04 agosto 2020

A noite em que Raul Seixas baixou em Rita Lee

Raul Seixas, o rock'n roll brasileiro em pessoa, de blue jeans, blusão de couro, de barba ou cavanhaque, topete e de óculos escuros, na falta de um providencial colírio. Quando era ainda um pequerrucho, um glabro maluquinho belezinha, Raul foi alimentado com suculentas mamadeiras de rock'n roll. Já um adolescente, Raulzito tomou muito rock em copos duplos, em garrafas e também rock na veia. Viveu a vida como um roqueiro autêntico e como um legítimo roqueiro se foi deste planeta na carona do homem do disco voador. A cantora e compositora Rita Lee, alma d'Os Mutantes, bem mais light - mas com muitíssimo talento e irreverência - trilhou o rock por caminhos que escolheu trilhar, bem menos heavy. Até que um dia, roqueira de corpo e alma, mas já uma senhora,  resolveu se despedir dos palcos. Numa dessas despedidas, em Recife, viu-se na obrigação de dizer umas tantas e boas para policiais truculentos que estavam agindo com extrema violência contra jovens fãs de sua empolgada plateia. Disse aos fardados o que eles precisavam ouvir e por eles foi detida e conduzida aos costumes para uma delegacia de polícia como se fora qualquer adolescente roqueira. Lá seguiu bradando sua mais que procedente indignação, o seu protesto de artista mui consciente de que sua arte vai além dos cifrões. Não se calou, disse o que era preciso ser dito aos brucutus fardados. Certamente o espírito de Raul Seixas, o Maluco Beleza, baixou na cantora e ela fez o que uma autêntica roqueira teria que ter feito. Titirrane, Rita Lee, titirrane! Tá rebocado!
(020613)