27 fevereiro 2019

Florbela Espanca, a grande poetisa portuguesa e seu amor ainda maior / Umas minas que eu amo 3

Você, gentil e castíssima leitora, já amou alguém com todas as forças de sua delicada almazinha? Já sentiu no seu âmago as mais inebriantes sensações por alguém, um sentimento que, vencendo sua vontade pessoal, suplantando suas forças, se tornou inevitavelmente algo fanático? Acha difícil confessar isto até à sua mais fiel confidente? Não consegue falar, sequer escrever sobre algo tão íntimo, tão pessoal e revelador? Pois leia estes versos do poema "Fanatismo", da poeta portuguesa Florbela Espanca escritos, para quem bem os quisesse ler, ainda em meados dos século 20: "Minh'alma de cantar-te anda perdida, meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão de meu viver, pois que tu és já toda a minha vida!" Soou familiar aos seus delicados tímpanos? Pois saiba que o compositante cantante gritante, Fagner, musicou lindamente, cantou e gravou tais versos em um disco e se sua gaia pessoinha não conhece a obra de Florbela há de ter conhecimento desta belíssima canção e, em momentos em que sente o romantismo tomar conta do seu mais que sensível ser, há de entoar-lhe os belíssimos versos  que são de autoria desta maravilhosa portuguesinha que não viveu mais que 36 anos. Florbela não se envergonhava de seus sentimentos, suas paixões, seus desejos. Antes os gritava alto, bem alto, numa época de moral repressiva em que tudo era tabu e sujeito a punições abjetas. Cantava o amor real, verdadeiro, e decifrava a própria alma ultrapassando os limites do mero erotismo em versos perfeitos construídos com segurança e delicadeza por quem dominava os segredos da melhor poesia. Recolhi algumas frases da bela alentejana e repasso aqui, admirador que sou: "Olhos a arder em êxtases de amor, boca a saber a sol, a fruto, a mel: sou a charneca rude a abrir em flor!" ( Charneca em flor ), "No divino impudor da mocidade, nesse êxtase pagão que vence a sorte, num frêmito vibrante de ansiedade, dou-te meu corpo prometido à morte!" ( Volúpia ), "As tuas mãos tateiam-me a tremer...meu corpo de âmbar, harmonioso e moço é como um jasmineiro em alvoroço ébrio de sol, de aroma, de prazer!" ( Toledo ), "Meu amor! Meu amante! Meu amigo! Colhe a hora que passa, hora divina, bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!" ( Passeio no campo ), "Meus pequeninos seios cor-de-rosa, se os roça ou prende a tua mão nervosa, tem a firmeza elástica dos gamos..." ( A tua voz na primavera ). Muitas mulheres inexoravelmente sentiram sentimentos quejandos. Mas traduzi-los com esta precisão, lirismo e coragem, só mesmo esta bela flor, Florbela.
(280114)