31 outubro 2019

Sting, popstar inglês, e seu pai Raoni, que luta para salvar nossas florestas.

  Índios são sempre uma temática muito legal para se ilustrar. Pela beleza plástica que suas figuras encerram, por tudo de genuíno, de autêntico e de benéfica integração com a natureza que representam os povos indígenas desta descomunal Pindorama, os autóctones merecem todo nosso respeito e carinho. Eles se fazem merecedores de nossa estima e constante atenção, principalmente neste momento tão grave que nosso Brasil vem atravessando, dias absolutamente preocupantes em que o governo do país se encontra nas mãos de homens que conduzem de forma desastrosa as questões nacionais. Em tais questões estão incluídas nossas nações indígenas, tratadas de forma assumidamente destruidora.   Usei lápis, nanquim e tinta ecoline para retratar esta mãe índia a partir de uma bela foto que vi em uma revista onde, infelizmente, não consta o devido crédito ao fotógrafo. 
Em tempos mais recentes não há como falar da cultura índígena sem falar no célebre astro Sting que sempre demonstrou ter forte ligação com os autóctones brasileiros, em especial o cacique Raoni, a quem o roqueiro já afirmou considerar um pai. E como felizmente este patropi não é feito só de arbitrariedades e tragedias ambientais, uma velha piadinha foi adaptada para falar sobre o dia em que Sting visitou a tribo de Raoni pela primeira vez no anos oitentas. Mal chegara, o popstar retirou de uma canastra alguns colares e os ofertou ao cacique como prova de consideração e respeito. Ao ex-The Police, o chefe nativo agradeceu respeitosamente, mas lhe disse: "Índio não quer colar. Índio quer que você crie entidade para auxiliar tribos do Xingu na luta por nossa preservaçào e para nos ajudar contra a especulação imobiliária e a voracidade dos homens brancos que invadem nossas terras, derrubam e queimam florestas e exterminam os povos silvícolas". Sting, consciente que só ele, guardou seus balangandãs de volta na canastra, foi para Nova York e lá criou a Rainforest Foundation, mostrando ser um filho do qual Raoni pode se orgulhar eternamente.
(13/10/12)

Fala sério, Seu Palhaço / Cartum de Graça


30 outubro 2019

Mulher de Escorpião no Horóscopo de Vinicius de Moraes

Mulher de Escorpião
Comigo não! 
É a Abelha Mestra 
É a Viúva Negra 
Só sai de vedete
Nunca de extra
Cria o chamado conflito de personalidades
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana.
Agora de cama diz que é boa paca.
(o3/03/14)

Sogra do Rei das Selvas / / Humor de graça


26 outubro 2019

Furio Lonza, o golpe e um povo impopular.

Graças a um golpe ignominioso contra uma mandatária eleita legitimamente pelo povo brasileiro através das urnas, adonou-se do poder em nosso país um magote de seres caquéticos, desalmados, retrógrados, sem escrúpulos, um intragável bando de escrotos que portam, assumidamente ou não, os mais abjetos preconceitos raciais, étnicos, sociais e sexuais, valha-nos Deus, acuda-nos Jeová, socorra-nos Buda, Maomé, Tupã e São Longuinho, com seus três pulinhos. Triste, tudo isso é triste. Mas a maior tristeza está no fato de constatarmos que essa malta maligna só conseguiu concretizar suas abomináveis pretensões antidemocráticas, graças à apatia e - muito pior ainda -  até mesmo ao impensável apoio de uma grande parte do povo brasileiro. E que povinho é esse que, em grande parte, se posta explicitamente ao lado de tais algozes e avaliza toda sorte de desmandos, truculências contra a população de baixo poder aquisitivo, projetos de lei que conspurcam a Constituição, caçambas de atitudes indignas, incluindo-se nisso bisonhas farsas jurídicas que livram a cara de bandidos contumazes e enviam para as galés pessoas inocentes? Lembremos que essa maneira de ser não começou com esse golpe. Vem de longe. E de longe vem o questionamento, a vontade de encontrar uma resposta racional a tais irracionalidades. Reproduzo aqui trechos de um texto do final dos anos oitentas, de autoria do grande Furio Lonza, em que o escritor ítalo-brasileiro tece considerações sobre essa parcela do vulgo. Com a palavra, il signore Furio Lonza: 
"Falta povo neste país. Até um tempo atrás, a opinião corrente era de que "todo povo tem o governo que merece". Mentira! Qualquer governo, por mais safado que seja, ainda é muito para esse povo sem brios, sem vergonha na cara, esse povo burro e ridiculamente humilde, vaquinha de presépio que engole tudo até o talo, até a última gota, todos os sapos, todos os calangos, esse povo cativo, covarde, sempre com o rabo entre as pernas, esse povo que marchou com Deus, pela família, esse povo que deu seu ouro para o bem do Brasil, esse povo que vive coçando a virilha, que bebe cerveja sem colarinho, lê horóscopo e coluna social, esse povo que encoxa mulher no ônibus, que cheira cola, que puxa o saco do gerente, alcaguete de polícia, esse povo que, em dia de greve de ônibus, pega táxi para ir para o escritório, que pega avião para assistir Chitãozinho e Xororó em Las Vegas, esse povo besta que deixa a Xuxa fazer a cabeça de seus filhos, esse povo cujo ancestral índio acolheu o português de braços abertos em 1500, que rezou a primeira missa bem comportado junto aos jesuítas, esse povo que recebeu a Independência do Imperador da colônia, esse povo que proclamou a República e botou um militar no lugar do rei, esse povo que paga uma fortuna por uma TV a cabo e só assiste bosta, esse povo que come merda, respira merda, só pensa merda, esse povo que faz na entrada, na saída, no meio e ainda deixa um pouco atrás da porta pra ser encontrado no dia seguinte, um povinho que acredita no Jornal Nacional."

Mais atual, impossível. Mas se o grande Furio Lonza tivesse escrito em recentes dias este seu texto, sabemos bem que teria um material ainda mais farto que haveria de incluir aqueles grupos de seres sem-noção fazendo ridículas coreografias pró-golpe, com direito a uma estarrecedora ala geriátrica com seus matusaléns fascistas e todos os parvos teleguiados pela Rede Globo e por toda a grande mídia, vestidos com camisas da CBF, marchando nas ruas ao lado dos mais asquerosos corruptos, repetindo seus mais demagógicos bordões, clamando pelo fim de um governo de cunho popular eleito legitimamente, reivindicando a volta dos militares ao poder, a tortura, a repressão e toda sorte de suplícios e malefícios que causariam inveja aos mais fustigados masoquistas da História. Figuraria, enfim, toda a inconcebível participação desse povinho parvo em apoio a um golpe que extermina direitos populares tão arduamente conquistados, que entrega as riquezas naturais da nação  à sanha dos mais gananciosos capitalistas apátridas, que  aniquila sonhos e esperanças, que destrói o país em que ele próprio nasceu e onde vive, inviabilizando o presente e o futuro para si mesmo, seu filhos, famílias e netos. Ai do Brasil. Ai de seu povo. Ai de nós, São Longuinho!
(020718)

23 outubro 2019

Humor de graça / Bat-crise econômica


Wanderléya Ternorinha, Wanderley Luxemburgo e a Velha Jovem Guarda

Além de ser renomada cantora, Wanderléya é irmã de Wanderley, o Luxemburgo, famoso técnico de futebol do Brasil que foi deportado da Espanha por insistir em massacrar impiedosamente a Língua Espanhola durante suas entrevistas. Quando o time do seu amado mano está perdendo, Wandeca costuma invadir os gramados gritando a plenos pulmões para o árbitro: "Por favor, pare agora! Senhor Juiz, pare agora! Senhor Juiz este impedimento será pra mim todo meu tormento!" Precursora do uso de indumentária masculina por belas mulheres, a moça tanto usou vistosos ternos que acabou ganhando o apelido de Ternorinha. Seu irmão, o dono dos referidos ternos, é que nunca gostou muito da elegância arrojada da mana e vai daí que, mesmo sendo muito unidos, a fraternal dupla mantém um acordo: ela não desfila mais pelas ruas, ágoras, veredas, boulevards, alamedas e avenidas com os ternos do seu irmão. Em contrapartida, Wanderley Luxemburgo não pode sair por aí vestindo as microssaias da irmã das coxas grossas, mesmo que morra de vontade de fazer isso.
(10/10/13)

11 outubro 2019

Irmã Dulce e a Bahia de Todos os Santos e Orixás.


Boa parte do tempo sou um agnóstico convicto ou um inveterado livre-pensador. Em outras sou um católico apostólico baiano, o que significa ter um pé em Roma - com sua infindável galeria de santos - e outro na África, com seus prestimosos orixás. Aqui nessa afroterra que habito, múltipla em todos os sentidos, o ecumenismo é um caminho natural que os que se pretendem justos devem civilizadamente trilhar em nome da paz e da mais fraternal das convivências. Há que se respeitar as escolhas pessoais no tocante à fé e tratar todas elas com igual carinho e humano respeito, e não seguir a senda maldita e o horror dos ortodoxos e fundamentalistas de todos os matizes que tentam se assenhorar do poder governista através da religião, visando estabelecer nefasta e sufocante teocracia. Preces fervorosas para o Homem de Nazaré, para Nossas Senhoras, para Siddartha Gautama, Allah, Jeovah,Tupã, orações para Allan Kardec e oferendas cheias de fé para Oxuns, Yansãs e Yemanjás. Fiz essa caricatura do maior ícone do catolicismo soteropolitano, Irmã Dulce, que tratava com desmesurada bondade pessoas pobres, doentes, desamparadas, sem ter mais a quem recorrer, seres humanos já desesperançados que a procuravam em busca de ajuda e a quem ela acolhia sem se importar se eram católicos, evangélicos, de religião afro, judeus, agnósticos, ateus, se eram héteros ou homossexuais, negros ou brancos, nordestinos ou não. Eram seres humanos carentes de amparo e isto era o que mais importava para que ela os acolhesse com suas próprias mãos, praticando o verdadeiro amor que Cristo sempre pregou e que muitos arrogantes que se dizem líderes religiosos jamais aprenderam e praticaram, utilizando o cristianismo e o nome divino para espalhar dominar multidões de carentes ou incautos, manipulando mentes com o grande poder de  oratória que têm, 
 enganando os crédulos, deles tirando dinheiros, acumulando fortunas pessoais e levando despudoradamente uma vida de luxo e ostentação, morando em suntuosas mansões, aqui ou no exterior, com direito a anéis e banheiras de ouro, jatinhos particulares, automóveis dignos de xeiques, roupas dignas de reis, incontáveis latifúndios, lucrativas empresas pessoais e tudo que o dinheiro pode comprar. Diferentes, bem diferentes de Jesus Cristo que nada tinha de fausto e de pompa. Jesus, em sua simplicidade, trajava apenas uma túnica inconsútil para levar o que realmente importava: o amor, o respeito ao próximo e a palavra de Deus. Assim como Irmã Dulce, que usava tão somente um hábito surrado para amparar os desvalidos. Dulce, dulcíssima. Em sua forma física Irmã Dulce se foi, mas seu exemplo de verdadeiro amor ao próximo ficou, segue entre nós. E hoje certamente ela está lá no céu ajudando muitíssimo seu chefe, que ela não é mulher de ficar acomodada num canto. Odô yá, Irmã!
(11/11/13)

09 outubro 2019

Biratan Porto e suas deliciosas crônicas do livro Ora, mas tá!

Exibicionismos de erudição, sempre gratuitos e desnecessários, não são encontradiços nos textos do cronista Biratan Porto. Suas crônicas no livro Ora, mas tá! chegam aos leitores trilhando o caminho da simplicidade, despojadas de ludibriantes recursos linguísticos em que o supérfluo, desfavoravelmente, pudesse vir a prevalecer. Por aí começam as muitas riquezas contidas em suas crônicas exibidas nesse livro, frisando que essa dita simplicidade não é, digamos, simplesmente tão simples. Coisas aparentemente triviais para os mais desatentos transformam-se em um rico mote para as crônicas de Biratan. Quem haveria de adivinhar as reminiscências que podem se encerrar em uma prosaica folha de imbaubeira caída em uma calçada? As pessoas comuns, certamente, não. Passariam mil vezes por ela sem dela se darem conta. Até poderiam pisá-la, em seu desatento caminhar. Da via pública o cronista recolhe a folha e, extasiado, observa-a com atenção. Embevecido, termina por viajar por suas fibras e nervuras, transportando-se no tempo até sua infância em Castanhal, em uma jornada sentimental que também arrebata a nós, seus leitores, e lá vamos nós com ele. Cada crônica de Biratan nesse seu livro é um périplo a nos conduzir por emoções de todas as grandezas, por reflexões existenciais oriundas dos mais improváveis recantos, por grandiosidades narradas com rara sutileza. Seus textos, em alguns momentos, por vezes se fazem acompanhar de uma leve ironia ao abordar instantes da vida em que vigora o inesperado, as reviravoltas da existência, o errado sobrepondo-se ao correto. A criatividade do cronista se faz onipresente, o seu olhar prima pela busca do insólito, do pitoresco, do inédito, do risível, seja relatando a vida de um incorrigível conquistador e suas pretendentes, seja mostrando um delegado chegado a excessos arbitrários, mas chegado muito mais ao sambista Geraldo Pereira. Seja, ainda, narrando os detalhes de uma imponderável corrida de galinhas ou mesmo expondo as angústias de uma kafkabirataniana barata e sua luta para salvar de trágico holocausto suas irmãs e todo seu povo. As crônicas de Biratan não deixam espaço para a dor, melancolia ou tristeza. Nelas sempre se faz visível o tom positivo, para cima, comprovando que o autor acredita que o ser humano, malgrado seus equívocos, pode se fazer viável e experimentar a felicidade no planeta que habita e viver em harmonia com os seus semelhantes. Tudo isso se nos apresenta alinhavado pelo refinado humor desse inspirado cronista, Biratan Porto, um humor que ora nos chega de forma sutil, contida - e aí há que se ficar atento para não perder o riquíssimo sabor dessas passagens – e por vezes, esse humor se nos invade de forma histriônica e não há como conter uma gostosa e revigorante gargalhada.                                                                    *****Para os que querem experimentar o prazer de ler as crônicas de Biratan e as de seu partner, o também cronista Max Reis, que com ele divide as páginas desse Ora, mas ta!, devo dizer que esta edição está esgotada. Resta o consolo de saber que Biratan esta em vias de lançar um livro inedito de crônicas. Aguardemos.

07 outubro 2019

Trocadilhos do Batman / Humor de graça


Lembrando Lage, cartunista tão brilhante quanto o Sol da Bahia

Quando perdemos Lage este país perdeu um dos seus mais brilhantes cartunistas. Hélio Lage era um profissional do Humor que tinha a capacidade rara de fazer um trabalho social e politicamente engajado, transparente, preciso, que atingia infalivelmente os alvos visados. Isto tudo sem perder a sua excepcional veia humorística, que Humor era com ele mesmo. Os amigos e os colegas das redações de jornais morriam de rir com suas frases espirituosas tiradas de improviso sobre qualquer situação e em qualquer local que ele se fizesse presente. Na charge, no cartum, nas HQs, nas suas tiras, Lage tinha a marca do ineditismo. Seu Humor era algo personalíssimo, original, com um timbre só dele, que eu nunca havia visto, que envolvia, apaixonava, encantava, capturava qualquer leitor inteligente, e tudo isso usando a mais risível, a mais autêntica, a mais louvável e deliciosa sacanagem baiana. Recordo-me claramente de cartuns e tiras feitos por ele há já vários lustros. E ainda rio muito com todos, sou capaz de citar de cor textos dos balões com as falas de seus personagens, da mesma forma que, em filmes norte-americanos, cinéfilos adolescentes citam longos diálogos entre protagonistas de seus filmes preferidos. Lage era universal e ao mesmo tempo, profundamente baiano, seu Humor escreve-se assim, com H maiúsculo. Ele fazia um Humor popular, Humor moleque, Humor intimorato que arrostava os poderosos de plantão. Neste presente tempo em que o Brasil vive dias sombrios, frutos de governantes ilegítimos teleguiados por forças do mal, guindados ao poder por vias de um golpe abjeto e fraudes nefárias, Lage faz falta, muita falta, com sua lucidez, sua coragem, sua sagacidade, seus cartuns reveladores, capazes de traduzir toda a canalhice contida nos atos dos que estão destruindo sonhos, esperanças, vida cotidiana, espalhando o medo, a alienação, a submissão, tornando pó todos os direitos trabalhistas, dando privilégios aos já muito privilegiados, e entregando de bandeja aos gringos nossas riquezas pátrias, relegando o Brasil ao humilhante papel de mera colônia, em um inconcebível e inaceitável retrocesso.
Dona Benedita, mãe de Lage, Seu Anísio, seu pai, acertaram em cheio na escolha de seu prenome, Hélio. Como Hélio, o Sol, Lage brilhou intensamente nesta terra, nesta vida e nos iluminou a todos.
**********Pesa-me dizer que não existe um site unicamente dedicado a Lage, seus cartuns, caricaturas, tiras, quadrinhos e pinturas, e mesmo uma biografia com os detalhes de sua brilhante carreira. Para ver trabalhos do cartunista Lage, há que se procurar no Google ou outro buscador. Também é possível ver uma bela mostra de seu trabalho clicando neste link:
http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/arquivos/File/lage/biografia.html

Batman em um mundo de fundamentalistas e obscurantismo.

 
Nos quadrinhos, na telona do cinema, na telinha da TV, Batman sempre agradou. Muitos são os fãs que preferem a versão que mostra o cara como um herói soturno, sombrio, misterioso e implacável, que sói vociferar com voz gutural terríveis ameaças aos vilões,  em filmes e HQs. Já eu, geminiano da gema, sempre curti de montão aquele Batman dos seriados plenos de humor feito de sutilezas e fartas onomatopeias com Adam West e Burt Ward, que deixam de cabelos em pé tais fãs mais ortodoxos e, de quebra ainda, magotes de fundamentalistas que se assumiam como inimigos de qualquer herói de HQs, além das próprias HQs, claro é. Sim, eles já existiram de forma escancarada, fantasiados de guardiães da moralidade. Quem os consideravam extintos estão vendo que eles apenas se embuçavam nas sombras, silentes, esperando o momento de deixarem os fétidos esgotos em que se ocultavam. Depois da era macartista, a histeria generalizada deu um tempo e dizer que os quadrinhos, que são arte do diabo, que desencaminham criancinhas desavisadas e podem conduzir ao crime passou a pegar muito mal e ninguém faria sucesso com um discurso arcaico e equivocado desses que funcionava de com força nos anos cinquentas. Os tais fundamentalistas nesse passado não muito distante exibiam orgulhosamente suas caras assustadores e eram tão malucos quanto qualquer fundamentalista. Muito devido a estes caras e a maneira como viam o Bat-seriado e muitas HQs, foi que surgiu a tal teoria contida no livro "Seduction of the innocent", de Frederic Wertham - o Diabo o conserve - que redundariam no Comics Code Authorithy, de triste memória, e no Código de Ética, versão brasileira desta insanidade criada para salvar nossas almas do inferno e que só fez foi dar mais um golpe no movimento pela nacionalização dos quadrinhos neste patropi abençoá por Dê, prejudicando em muito os desenhistas dessas plagas tupinanquins, digo, tupiniquins. Nos dias atuais é fácil constatar que perigos assim voltaram a rondar nossas existèncias. O extremismo religioso vem se alastrando com toda sua estupidez e toneladas de preconceitos e moralismos os mais esdrúxulos que retornaram para nos assombrar. O obscurantismo político e social retornou com mais ousadia. Pesa-me dizer que muitos bons profissionais das histórias em quadrinhos mostraram e mostram ser tremendamente alienados ou, pior, que são política e socialmente retrógrados. Triste ver que uns caras que admiramos pelo seus belos trabalhos participaram ajudaram de alguma forma a trazer de volta o que há de pior para a nosso país e, tolinhos, para eles próprios, como o atual momento político com suas leis e decisões que estão afetando de forma profundamente nefasta nossa economia gerando grandes perdas para a população brasileira. Quanto mais a economia for danificada menor será o campo de trabalho dos desenhistas e argumentistas e coloristas e redatores e editores. Incluindo os que apoiaram a volta das trevas. Por serem de curto alcance mental, tais desavisados demorarão a cair em si, caso caiam. E nào adianta iluminar os céus com o bat-sinal, pois Batman também corre grandes perigos contra sua longa existência agaquesística.
Neste desenho acima usei um bat-lápis 2B, uma bat-caneta nanquim 0.5, um bat-pincel seco, um belo bat-reticulado e um precioso bat-graminha de Photoshop. Santa informática, Batman!
(290314)

05 outubro 2019

H. Lima, o Lima Limão, um raro artista da Bahia.

Horiosvaldo. Este é o nome que ele recebera em pia batismal. Horiosvaldo, sim senhor. Assim, com H e tudo. Horiosvaldo Moura Lima, a quem todos chamavam apenas de Lima. Às vezes, jocosamente, de Lima Limão. Artista plástico, gravador de rara habilidade no manejo da goiva que em sua mão penetrava a madeira sem a ela causar dores. Dali iam surgindo casarios com amplas janelas, céus, mares que ele ao final pintava com sua sensibilidade de artista raro. Cursara a Faculdade de Belas Artes sem no entanto concluir o curso, seja por dificuldades econômicas ou por entender que o chamado ensino superior não lhe traria o que a prática generosamente lhe dava. Mal eu chegara de Sampa para morar na Bahia, conheci Lima e ele de pronto me adotou como irmão mais novo. Me acolheu em sua casa, integrou-me em sua família como se um irmão de fato eu fosse. Sua estratégia de vida consistia em pegar os poucos caraminguás que tinha no bolso, conseguir uns dois compensados pequenos, umas poucas bisnagas de tinta acrílica. Assim munido, criava duas belas obras de arte e com elas sob os braços lá ia ele - e eu, fazendo as vezes de fiel escudeiro - pelos edifícios do Comércio visitando profissionais liberais e pequenos empresários aos quais ele mostrava suas criações até que alguém as adquirisse. Então, cheque no bolso, deixávamos a Cidade Baixa pelo Plano Inclinado, atravessávamos o Terreiro de Jesus e íamos direto ao brega, no Pelô. Com as melhores e as mais puras intenções, frise-se. Enquanto descíamos as ladeiras do meretrício, onde a vida imitava os livros de Jorge Amado, das janelas vinham motejos de femininas vozes dirigidos ao meu amigo de corpo franzino: "Macarrão 38!", "Lima Limão!". A elas ele devolvia, sorrindo: "Lindinalva, magrela!", "Marizete, roçona!". E seguíamos sem nos deter, pois no brega não estávamos para desfrutar das gentis senhoritas que ali viviam de mercar seus corpos, mas para trocar o tal cheque recebido com algum coligado, dono de bar, que mediante um ágio, colocava dinheiro vivo na mão de Lima que já sabia o que fazer com ele. Parte seria destinada à manutenção do lar, entregue à Maria, sua fiel companheira de todas as horas, mãe de seus três rebentos, que assim compraria munição de boca para os próximos dias. Esta era a preocupação mor de meu amigo que, enquanto vivo foi, portou-se como um pai exemplarmente zeloso que amava com  extremado carinho sua prole e dela cuidava sem incúrias. Uma segunda parte da verba auferida seria para compra de novo lote de material - madeira e tinta - para fazer os próximos quadros, o que garantia este ciclo. E uma terceira parte era destinada a pagar uma série de velhas contas em pequenos botecos, visgueiras e cacetes-armados onde Lima costumava beber sua caninha Saborosa e pendurar as contas. Nem sempre era possível pagar a todos, era preciso fazer uma seleção criteriosa. E muitos ficavam de fora da partilha. Estes ele evitava mudando de calçada e de ruas. E me dizia, enquanto caminhávamos: "Seu Paulo, vamos desviar por aqui. Ali naquela rua tem um cara que está me devendo uma boa grana. E eu não quero receber de jeito nenhum!". Saudade. Muita saudade, Lima Limão.
(05/11/14)

02 outubro 2019

Qualquer música. E um mundo de cores.

    A música, ah, a música!, essa paixão que surge mui precocemente na vida de todo ser humano. Paixão que se apodera de nossa alma, vinda através dos pavilhões que temos assentados, um em cada lado de nossos crânios. Música, um tema pictórico dos melhores e, por isso mesmo, dele usam e abusam artistas plásticos de todo esse imenso orbe. Essa pintura aí em cima foi feita em tela de dimensões 1,50m x 1,00m. Na execução do esboço usei lápis 02, daqueles mesmos que desenhistas usam para desenhar em papel. Já para a pintura em si, usei, como sói acontecer, uma antiga companheira e cúmplice, a sempre eficaz tinta acrílica, de secagem muito mais rápida que a tinta a óleo, além de não ser tóxica como essa última. Para mostrar que sou um cara versátil, um artista eclético, de múltiplos talentos, nela empreguei um toque de humor de caricaturista na construção das figuras, uma cantora e seus músicos em plena faina musical. Te cuida, Pablito Picasso!
( 270116)