27 março 2019

Flavio Colin / Uns caras que eu amo 1

Era eu ainda um pequerrucho, tinha lá uns bem vividos 7 anos quando os primeiros desenhos do maravilhoso Flavio Colin saltaram impactantes em minhas mãos. Impressionado, boquiaberto, falei pra mim mesmo: "Puta que o pariu! Os desenhos deste cara são do caralho!" Quer dizer, falar isto não falei, vez que eu nada mais era que um petiz de alma pia e imaculada e palavrões que tais não cabiam numa ânima tão cândida. Além do que, os revolucionários anos setentas ainda não haviam chegado, instaurando de vez o nu artístico nos palcos e nas telonas e muito menos palavrões de calibres diversos na boca do povão deste patropi abençoá por Dê, quanto mais na de um singelo e pudico infante de calças curtas. O que importa é que aqueles desenhos fundiram minha cuquinha de menino com olhos abertos para o cinema e para os quadrinhos. E o traço de Colin, que caminhava pela mesma senda de Frank Robbins, Chester Gould e Milton Caniff, renovava e enriquecia o estilo e em mim despertaram uma paixão que carrego pela vida toda, babando ao ver ou rever os desenhos do Mestre dos Mestres. Flavio, sempre fantástico, usava tão somente lápis, pena e pincel. Bastava isto para o cara ser genial. Ah, e um mar de nanquim em que ele navegou essa sua genialidade em preto e branco. Tudo que ele desenhava nos transmitia o quanto ele era diferenciado, evidenciava sua alta criatividade, sua determinação, personalidade, ousadia e um vigor que jamais voltei a encontrar nas montanhas de quadrinhos made in Brasil que li. Flavio Colin, eternamente fenomenal. Saudades, muitas saudades.           
(11/06/13)

Funk, Punk, Skunk / Humor de graça

(231113)

26 março 2019

Leonardo Da Vinci non era boneconne, era espadonne.

 Línguas recheadas da mais nefária cicuta lançam aos quatro ventos que o proverbial sorriso que Mona Lisa Gioconda exibia era resultado das habilidades libidinais do pintor Leonardo Da Vinci, que aproveitaria a ausência do giocondíssimo marido para comer a tentadora maçã que a sua sensual e bem fornida modelo, radiante lhe ofertava. E para que não se diga que fofoca é coisa da patuleia brasileira, àquela época já circulavam entre os filhos do Lácio fortes buchichos insinuando que o homem vindo da cidadezinha de Vinci não era muito chegado a cheirar, alisar, lamber, mordiscar e muito menos ainda comer a referida fruta. E que em verdade a preferência frugal de Leo era bem outra, constando que ele apreciava mesmo era cair de boca em olorosos bagos de apetitosos efebos cultivados na Grécia. Dizem, mas não há registro fotográfico, cinematográfico nem televisivo algum que ateste tal ignomínia. Tampouco não há nenhum vídeo circulando pelo YouTube que comprove o que tais línguas viperinas insidiosamente afirmam. Além de pintor, desenhista, engenheiro, músico, anatomista, cientista, inventor e o escambau - enfim, um autêntico multimídia avant la lettre - Leonardo era caricaturista, o que o torna um meu colega e em nome do bom, velho e salutar corporativismo, vou logo dizendo que esta queimação pra cima do multitalentoso artista é produto de torpe invídia. A munheca do toscano, que firme empunhava sua paleta, jamais titubeou e ele não era pintor de sair por aí segurando indevidamente em pincéis alheios. Vilezas e calúnias quejandas não podem prosperar entre os dignos. Forza Leo! Forza Italia! Forza Azurra! 
(29/08/13)

21 março 2019

Woody Allen, Mia Farrow e um retrato em branco e preto a maltratar o coração.

 Por toda esta semana, enquanto desenho uma HQ tenho me deliciado ouvindo a voz macia de Leila Pinheiro, interpretando maravilhosamente canções da dupla Aldir Blanc-Guinga, compositores da pesadíssima. Uma dessas canções, "Catavento e girassol", fala das diferenças abissais existentes na relação de um casal que se ama, apesar dos muitos pesares, uma incompatibilidade quase que total, o que, no entanto, não impede o amor entre ambos. Um dos trechos da letra diz: "eu tenho um jeito arredio e você é expansiva - o inseto e a flor. Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen..." Uau!, Aldir Blanc é incomparável. Falando em Woody Allen, de há muito o magrelo é um dos meus grandes ídolos. Esta ilustração aí em cima foi publicada em jornal num artigo que falava sobre esse criativo cineasta, ator, comediante e escritor. Deixei as cores de lado, fiz a ilustração em branco e preto, como o retrato na letra daquela linda canção do Chico e do Tom. Para tal, usei lápis, caneta-nanquim e pincel com tinta-da-china, e aviso que isso não tem nada a ver com a amada de Woody, Soon-Yi, que aliás não é mesmo chinesa, é coreana de nascimento. E já que essa pendenga Farrow-Allen andou sendo revivida pela mídia recentemente e um bocado de gente está nessa de queimar o filme do ilustre filmador sem nenhum direito à defesa, além de promover seu linchamento moral em pública ágara, seu empalamento sumário, para em seguida sapatear em cima do ataúde condutor de seu corpo franzino. Então aproveitando o ensejo, quero registrar que eu também torço mesmo é para o Woody Allen, igualzinho ao personagem da maravilhosa letra do maravilhoso Aldir Blanc.
(05/07/15)

16 março 2019

Raul Seixas, do Oiapoque à PQP.

Das bandas do Oiapoque ao Chuí, das bandas de rock à Marilena Chauí, neste Brasil varonil do Gugu e do Clodovil, em uníssono eleva-se o brado retumbante de formidável contingente de pessoas: "Toca Raul!" 
Mesmo com todos os terríveis obstáculos jabaculísticos dos dias atuais, as rádios acabam tendo de atender aos veementes pedidos, pois a pressão popular é imensa, irrefreável. Quanto a mim, não preciso que em coro gritem: ''Pinta Raul!'' Na maior velô, vou logo me munindo de pincéis, tintas, lápis, pastel seco, pastel a óleo, carvão, sanguínea, papéis de gramaturas diversas, telas, Photoshop e...zás!, vou mandando ver em honra do nosso sempre amado, adorado e assaz idolatrado maluco beleza. É Raul Seixas na veia, nos ouvidos, nas retinas e na mente.Tá rebocado, meu compadre! Titirrane, Raulzito, titirrante!
(Pul. orig. 01/05/2015)

Complexo de inferioridade e analista / Humor de graça

(11/10/13)

14 março 2019

Cau Gomez, mineirim e baianim / Pintando o Set 8

Algumas pessoas são de fato sobejamente espaçosas no trato para com minha virtuosíssima pessoa. Deve ser esse meu jeito lhano, cordato, cheio de bonomia, blandícia e veraz beatitude, inerentes a quem nasceu na cidade das romarias populares, ex-votos, escapulários, andores, terços e milagres, Candeias, na Bahia, como este filho de Seu Setúbal e de Dona Celina. Para provar que o que digo não são apenas e tão somente meras words, words, words, vou logo contando que o hoje cultuado cartunista Cau Gomez era ainda um recém-chegado aqui nessa Soterópolis, capital da Bahia, e, mesmo assim, sem pedir licença, agindo com a maior sem-cerimônia, foi logo tascando em meu peito de remador esta carica que ele fez de mim. Ô, mineirim forgado! Com cara e alma de eterno menino, ao dar os seus primeiros passos aqui nessa afrocity, Cau Gomez tinha um olhar meio de esguelha, de mineirinho, a fala doce de mineirinho, o cabelo curtinho como o de um típico mineirinho pacato. Hoje, passados tantos anos vivendo na Bahia, Cau adotou um estiloso visual afro-baiano que lhe cai muitíssimo bem. E pelas ruas, vielas e intermináveis ladeiras dessa Soterópolis, lá vai ele, malemolente como um genuíno baiano. Mas eu bem sei que por dentro o cara ainda continua mineiríssimo, que só ele. Por fora, um belo acarajé, meu rei. Por dentro, puro pãozim de queijo, sô.
(26/05/11)

10 março 2019

Sting: eis que um deus visita o cacique Raoni, distribui carinho e fala de Sir Elton John

 
Quando acontecem noites dos mais radiantes plenilúnios, os nativos do Xingu se reunem em torno de aconchegante lume para ouvir dos lábios dos seus macróbios e sapientes pajés miríades de misteriosas lendas e histórias plenas de magia e encantamento. Uma das mais belas versa que, em ensolarada manhã, um deus da música vindo de muito, muito longe, visitou um dia a tribo. Trazia ele em seu alforje um instrumento musical dantes nunca visto. O nome dessa deidade era Sting. Esse ser superior, de alvinitente tez, trouxe consigo para o Cacique Raoni e toda sua tribo uma canastra repleta de espelhos, colares, contas e miçangas que ele, com semblante sereno e feliz, passou a ofertar aos radiantes silvícolas. Em dado momento, ao abaixar-se para pegar mais bugigangas, o popstar e nume supremo deixou escapar sonoro flato. Sonoro, porém inodoro, como sói ser o flato de um correto súdito britânico. O indefectível ruído não passou despercebido aos atentos ouvidos de um guerreiro espadaúdo, alto e assaz musculoso que aproximou-se e olhando fixamente com seus amendoados e coruscantes zoinhos, sussurrou a Sting: "Índio não quer colar. Índio quer apito!" Inabalável, como bom súdito da Rainha, o camaleônico roqueiro, incontestavelmente espada e matador, redarguiu: "Mister Indian, este negócio de dar apito é com outro inglês, Mr. Elton John, que está vindo logo aí atrás em outra expedição!"
(20/05/14)

07 março 2019

Se eu tivesse as coisas que não tenho... / Setubardo

Se tivesse um reino, eu reinava
se eu fosse alado, voava
se tivesse uma nave, navegava
se tivesse passaporte, embarcava
se tivesse certeza, argumentava
se perdesse a fleuma, praguejava
se eu fosse um rio, transbordava
se tivesse um paraquedas, me lançava
se passasse BBB, Faustão, Huck e Gentilli, eu desligava
se Bolsonaro discursasse, eu vomitava  
se ganhasse um CD de duplas sertanejas, eu quebrava
se tivesse avistado as Torres Gêmeas, será que eu detonava?
se quisesse mentir, eu jurava
se tivesse unzinho, eu fumava
se ficasse neurastênico, mandava tudo às favas
se caísse moribundo, delirava
se tivesse umas moedas, na lotérica eu apostava
se fosse corrupto, me locupletava
se tivesse medo, eu gelava
se dançasse forró agarradinho, eu fungava
se rolasse um clima, transava
se pintasse um baby, eu acalentava
se tivesse você, teria o que mais sonhava.
(12/01/10)

04 março 2019

Na Bahia, carnaval é todo santo dia.

          
                         O Olodum e sua percussão: beleza e ritmo no carnaval da Bahia.                                    Na Bahia o carnaval não está sujeito a datas constantes em calendários, nem acontece em dias e horários pré-determinados. Ele é parte integrante da alma de cada vivente dessa afro-urbe, está em cada rua, em cada praça, é cotidiano, convive com a luta pela sobrevivência. Mas por questionáveis questões, há um calendário que diz que o carnaval acontece em dias previamente determinados. E esses dias já chegaram e já é carnaval em Soterópolis, gente. Acorda pra ver. É carnaval, é carnaval, chegou a hora das pessoas tirarem suas máscaras sociais e colocarem máscaras festivas e se integrarem na multidão de brincantes. Brincar o carnaval nas ruas da Bahia é puro delírio. A festa é um painel colorido, belo e efervescente, cheio de personagens maravilhosos, coisa nada trivial no cardápio dos bípedes implumes e falantes que compõem a velha raça humana e ela, a meio agogôs, instrumentos de sopro, tamborins, atabaques, pandeiros e toda sorte de instrumentais percussivos, dá um chute nos problemas oriundos da mencionada luta pela sobrevivência e vai à praça expulsar do peito angústias, dores, estresses, todos os seus fantasmas internos e gritar sua alegria neste encontro hedonista, com direito a beijos nada colombinos, desejos mais que legítimos, novos amores ou mesmo, quem sabe, reviver amores antigos, fortes, inesquecíveis. Aos fascistas e neonazistas em geral, às gentes que comungam de sentimentos racistas, aconselho que não venham, já que no carnaval e no cotidiano da Bahia, o que há de mais belo é a cor negra nas peles das pessoas. Peles azeviches em profusão, geralmente mesclando-se sensualmente com peles brancas, amarelas, vermelhas e todo o catálogo epidérmico que rola neste orbe. Por tudo isso, essa democrática festividade de rua é mesmo um belo motivo para se pintar uma tela como esta que ilustra esta carnavalesca postagem em que busquei com tintas acrílicas caprichar no colorido de cores vivas, quentes, redondas. Se ao invés de sair por aí beijando e sendo beijado por gentes que você nunca viu e que provavelmente nunca mais verá e preferiu esperar passar a folia em um seguro e aconchegante retiro espiritual, bom pra você. Se resolveu ser um brincante, com direito a tudo de bom e surpreendente que a festa pode oferecer, idem, idem, idem. Axé!