É do bravo comandante Fidel Castro o olhar nostálgico que perlustra o mar caribenho nesta tépida noite de estio em que intenso plenilúnio ilumina toda esta Baía dos Porcos. Doces reminiscências povoam a mente de El Comandante, certamente evocando vitoriosas pelejas contra esbirros enviados pelos porcos imperialistas ianques em pretérito não muito distante aqui neste mesmo cenário. Aboletado sobre larga rocha, Fidel Alejandro Castro Ruz abre uma caixa de madeira onde guarda um tesouro dos mais preciosos, seus puros cubanos. Prelibando os doces momentos vindouros, vagarosamente retira da caixa um dos charutos, acende-o e saboreia cada baforada demonstrando inebriante prazer. Neste preciso instante entra em cena um outro personagem, o adolescente cubano Osmani Simanca, ainda um cartunista neófito mas muito promissor. Eis que por ali passando, este novel avista Castro em pleno deleite tabagístico e inocentemente toma a iniciativa de solicitar-lhe um charuto para compartir tão prazeroso momento. Indignado, com chispas nos olhos, a mão deslizando para o coldre à cintura, o líder guerrilheiro vocifera: "Que puerra es esta, pendejo?! Quierendo hacer socialismo moreno con mis sabrosos puritos?! Sarta fuera, bundón!!". Assustado com a virulenta reação, o jovem Simanca tratou de evadir-se, célere, balbuciando em solilóquio: "Hay que adolescer, péro sin perder mi gostosura!". Praguejando contra Fidel Ruz e todos seus compañeros revolucionários, Osmani cogitou que poderia sofrer una retaliación nel paredón e decidiu que, para preservar sua vida que ainda adolescia, teria que se picar rapidinho da ilha. E foi o que fez, embarcando em uma lancha que fazia a linha Havana-Isla de Itaparica, na Bahia. De lá pegou um ferry-boat para Soterópolis. Na capital da Bahia chegando tratou de invadir a redação do jornal A Tarde armado com lápis e pontiagudas penas para nanquim, preconizando que era chegado o momento de se fazer uma revolução gráfica no tradicional periódico baiano. Desse heróico dia muito tempo já transcorreu e de lá para cá muitos jornais impressos, atingidos pela crise econômica mundial e pela chegada impactante da internet em nosso cotidiano, foram indo pras cucuias, outros sobrevivem a duras penas. Devido tais fatores e outros mais como a sempre deplorável censura editorial, muitos profissionais foram dispensados das redações, inclusivelmente os desenhistas gráficos, entre eles Osmani Simanca. Mister se faz ressalvar-e que enquanto exercia com competência sua função de chargista no periódico soteropolitano Simanca deixava muito claro que jamais perdoara Fidel Castro pelo incidente entre ambos naquela noite na Baía dos Porcos. Seu amor por Cuba jamais arrefeceu, mas recebia com indiferença certas notícias vindas de lá. Não quis nem saber quando Fidel, por ordens médicas, já não fumava mais seus tão apreciados puros e, já provecto, passara o comando de Mi Crocodilo Verde para seu hermano Raúl. Isto em nada animou Osmani a retornar à sua amada Cuba que é tão dele quanto de Celia Cruz, Bola de Nieve, Nicolás Guillén, Pablo Milanés, Rita Montaner, Ninon Sevilla, Perez Prado, Bienvenido Granda, La Lupe, Carlos Puebla, Omara Portuondo, Antonio Machin, do pessoal do Buena Vista Social Club e de tantos outros cubanos notáveis. Vivendo na Bahia há tanto tempo, Simanca abaianou-se de tal forma que já não quer mais saber de beber su mojito en la bodeguita, prefere entornar umas caipirinhas no Mercado das Sete Portas, já não dança salsas, rumbas ou chá-chá-chás, só quer mesmo saber de quebrar em sambões. Tornou-se Mestre em capoeira, não perde um só Ba-Vi na Fonte Nova e já está providenciando mudar o seu nome para Osmani Caymmi Amado Rocha Ubaldo Veloso Gil Simanca.
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(241013)