16 abril 2020

Jogador de futebol, um adorado semideus / Arte que se reparte 3

Adoro desenhar e principalmente pintar jogadores de futebol com suais plasticidades características resultantes dos movimentos que executam durante o esporte que praticam. Esta minha predileção origina-se em parte pela minha paixão antiga pelo esporte das multidões, assim denominado por ser a modalidade esportiva que mais apaixonados admiradores costuma aglutinar em praças esportivas de todo este planeta índigo blue chamado Terra que é, significantemente, redondinho como uma bola de futebol. Isto considerando-se que você não seja um desses ensandecidos terraplanistas que andam infestando o Brasil que, frise-se, só foi descoberto porque o intimorato nauta lusitano Cabral comungava das mesmas teorias do seu colega, o destemido nauta genovês Cristovão Colombo a respeito do formato esférico do planeta que habitamos, tendo Colombo provado na prática e não com lero-lero, de maneira irrefutável, que os terraplanistas de sua época eram - como os de agora -  uns descomunais imbecilóides galopantes, uns asininos mui chucros.
Feito este preâmbulo político-esportivo, um quase desabafo diante das asnices diárias com as quais buscam turvar nossas luzes, já posso dizer que a pintura que ilustra esta postagem é uma tela tamanho 1m x 0,80cm que hoje faz parte da pinacotéquia do Seu Creysson, do Cassetia i Planetia ou, melhor dizendo, uma tela que atualmente integra a pinacoteca particular do humorista Claudio Manoel, do grupo criador do programa Casseta e Planeta, famoso humorístico da Rede Gloooooobo, segundo me informou o respeitável dono da galeria de Arte em que esse quadro foi vendido. 
Para você, pictórico leitor, que almeja ser um dia um renomado artista plástico ou simplesmente gosta de ficar bem a par de detalhes, pormenores e filigranas, saiba que para pintar essa futebólica tela fiz o esboço com lápis B, sendo que para criar uma textura usei massa acrílica aplicada com espátulas. Na bola fiz uma colagem com um tecido para dar um relevo e um toque dadaísta, seja lá o que isso for. Já na pintura propriamente dita, usei um pequeno arsenal de pincéis de variados tamanhos e formas e uns tubos e potes da sempre boa tinta acrílica. E eis que na mesma tela concentrei duas das minhas paixões: o futebol e a pintura que são, aliás, paixões de muita gente espalhada neste planeta Terra, tão redondinho quanto el balón, la pelota, il ballonethe ball, a esférica, a gorduchinha. 
(180215)

04 abril 2020

João Ubaldo Ribeiro, a quem dei sábios pitacos que o tornaram escritor consagrado no mundo.

João Ubaldo Ribeiro, glória literária da Bahia e do Brasil,  posto que é ele consagradíssimo escritor, cronista admirado e seguido por uma legião de fãs que devoram seus escritos cheios de lucidez, consciência política e social e prenhes do mais inteligente e refinado humor. Seu domínio do idioma e da linguagem escrita são evidentes. Ah! e dizer que li tantos textos deles no original, recém tirados de sua máquina de escrever (era um treco cheio de ferrinhos que existia antes de inventarem o computador, caros adolescentes) lá pelos idos dos emblemáticos anos setentas. Não que ele me entregasse em mãos para um necessária e criteriosa avaliação. Eu lia os textos sem pedir licença, bem ali na mesa do diagramador da Tribuna da Bahia, em cuja redação trabalhávamos eu e o Ubaldo, lá apodado de Risadinha graças à sua indefectível e estentórea gargalhada que volta e meia fazia tonitruar muitos decibéis acima do alarido ensurdecedor emitido pela barulhenta redação. Aí, como quem não quer nada, eu dava meus pitacos pro Ubaldo, que por sinal já escrevia que era uma maravilha mas precisava de umas correções de rumo que euzinho, com minha proverbial benevolência com novéis, sempre me dispunha a prestar e não me pejo de dizer que o fazia de bom grado. Ele ouvia, silente, meneava a cabeça, pegava as laudas, entocava-se na sua sala e tratava de fazer os devidos reparos por mim sugeridos. Nunca, em tempo algum, a mim dirigiu qualquer palavra que pudesse, ainda que remotamente, deixar transparecer um agradecimento, coisa que a bem da verdade jamais pretendi receber, nem naqueles pretéritos tempos e muito menos em dias atuais. Do assaz astronômico numerário que cotidianamente adentra sua polpuda conta bancária, vintém não quero nenhum. Sou a generosidade em pessoa, a mim me basta vê-lo evoluir a passos largos no seu ofício, tornar-se um escritor maior que galga a passos largos os degraus da fama e tornar-se um dos maiores literatos entre tantos e tão talentosos escritores desse nosso país garboso e varonil. Creiam-me, basta isso para eu quedar-me com o peito inflado do mais lídimo orgulho. A João Ubaldo, meu derradeiro conselho é que não abuse da bebida que servem na ABL. Refiro-me ao tradicional chá que os imortais escribas bebem, paramentados de fardão e espadim. Matar, não mata, vez que todos são imortais. Mas pode dar uma gastrite daquelas, meu caro Risadinha.
(Salvador, Bahia, janeiro de 2012)

03 abril 2020

Casal nordestino passeando na Big City.

Em plena megolópole paulistana um casal, tendo sobre suas cabeças signos nordestinos, em momento que sugere ser de merecido relaxamento depois de uma longa e estafante semana de árdua faina, de duríssimo trabalho - posto que nào é nada fácil a vida de imigrantes do nordeste na chamada supercap. E em um dia qualquer de domingo ou feriado lá vão eles caminhando sobre a grama do que deve ser uma grande e arborizada ágora paulistana, embora aí só se avistem concretos, prédios, fumaça. Abraçam-se, rádio na AM, tendo ao fundo o seu conquistado veículo de duas rodas, sorriem e se mostram lépidos e amorosos, enquanto passeiam suas alegrias de viventes felizes, ainda que tenham sido obrigados a deixar a terra natal. São caminhantes gaios e trigueiros, trazem em si o samba, o xote, o baião, a sanfona, o triângulo, a zabumba, o pandeiro, vêm com seus jubilosos trajos domingueiros, esfuziantes qual uma festiva alegoria carnavalesca. 
Esta pintura, fidelíssimos leitores,  não é recente, eu a fiz fiz lá pelo ano 2000, em que fica a tal estação final do percurso vida na terra-mãe concebida, como canta Gilberto Gil, não por coincidência um artista da Bahia, do nordeste. Trata-se de um painel de 1.80 x 1.50m e para fazê-la - além de meu vasto talento pictórico, tão vasto quanto minha proverbial modéstia - lancei mão do velho e sempre prazeiroso método de usar tinta acrílica sobre tela. De quebra, utilizei massa acrílica e também cola e pedaços de tecido para fazer umas colagens com ares dadaístas e assim poder posar de erudito, angariar a admiração geral e captar as atenções e os favores de assaz intelectuais e mui concupiscentes musas.  Depois que acabei de pintar fotografei com minha Rolleiflax e revelou-se minha enorme aptidão para realizar invulgares coisas pictóricas. Na sequência eu então escaneei e dei uma tecladas ao Photoshop pra animar ainda mais este motivo burlesco e brejeiro, assaz criativo, mui inventivo, que tem umas pitadas de minha vivência pessoal de nordestino que um dia deixou para trás sua querência e foi morar por longo tempo em Sampa onde alguma coisa acontecia em meu coração que só quando eu cruzava a Ipiranga e a Avenida São Joào. Também pudera, ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução.
(100210)