13 agosto 2020

O Covid, a pandemia e o último casal vivo do Brasil.

Em tempo de pandemia e forçada quarentena, buscando preencher suas horas ociosas, um certo vivente anônimo, enclausurado em seu apê, vive dias de enfadonha rotina trazida pelo isolamento anti-corona. Eis que por seu cérebro desfilam toda sorte de pensamentos e ele resolve que é chegada a hora de burlar o ócio pandêmico redigindo um livro de ficção científica, um best-seller que venderá às toneladas e o conduzirá aos píncaros da glória literária. Sim, tempo não lhe falta, e ainda por cima o atual clima apreensivo reinante no país colabora, as palavras brotam em sua mente aos borbotões e com facilidade ele vai delineando o cenário da trama. Empolgado, qual um literato experimentado facilmente vai desenvolvendo seu promissor argumento descrevendo os momentos em que uma insólita pandemia avança silente sobre povos diversos, dizimando populações inteiras mundo afora. Morrem centenas, milhares, milhões de pessoas, até que sucumbem bilhões e no mundo resta apenas um único casal. Estão sós no planeta Terra, como se fossem a bíblica díade, a parelha criada pelo Onipotente para habitar o Éden. São os novos Adão e Eva, cabendo-lhes a divinal missão, o glorioso papel de se reproduzirem em prol da continuidade da espécie, de reconstruirem a raça humana. Como conseguiram ficar vivos diante de tamanha calamidade não nos é dado saber, são insondáveis as razões. Um único macho, uma única fêmea, os únicos seres vivos que restaram no orbe. Ela se chama Damares e ele se chama Jair Messias. E é precisamente aí que o escriba neófito estanca, arregala os olhos, empurra o teclado do laptop para longe de si e emite um estrondoso brado: "Mas que porra é esta que estou escrevendo?!! Ficção científica é que não é!! Isto daqui está mais é para enredo de um daquele pavorosos filmes de terror japoneses!!"
O candidato a escritor, percebendo-se traído pelos meandros de sua mente fértil, desiste de alcançar os tais píncaros da glória, a sonhada celebridade a ser atingida através dos seus escritos. Incontinenti, rasga e joga os manuscritos na lata do lixo e vai acessar uma rede social qualquer onde passa a postar umas fotinhas de seus pets, tão fofinhos, uns amores.