27 fevereiro 2019

A Bahia e a dita dura ditadura que perdura.

Houve uma Bahia que comportava toda a felicidade que o ser humano pode alcançar nesta existência. Jorge Amado, nosso bardo maior, ao som do violão de Caymmi, cantou aos quatro cantos do mundo esta ventura. E pessoas vinham de terras distantes para aqui encontrar cada uma sua estrela-guia. Mas chegaram os anos de chumbo, a era das trevas que se diziam luz. Vinte longuíssimos anos depois de uma ditadura militar truculenta e sufocante nos costados, ficou a incontida tristeza de nos defrontarmos em todas as partes com um desfile de fascistas de todos os calibres, restou-nos um país com um profundo e grave apartheid social e com ele os guetos, a miséria inaudita, a violência que nos atinge a todos, a constatação flagrante da impunidade, a insegurança geral, um viciado sistema eleitoreiro onde incontáveis infames se revezam nos cargos. Aqui, nesta terra Bahia, houve resistência a tão terríveis algozes e pessoas que deram suas vidas lutando contra eles. Gente que já antecipava as mazelas que viriam e a grave situação de injustiça que cá vinha se instalando. Mas houve também por aqui magotes de sórdidos, venais e arrivistas travestidos de políticos, trazendo a reboque seus séquitos de asseclas que ajudaram a canalha retrógrada a nos trazer a sombra, a dor, o medo. E muito do ruim há em nossa volta. Não obstante, há no âmago do povo desta terra, Boa Terra, algo inescrutável que nos faz seguir em frente com a fronte erguida e um sorriso nos lábios. E ainda que tão dessemelhante de nosso antigo estado, Gregório, a Bahia ri e dança e ama e passeia e vive a vida com intensidade mostrando que nossa vocação mais genuína e legítima é a felicidade que nos brota espontaneamente d'alma. Procuro captar um pouco disto quando caminho pelas praias, ruas, becos, vielas e ladeiras de Soterópolis -que é o outro nome dessa cidade de Salvador- e intento, em telas pintadas com tinta acrílica, transmitir essas particularidades e as cores vivas e alegres dessas nossas almas baianas, como nessa pintura que ilustra esta postagem mostrando um momento de descontração praieira do povão soteropolitano.
(050513)

Florbela Espanca, a grande poetisa portuguesa e seu amor ainda maior / Umas minas que eu amo 3

Você, gentil e castíssima leitora, já amou alguém com todas as forças de sua delicada almazinha? Já sentiu no seu âmago as mais inebriantes sensações por alguém, um sentimento que, vencendo sua vontade pessoal, suplantando suas forças, se tornou inevitavelmente algo fanático? Acha difícil confessar isto até à sua mais fiel confidente? Não consegue falar, sequer escrever sobre algo tão íntimo, tão pessoal e revelador? Pois leia estes versos do poema "Fanatismo", da poeta portuguesa Florbela Espanca escritos, para quem bem os quisesse ler, ainda em meados dos século 20: "Minh'alma de cantar-te anda perdida, meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão de meu viver, pois que tu és já toda a minha vida!" Soou familiar aos seus delicados tímpanos? Pois saiba que o compositante cantante gritante, Fagner, musicou lindamente, cantou e gravou tais versos em um disco e se sua gaia pessoinha não conhece a obra de Florbela há de ter conhecimento desta belíssima canção e, em momentos em que sente o romantismo tomar conta do seu mais que sensível ser, há de entoar-lhe os belíssimos versos  que são de autoria desta maravilhosa portuguesinha que não viveu mais que 36 anos. Florbela não se envergonhava de seus sentimentos, suas paixões, seus desejos. Antes os gritava alto, bem alto, numa época de moral repressiva em que tudo era tabu e sujeito a punições abjetas. Cantava o amor real, verdadeiro, e decifrava a própria alma ultrapassando os limites do mero erotismo em versos perfeitos construídos com segurança e delicadeza por quem dominava os segredos da melhor poesia. Recolhi algumas frases da bela alentejana e repasso aqui, admirador que sou: "Olhos a arder em êxtases de amor, boca a saber a sol, a fruto, a mel: sou a charneca rude a abrir em flor!" ( Charneca em flor ), "No divino impudor da mocidade, nesse êxtase pagão que vence a sorte, num frêmito vibrante de ansiedade, dou-te meu corpo prometido à morte!" ( Volúpia ), "As tuas mãos tateiam-me a tremer...meu corpo de âmbar, harmonioso e moço é como um jasmineiro em alvoroço ébrio de sol, de aroma, de prazer!" ( Toledo ), "Meu amor! Meu amante! Meu amigo! Colhe a hora que passa, hora divina, bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!" ( Passeio no campo ), "Meus pequeninos seios cor-de-rosa, se os roça ou prende a tua mão nervosa, tem a firmeza elástica dos gamos..." ( A tua voz na primavera ). Muitas mulheres inexoravelmente sentiram sentimentos quejandos. Mas traduzi-los com esta precisão, lirismo e coragem, só mesmo esta bela flor, Florbela.
(280114)

25 fevereiro 2019

Cau Gomez, Nildão e Setúbal rodando a baiana com Fernando Guerreiro no Roda Baiana.

Cau Gomez, Fernando Guerreiro, Nildão e Setúbal em um papo descontraído no programa RODA BAIANA, da Rádio Metrópole.

Um dos muitos pontos em comum que me unem a Nildão e a Cau Gomez é o cartum. Mas há o modo de enxergar as particularidades do mundo, as ideias políticas e sociais, a vontade grande de se expressar através das artes, a busca por uma evolução mais que positiva enquanto artistas e enquanto seres natos nesta terra brasilis de tantas e tão variadas discórdias, incomensuráveis equívocos, extremadas violências, preconceitos e injustiças miles. Em um momento política e socialmente tão catastrófico como o que nos enfiaram, a postura diante dos fatos vindas de um grande lote de amigos me enche de pesar e formidáveis decepções. Em contrapartida tenho consciência de que é uma sorte das maiores, uma inestimável fortuna, poder ter amigos assim como Cau e como Nildão, pessoas atentas, esclarecidas, com almas luminosas, caras com a capacidade de ver com clareza o que os muitos nefastos buscam embuçar nas sombras. Ambos sabem traduzir em desenhos ou em palavras o que lhes vai em suas mentes e corações. Ajo com a necessária sapiência ao procurar escutar o que dizem em nossos papos, cônscio de que isso me motiva a rever muitos conceitos meus que carecem de revisão, a buscar ter outros olhares sobre as coisas, examiná-las sob outros pontos de vista, a pensar melhor as coisas do mundo, enxergar de forma mais límpida e despida de preconceitos a dita aventura humana na Terra. Ontem nos reunimos os três em um programa radiofônico sob o comando de Fernando Guerreiro, consagrado diretor teatral, notável multimídia. Guerreiro nos convidou para irmos ao programa que apresenta, RODA BAIANA, na Rádio Metrópole, para no estúdio batermos um papo sobre as coisas da profissão. E como esta profissão tem como característica envolver o que acreditamos em termos políticos e sociais, aproveitamos para mostrar nossa visão diante das coisas deste mundo, mundo, vasto mundo. No papo abordamos temas como preconceito de cor e étnico, a misoginia, a questão LGBT, a crise nas mídias impressas e coisas outras que permeiam a vida de todos nós, brasileiros. Tudo foi devidamente registrado para a posteridade pela produtora Babi, em fotos que ora repasso pra vocês, meus amáveis e idolatráveis leitores.  
Cau Gomez, cartunista e caricaturista maior, artista plástico e gráfico, torcedor do Atlético Mineiro, o qual segue amando com fervor, afinal o Galo não tem culpa se um seu boleiro desmiolado vestiu, literalmente, a camisa 17 do coiso.  
Nildão, artista gráfico consagrado, cartunista premiado, incensado escritor de haikais.
Setúbal, cartunista, caricaturista, artista plástico e canastrônico galã em muitas lacrimosas novelas mexicanas.
250219

21 fevereiro 2019

A visão da imprensa na época de Antonio Conselheiro e a mídia atual.


Eu e o sertão, esse sertão tão dentro de mim, eu tão urbano. Aprendi a gostar deste tema graças aos filmes de Lima Barreto e Glauber Rocha, aos magistrais desenhos de Flavio Colin e de Percy Lau. Esta ilustração em bico-de-pena fiz para um livro já publicado que mostra como a imprensa da época via e retratava Antonio Conselheiro, tratando-o como um antimonarquista perigoso, um insidioso fanático e ardiloso, um sanguinário ensandecido e cruel que punha em perigo a estabilidade política e social do Brasil. Deu no que deu: um banho de sangue para Hitler e Stalin nenhum botar defeito, ligado para sempre à História do Brasil. Tanto ódio, tanta ira, tanto preconceito, visão distorcida e malsã, tão desmedida incitação à violência e a perseguições aniquiladoras insertadas pelos ricos e influentes donos da mídia, culminaram numa gigantesca e cruel tragédia que fizeram do beato um mártir eterno e deixou na história de nosso país essa mácula indelével, vergonhosamente abjeta. Fica o exemplo para que, nos dias atuais, procuremos todos avaliar melhor as posições da mídia, quais os reais interesses por trás do que veiculam, das campanhas por vezes implacáveis que movem, que ocultam inconfessáveis intentos e lamentavelmente findam por nos induzir a equívocos irreparáveis e armadilhas abissais. 

18 fevereiro 2019

Toda mulher encalhada tem razões de sobra para ser feliz.

Solteirona, sim. Mas numa boa!
Fiel leitora, tá certo que você não seja lá nenhuma Gisele Bündchen. Que, pra falar a verdade, você tem dentes tortos e amarelados, mau hálito, buço espesso, joanetes, varizes, estrias e montanhas de celulite. Mas e daí?! Estes detalhes insignificantes não são motivo para você ficar chorando copiosamente, desolada, pensando que, pelo simples fato de ser uma tremenda baranga, um verdadeiro dragão, a homaiada não vai querer nada, nadinha com você. Melhor, muito melhor assim, acredite, doçura. Saiba você, barangosa amiga, que os homens, esses sórdidos incorrigíveis, costumam ter defeitos bem piores que os da mais imperfeita das mulheres e é preferível estar só do que mal acompanhada, que mais vale ouvir comentários de que você ficou pra titia do que ter o dissabor de passar o resto da vida ao lado de um Zé Mané qualquer, aturando aquelas insuportáveis manias típicas dos machos da espécie.
Em seu benefício e o de todas as mulheres, listamos aqui uma série de defeitos comportamentais exclusivamente dos homens para provar definitivamente que não vale a pena você juntar-se a um safado desses, sendo bem melhor viver sozinha, desfrutando de uma feliz e prazerosa existência de solteirona. 

Um homem, uma mulher... e um W.C.
Seguindo uma antiga tradição machista criada para enlouquecer as mulheres, os homens quando vão ao banheiro para fazer o number one, jamais levantam a tampa do assento do vaso e ela acaba toda batizada. Então quando você, toda charmosa, entra no banheiro para fazer aquele xixi básico de princesinha de conto de fadas, depara-se com aquele tsunami amarelado de odor terrível, horror dos horrores. Aí, é claro, você faz a coisa mais sensata e racional que uma mulher equilibrada deve fazer em um momento desses, que é dar nos ouvidos do calhorda uns estrondosos berros carregados dos palavrões mais ofensivos. Ele, na maior desfaçatez, vai fazer pose de inocentíssimo e com a mais lambida cara de vítima, dirá que você anda muito, muito estressadinha. 

De príncipe a rei... do desleixo.
 Sendo mulher, você é uma romântica incorrigível. Um belo dia, por sei lá quais enganos e equívocos, fica achando que um sujeito qualquer é o seu príncipe encantado e, cheia de ilusões, casa-se com ele. Pobre amiga! Depois de um tempo, você se dá conta que ele foi perdendo todo o charme que você enxergava nele, que foi ficando careca, barrigudo e andando com a barba sempre por fazer. Enfim, deixou de ser príncipe encantado e virou um similar do Shrek, um tremendo ogro. 

Sim!, ele é o maior... o maior engano da sua vida!
Na fase do namoro o homem porta-se como um cavalheiro, abre a porta do carro para você, cobre sua tão charmosa pessoinha com as mais olorosas flores e lhe leva para passear por recantos paradisíacos, maravilhosos. Depois de casado ele dá mostras do sujeito imprestável que é, vai se acomodando e quando não está entornado engradados de cerveja, fica no sofá da sala vendo futebol na TV ou no quarto, roncando de forma insuportável, ou zanzando pela casa, só de cuecas e meias furadas, soltando sonoros flatos e azedíssimos arrotos. 

É a mãe! É a mãe!
Os homens, delicada amiga, são muito mal educados e um belo dia, querida leitora, este grosseirão inconcebível ofende sua idolatrada mamãe, aquela santinha sem máculas, a melhor entre todas as sogras, chamando-a de jararaca velha. Tudo porque ela, pessoa experiente e sábia, fundamentada em sua elevada sapiência, disse umas necessárias verdades para o calhorda. Ao ouvir tais disparates contra sua imaculada genitora, você retruca dizendo que a mãe dele, sim, é que é uma cascavel com chocalho e tudo. E a pancadaria rola solta na casa de Noca. 

Como virar uma mocreia sem sair de casa.
Para manter seu corpo sarado, um bumbum empinado e aquela cinturinha de tanajura, você gasta  uma nota preta e se submete a uma sacrificante rotina, sofre horrores em exaustivos exercícios nas academias. Aí vem um pilantra com uma conversinha mole, cheia de promessas vazias e você, a inocência personificada, cai no papo do safado. Quando um dia você finalmente cai em si, percebe que sua barriguinha antes sarada agora está parecendo uma borracharia de beira de estrada, com montes e montes de pneus em tudo que é lugar, seus cabelos e unhas estão um lixo, sua pele parece uma lixa número 5. Ainda por cima, sem que você se desse conta, o vagabundo encheu você de filhos, e os pirralhos passam o dia depredando aquele imóvel que você julgava ser seu inviolável lar ou agarrados à sua saia por todos os cantos da casa. Um desses pirralhos está com a fralda cheia de caca, outro engoliu metade da garrafa de detergente pensando ser refrigerante, outros dois querem mamar em seus peitos, agora já bem caídaços, por sinal. Enquanto isto, alegando que não suporta mais tanto barulho, o sacripanta diz que vai dar uma caminhada para relaxar e se manda direto para um boteco pra encher a cara com aqueles amigos debilóides de Q.I. iguais ao dele. E quando passa uma periguete cheia de curvas, peitões e um bumbum tamanho GG, ele diz: “Isto é que é mulher e não aquela mocreia que eu tenho lá em casa!”

Em calhando...
Amiga querida, agora que você já está consciente da verdade sobre os homens, jogue fora seu lencinho encharcado por lágrimas derramadas em vão. A viver sua vida ao lado de um verme desses, é preferível vivê-la só, docinho. E que se danem as línguas maledicentes das vizinhas fofoqueiras, falando pelas suas costas que você é uma tremenda solteirona, uma encalhada. Solteirona, sim, encalhada, sim, mas por opção própria. E muito, muitíssimo feliz, por sinal! 
                            ( 17/02/13 )

15 fevereiro 2019

Ary Barroso, Bahia, praias, povão, celebração da vida.

"Bahiiiia, terra da felicidaaaaaaaade...". Quem mora aqui neste afro-baiano torrão, para se mostrar grato com o que a natureza generosamente nos lega, cotidianamente deveria acordar cantando a plenos pulmões os versos do baianíssimo mineiro Ary Barroso. Principalmente pelas praias, o mar azulzinho e o céu de irisadas nuvens que temos por aqui e que sabemos tão bem aproveitar, não perdendo nenhuma oportunidade de nessas praias comparecermos para curtir os raios de sol, bronzeando-nos ainda mais do que a natureza já nos bronzeou, batendo um papo, bebendo umas cervejotas geladísfsimas, água de coco tirado de algum coqueiro que dá coco, onde amarramos nossas redes nas noites claras de luar e em solares jornadas, também sorvendo capitosas caipiroskas de siriguela, kiwi, umbu-cajá ou qualquer boa fruta da estação, comendo afrodisíacas lambretas, que inspiram qualquer vivente a fazer ousadia, idem e ibidem saboreando caranguejos e peixes assados, acarajés, abarás e o que mais vier, mergulhando e admirando o mais matizado pôr do sol. Existem sujeitos e sujeitas de outros estados brasileiros mui equivocados, curtos de ideias, superficiais e assaz preconceituosos, que interpretam o habitual carpem diem baiano como sinal de ojeriza ao trabalho, quando em verdade é uma questão de sabedoria de quem também, como qualquer brasileiro, enfrenta sua árdua faina diária pela sobrevivência, mas que nos momentos propícios - e aí não importa o dia da semana, até mesmo na tão famigerada segunda-feira - sabe desfrutar do que a Mother Nature nos regala a nós outros com desprendida generosidade. Ilustro esta postagem com uma pintura que fiz em tamanho 20x22 cm, mostrando uma singela cena familiar à beira-mar, que é pra rimar e inveja causar a quem é de outro lugar e porventura a olhar. Uma cena comum de nossas praias que fotografei com minha Rolleiflex modelo acrílica sobre tela.
(25/04/14)

13 fevereiro 2019

Festa de Yemanjá na Bahia, aniversariantes ilustres e os mais notáveis amigos.

Da esquerda para a direita, mas não ideologicamente: o cartunista Café, aniversariando, o notável e intimorato cartunista Cau Gomez, o mix de empresário e Juiz Federal de alto calibre, Getúlio Soares, and me, Setúbal.
José Carlos Café, um dos cartunistas que aniversariaram no dia 2 de fevereiro. O outro, para nosso pesar, fez forfait.
 Devidamente paramentado com as cores de Yemanjá levei-lhe uma rosa branca simbolizando meu amor por ela e pelas tradições de uma Bahia que aprendi a amar com devoção, principalmente devido a Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé.

A passos largos vou andando a caminho de uma das praias do Rio Vermelho, determinado a levar meu presente para a Rainha do Mar. Em meus ouvidos, por todo o trajeto, vai ecoando, potente e estentórea, a voz privilegiada de Dorival Caymmi: "Dia 2 de fevereeeeiro, dia de festa no mar, eu quero ser o primeiro a saudar Yemanjá". Ao meu lado, segue meu amigo, o cartunista Café que, por sinal, faz aniversário precisamente nesta data magna da fé afro-baiana. Curiosamente, além dele, o cartunista Nildão também aniversaria no dia 2 de fevereiro, veja você, leitor amigo. Anos seguidos levei meu abraço a Nildão, que no dia dedicado a Yemanjá, em comemoração natalícia, costumava abrir as portas de sua cobertura no Red River para receber amigos para um papo da mais elevada categoria, bebidas revigorantes e deliciosos canapés na base do petit comité. Em sociedade, tudo se sabe. Isso se iniciava pelas manhãs, estendendo-se até às tardes quando, então, partíamos para encontrar pelas ruas amigos outros que participavam da festividade da Rainha das Águas. Uma alegria atrás da outra, agradáveis encontros com amigos de fé, irmãos, camaradas. Não foram poucas as vezes em que, em tais recepções compareci para abraçar Nildão, um amigo pra lá de porreta. Vários anos de festejos depois, deu-se que ele resolveu diversificar e já não recebe seus amigos em casa, como antes, sendo que agora toma outros rumos, só vai a chás dançantes onde não sou convidado, e eis que ficamos sabendo só dias depois do consummatum est. Um nosso antigo amigo comum, habitué das festas nildãonianas, em tom lamentoso e um tanto ressentido de não poder estar com o amigo querido, queixou-se a mim: "Setubál, fomos limados da festa do Nildão". O resultado é que este ano nem ver eu vi o cidadão Josanildo Lacerda para o costumeiro amplexo fraternal. Não o vi, mas mui felizmente, em contrapartida vi o outro aniversariante do dia, meu querido brou José Carlos Café. O ano passado marcamos e, juntos, lá fomos ao Rio Vermelho levar rosas para Yemanjá. Neste ano repetimos a dose pelo segundo ano seguido, sendo que aqui na Bahia este segundo ano bisado significa que inauguramos uma nova tradição, nesta terra de tantas tradições que atravessam décadas e décadas. Para aumentar nossa alegria, amigos chegadíssimos chegaram para dividirmos mesa, cervejas, moelas e bolinhos de bacalhau com um molhinho de pimenta divino e um papo mais divino ainda. Entre esses chegados, tive a felicidade de abraçar um cara que eu já não via há um bom tempo, o fantástico cartunista Cau Gomez, gente da minha querência. Aproveitamos para colocar o papo em dia. Para ampliar tantos momentos de felicidade, pintou no pedaço outro amigão, Getúlio Soares, célebre fundador da revolucionária livraria Literarte, onde foi partner de Nildão. Mais amigos e amigas foram chegando, chegando, e tudo foi perfeito. Fechamos com uma visita à rua Fonte do Boi, onde o som corria solto e me surpreendeu o vasto número de pessoas participando da festa. Fico me perguntando o porquê de tanta gente, em grande parte vinda de diversos recantos do país. Talvez porque a Bahia ainda seja uma terra que se mostra uma resistente reserva de fé e alegria em tempos tão bicudos como os que ora atravessamos, e por aqui, malgrè tout, ainda é possível para as pessoas se motivarem a se livrar de dores e atribulações dançando ao som de músicas com jeito de despretensiosas, comemorar a vida, se olhar nos olhos, manifestar a amigos o que lhes vai nas almas, se tocar, se namorar, sorrir, se confraternizar renovando as esperanças de termos de volta um país mais saudável. E para se abraçarem com a mesma alegria com que nós, felizardos confrades, abraçamos o grande amigo Café. Seu abraço levo depois,  como sem falta, Nildão.

12 fevereiro 2019

Nildão lança livro e comanda uma necessária festa cultural.

Que tal darmos um tempo, um breve e necessário tempo, nessa onda de más e péssimas e devastadoras e intragáveis notícias que nos assolam o cotidiano nestes tempos bicudos, gentil leitor? Para variar, falemos agora, de um acontecimento cultural, festivo e alvissareiro, o lançamento do livro de um dos melhores cartunistas que a Bahia e o Brasil têm o privilégio de ter. Reproduzo em detalhes, o release que recebi da produção deste imperdível evento:
Urbanautas foi pensado em quatro partes: a primeira aborda um tema caro a todos nós: os meios de transportes e em particular o automóvel e seu impacto nas cidades: “receio: / sobrar carros / faltar passeios.” Na segunda parte, batizada de “Urbanices” o autor trata do cotidiano das cidades, refletindo sobre seus espaços, interferências e figuras presentes na rotina do dia-a-dia citadino: “Nos postes / nos muros : cartomantes vendem futuros”. Em “Urbanoias”, terceira parte do livro, o autor foca na paranóia que paira sobre todos nós e faz uma reflexão sobre o medo coletivo, ruas desertas e notícias alarmantes: “muros nos morros / abafam urros / socorros”. Em “Urbaianos”, quarta e última parte do livro, Nildão chama a atenção para a nossa baianidade - tão presente nas ruas, praças e objetos que adquiriram nomes originais ao aportarem na Bahia: “Somos / um povo porreta: / chamamos catraca de borboleta”. Enfim, uma reflexão original sobre as cidades, tema que nos envolve e faz parte do nosso dia-a-dia.                                       No decorrer dos últimos anos Nildão já lançou inúmeros livros em animadas festas dançantes no Rio Vermelho. O humor sutil é a matéria prima que une as publicações do autor, utilizado nos seus mais variados suportes. De nanodelicadezas a falsas logomarcas, de cartuns não verbais a anúncios fictícios, o afiado e delicado humor de Nildão continua atual e a serviço da não paranóia, estado de espírito pouco cultivado nos dias de hoje.
UMAS COISINHAS SOBRE NILDÃO: Nildão já ganhou inúmeros prêmios em Salões de Humor além de ser premiado no meio publicitário. Entre 2017/2018 participou como autor convidado da Festa Literária de Barreiras, Flipelô e da Feira Literária de Feira de Santana. Em 2017 foi lançado o documentário “Nildão - Pichador de Nuvens”, o filme integra a séria “Memórias do Brasil”, produzido pela Têmdendê Produções e exibido no Canal Curta. O autor teve também poemas selecionados nos projetos Mídia Poesia, veiculado pela Rede Bahia, e Grafias Eletrônicas, veiculado pela TVE e Rádio Educadora. Nildão foi curador das exposições “Lage, 40 anos de humor” (2009) e “Quem pode, pódio” (2010) na Caixa Cultural Salvador, e “Lugar de Criança é no Museu” (2017) no Museu de Arte da Bahia. Além disso organizou em 2017 o livro “Lage, 40 anos de humor”.  Todos os livros de Nildão estão à venda no site do autor: http://nildao.com.br, na Midialouca, no Rio Vermelho, e na Casa Boqueirão no Santo Antônio Além do Carmo.          
CONTATOS IMEDIATOS:    (71) 3240-5231/ (71) 99184-1822           

Flashes da Festa do Brasil Escravocrata.


Portal Multimídia do IRDEB: Arte e artistas da Bahia.

Não é de hoje que o IRDEB, Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia, presta mui relevantes serviços à cultura da Bahia. Para aproveitar os elásticos poderes de comunicação da internet e dar maior visibilidade aos artistas, literatos, dramaturgos, fotógrafos, eventos sociais e políticos, festas populares e otras cositas buenas dessa afro-terra, há já algum tempo o Instituto criou o Portal do IRDEB em que os interessados, os que têm sede de cultura, encontram um mundo de coisas relativas ao expressivo caldeirão cultural da Bahia, toneladas de ótimos vídeos, projetos especiais, radionovelas, jornalismo, poesia, filmes e o escambau. Você, leitor fenomenal, de vasto cabedal cultural etcétera e tal, não pode passar batido. Acesse o link e dê uma boa e atenta olhada o quanto antes, agora mesmo, se possível. Vale dizer que ao entrar no Portal, uma das muitas opções a seu dispor é clicar em Galeria de Imagens. Lá você encontrará uma seleção de conhecidos artistas da Bahia, todos com trabalhos bem diversificados, incluindo fotografias, esculturas, artes gráficas e plásticas e um mundaréu de coisas mui belas. Entre esses artistas você encontrará o cartunista Lage e seus cartuns e desenhos maravilhosos, o sempre criativo Robério Cordeiro e o formidável Guache Marques, que é um mix de talentosíssimo artista plástico e irresistível galã de novelas mexicanas, sempre arrancando suspiros de lúbricas e concupiscentes moçoilas quando por qualquer vereda su fina estampa passea. Ah, antes que me esqueça, usando da maior falsa modéstia, quero lembrar que, nessa seleta lista de amados e venerados artistas, também está o aclamado Paulo Setúbal, o popular eu mesmo, exibindo uma série de trabalhos de minha lavra como ilustrador, pintor, retratista e caricaturista. Tá pensando o quê?! Não sou fraco não, véio!
******O link para o Portal é http://www.irdeb.ba.gov.br 
(24/12/16)

06 fevereiro 2019

Da Suécia, Odd Nerdrum e sua pintura de mistérios

A beleza pode ter diversas formas. Depois de postar os belos trabalhos do caricaturista israelense Hanoch Piven, de elevadíssimo astral, publico estes do ótimo Odd Nerdrum, um mais que talentoso artista plástico nascido na Suécia, mesma terra do futebolista Zlatan Ibrahimovic, uma fera dos gramados. Nerdrum, também é uma fera, mas no campo das artes e ele nos brinda com uma pintura belíssima, ainda que extremamente soturna, plena de indecifráveis mistérios, deixando entrever, através de sua intensa força pictórica, um mar de sensualidade e um clima de evidente melancolia. Uma rara e invulgar beleza encerram seus trabalhos de pintura, não há como negá-lo. E o que é belo, vale a pena mostrar. Ah, en passant, é curioso dizer que, há um tempo, Odd Nerdrum foi condenado à cadeia, onde por dois anos vê ou viu ou verá o sol nascer quadrado, mesmo que na Suécia dias ensolarados não sejam lá coisas tão comuns assim. Sua condenação foi decorrente do fato do artista não pagar impostos sobre vendas de seus quadros no período de 1998 a 2000, cuja soma, em tão curto período, perfaz algo em torno da bagatela de...2 milhões de euros! Uau, o cara não é fraco, não! E eu, que só sei que nada sei, nem sequer havia ouvido falar no sujeito até descobri-lo na Internet. Santo apedeuta alienado, Batman!
(09/11/13)

Riachão, o samba da Bahia na primeira pessoa do singular

O samba feito na Bahia tem cara, corpo, jeito, elegância, doce malícia, muita ginga e sabedoria ancestral. Tudo isto concentrado numa só figura, aliás, uma figuraça, um guri chamado Riachão, nascido em 14 de novembro de 1921, um menino do Pelô e de toda esta Salvador, com 98 viçosos aninhos de existência, bem vividos em rodas de samba das noites da Bahia, das do Rio de Janeiro e de onde mais o samba estivesse. Samba autêntico, naturalmente, principalmente os de autoria do próprio Riachão, compositor considerado um inspirado cronista do cotidiano pelas suas letras que reproduzem a realidade com um viés bem popular. Esse seu estilo pessoal de compor mereceu gravações de personalidades como Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso e Gilberto Gil e de muita gente boa mais. Um dia, a cantora Cássia Eller, encantada com o balanço, a ginga, a malemolência, a criatividade e a contagiante alegria de Riachão, gravou sua composição "Vai morar com o diabo", em que ele relata suas agruras por viver ao lado de uma mulher que não quer nada com o batente e ainda exige do companheiro que ele lhe regale com uma vida de luxo. A exemplo do que acontecera com a gravação de Caetano de Cada macaco no seu galho, a deliciosa versão de Cássia Eller para a música de Riachão deu intensa visibilidade a um dos sucessos deste sambista baiano tão amado que sempre desfilou pela vida com seu charme singular, sua alegria retumbante, seu brilho intenso. Riachão, o samba na primeira pessoa, o próprio povo da Bahia com toalha e muitas contas coloridas no pescoço, chaveiro pendurado na calça, anéis nos longos dedos negros, boné na cabeça, bigodinho estiloso, e com um riso gostoso nos exibindo sua galhardia e seu passos harmoniosos de sambista maior pelas ladeiras da afrobaianidade nagô. Riachão, rei do samba na terra em que o samba nasceu, como atestava o carioquíssimo poeta e compositor Vinicius de Moraes. Axé, Riachão, meu rei!

01 fevereiro 2019

Jorge Amado, GustavoTapioca, o Rio Vermelho e seus meninos.


Gustavo Tapioca é jornalista da melhor linhagem. De um tempo em que jornal que se prezasse tinha que comportar em suas fileiras jornalistas autênticos, o que significava ser um profissional com consciência social e política, brios, coragem e acima de tudo, saber escrever bem. Nada a ver com um magote de vaquinhas de presépio que se limitam a reproduzir os releases enviados por fontes bem pouco - ou nada - fidedignas, ou ainda os descompreendidos que tomaram de assalto as redações para divulgar coisas que pouco ou nada têm a ver com a verdade dos fatos, servindo apenas para privilegiar os já mui privilegiados. E fazem tudo isso com uma naturalidade assombrosa, convictos de que todos assimilam tudo de errado que eles articulam e veiculam. Infelizmente um grande contingente de pessoas engole mesmo as informações distorcidas que recebe dos jornais, sem maiores questionamentos. Outros, no entanto, têm o incômodo defeito brechtniano de saber pensar. Quanto ao domínio da escrita, é justamente por bem saber escrever que o jornalista e escritor Gustavo Tapioca lançou seu livro MENINOS DO RIO VERMELHO, um memorial inspirado de quem foi, ainda infante, vizinho de Jorge Amado, personagem onipresente em suas memórias nas páginas desse livro que vale a pena você, leitor atilado, conferir para se deliciar com uma Bahia solar, apaixonante e tão cheia de agradáveis surpresas como o texto de Gustavo, que aliás me brindou com o honroso convite para fazer as ilustrações, convocação que aceitei com júbilo adolescente. Aproveitei para fazer uma homenagem ao queridíssimo Floriano Teixeira, fabuloso ilustrador e artista plástico, também morador do Rio Vermelho, um mais que ilustre vizinho meu, porque também tive a felicidade de morar no Red River, bem pertinho do mar. Estou certo de que o dia que este livro chegar em mãos certas, vira minissérie televisiva ou filme de sucesso. 
********* Todas as ilustrações do livro, a exemplo desta aí no alto, desenhei em papel Opaline 180 g, sendo que os esboços foram feitos com grafite 2B e sapequei a arte-final com canetas nanquim. O computador só entrou nesta história para tratar as imagens. Ao fazer as mencionadas ilustrações, intentei - com o devido respeito - mesclar meu traço com um pouquito do que pude captar do estilo de meu amigo Floriano Teixeira, um gigante da arte, um formidável pintor, um virtuoso no desenho, fera maior. O leitor que estiver interessado em adquirir um exemplar do livro de Gustavo Tapioca pode enviar mensagem: gustavo.tapioca@gmail.com 
(30/07/09)

Homem Feminista / Frases de Béu Machado 07

Inteiramente a favor das conquistas femininas. Principalmente se eu for uma delas.
(Béu Machado, do seu livro Pensamentando)
22/09/16