13 fevereiro 2019

Festa de Yemanjá na Bahia, aniversariantes ilustres e os mais notáveis amigos.

Da esquerda para a direita, mas não ideologicamente: o cartunista Café, aniversariando, o notável e intimorato cartunista Cau Gomez, o mix de empresário e Juiz Federal de alto calibre, Getúlio Soares, and me, Setúbal.
José Carlos Café, um dos cartunistas que aniversariaram no dia 2 de fevereiro. O outro, para nosso pesar, fez forfait.
 Devidamente paramentado com as cores de Yemanjá levei-lhe uma rosa branca simbolizando meu amor por ela e pelas tradições de uma Bahia que aprendi a amar com devoção, principalmente devido a Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé.

A passos largos vou andando a caminho de uma das praias do Rio Vermelho, determinado a levar meu presente para a Rainha do Mar. Em meus ouvidos, por todo o trajeto, vai ecoando, potente e estentórea, a voz privilegiada de Dorival Caymmi: "Dia 2 de fevereeeeiro, dia de festa no mar, eu quero ser o primeiro a saudar Yemanjá". Ao meu lado, segue meu amigo, o cartunista Café que, por sinal, faz aniversário precisamente nesta data magna da fé afro-baiana. Curiosamente, além dele, o cartunista Nildão também aniversaria no dia 2 de fevereiro, veja você, leitor amigo. Anos seguidos levei meu abraço a Nildão, que no dia dedicado a Yemanjá, em comemoração natalícia, costumava abrir as portas de sua cobertura no Red River para receber amigos para um papo da mais elevada categoria, bebidas revigorantes e deliciosos canapés na base do petit comité. Em sociedade, tudo se sabe. Isso se iniciava pelas manhãs, estendendo-se até às tardes quando, então, partíamos para encontrar pelas ruas amigos outros que participavam da festividade da Rainha das Águas. Uma alegria atrás da outra, agradáveis encontros com amigos de fé, irmãos, camaradas. Não foram poucas as vezes em que, em tais recepções compareci para abraçar Nildão, um amigo pra lá de porreta. Vários anos de festejos depois, deu-se que ele resolveu diversificar e já não recebe seus amigos em casa, como antes, sendo que agora toma outros rumos, só vai a chás dançantes onde não sou convidado, e eis que ficamos sabendo só dias depois do consummatum est. Um nosso antigo amigo comum, habitué das festas nildãonianas, em tom lamentoso e um tanto ressentido de não poder estar com o amigo querido, queixou-se a mim: "Setubál, fomos limados da festa do Nildão". O resultado é que este ano nem ver eu vi o cidadão Josanildo Lacerda para o costumeiro amplexo fraternal. Não o vi, mas mui felizmente, em contrapartida vi o outro aniversariante do dia, meu querido brou José Carlos Café. O ano passado marcamos e, juntos, lá fomos ao Rio Vermelho levar rosas para Yemanjá. Neste ano repetimos a dose pelo segundo ano seguido, sendo que aqui na Bahia este segundo ano bisado significa que inauguramos uma nova tradição, nesta terra de tantas tradições que atravessam décadas e décadas. Para aumentar nossa alegria, amigos chegadíssimos chegaram para dividirmos mesa, cervejas, moelas e bolinhos de bacalhau com um molhinho de pimenta divino e um papo mais divino ainda. Entre esses chegados, tive a felicidade de abraçar um cara que eu já não via há um bom tempo, o fantástico cartunista Cau Gomez, gente da minha querência. Aproveitamos para colocar o papo em dia. Para ampliar tantos momentos de felicidade, pintou no pedaço outro amigão, Getúlio Soares, célebre fundador da revolucionária livraria Literarte, onde foi partner de Nildão. Mais amigos e amigas foram chegando, chegando, e tudo foi perfeito. Fechamos com uma visita à rua Fonte do Boi, onde o som corria solto e me surpreendeu o vasto número de pessoas participando da festa. Fico me perguntando o porquê de tanta gente, em grande parte vinda de diversos recantos do país. Talvez porque a Bahia ainda seja uma terra que se mostra uma resistente reserva de fé e alegria em tempos tão bicudos como os que ora atravessamos, e por aqui, malgrè tout, ainda é possível para as pessoas se motivarem a se livrar de dores e atribulações dançando ao som de músicas com jeito de despretensiosas, comemorar a vida, se olhar nos olhos, manifestar a amigos o que lhes vai nas almas, se tocar, se namorar, sorrir, se confraternizar renovando as esperanças de termos de volta um país mais saudável. E para se abraçarem com a mesma alegria com que nós, felizardos confrades, abraçamos o grande amigo Café. Seu abraço levo depois,  como sem falta, Nildão.