura, o que torna tudo mais estranho, pois é de se acreditar que se uma pessoa resolve transitar pelos terrenos culturais, presumível é que essa dita pessoa haja se preparado para emitir opiniões consistentes, embasadas, procedentes, verdadeiramente cultas, como se pretendem. Na prática, isso é diferente, por vezes, muito, muito. Por exemplo, uma considerável parcela dos leitores brasileiros sabe muitíssimo bem que o poema No caminho com Maiakóvski foi escrito pelo poeta vanguardista russo Vladimir Vladimirovich Maiakóvski. Orgulham-se de saber disso. Jactam-se por sabê-lo. Mas... não, o poema não foi escrito pelo grande poeta russo, é da autoria de um poeta brasileiro chamado Eduardo. E não me perguntem como é que alguém, conhecido pelos amigos mais próximos como Edu, tenha podido escrever em 1964, em plena era de chumbo, um poema tão denso, tão forte, tão belo. Digno de um Maiakóvski. Pois Edu, Eduardo Alves da Costa, fez isso. E as pessoas, ainda hoje, mesmo sendo alertadas sobre o equívoco, mesmo sendo esclarecidas sobre quem é o verdadeiro autor do poema, insistem em dizer que ele é de Maiakóvski. Deliberadamente, persistem no erro. Errar pode ser desumano. Ainda no terreno da poesia, as pessoas insistem em atribuir ao maravilhoso Fernando Pessoa a criação da célebre frase “Navegar é preciso”. E não param por aí, de quebra, dão a Pessoa uma luxuosa parceria com o compositor baiano Caetano Veloso, na música Os argonautas, um fado belíssimo, pungente, capitoso, que é um deslumbre escutá-lo, muito especialmente na voz de certas cantoras lusitanas que o interpretam com o coração de fadista, coisa de arrepiar. 
A canção é maravilhosa, a letra é um deslumbre. Mas as coisas são um tanto diferente do que supõe alguns, como bem podemos ver na parte 2 deste post.