Exibicionismos de erudição, sempre gratuitos e
desnecessários, não são encontradiços nos textos do cronista Biratan Porto.
Suas crônicas no livro Ora, mas tá!
chegam aos leitores trilhando o caminho da simplicidade, despojadas de
ludibriantes recursos linguísticos em que o supérfluo, desfavoravelmente,
pudesse vir a prevalecer. Por aí começam as muitas riquezas contidas em suas
crônicas exibidas nesse livro, frisando que essa dita simplicidade não é,
digamos, simplesmente tão simples. Coisas aparentemente triviais para os mais
desatentos transformam-se em um rico mote para as crônicas de Biratan. Quem
haveria de adivinhar as reminiscências que podem se encerrar em uma prosaica
folha de imbaubeira caída em uma calçada? As pessoas comuns, certamente, não.
Passariam mil vezes por ela sem dela se darem conta. Até poderiam pisá-la, em
seu desatento caminhar. Da via pública o cronista recolhe a folha e, extasiado,
observa-a com atenção. Embevecido, termina por viajar por suas fibras e
nervuras, transportando-se no tempo até sua infância em Castanhal, em uma
jornada sentimental que também arrebata a nós, seus leitores, e lá vamos nós
com ele. Cada crônica de Biratan nesse seu livro é um périplo a nos conduzir
por emoções de todas as grandezas, por reflexões existenciais oriundas dos mais
improváveis recantos, por grandiosidades narradas com rara sutileza. Seus
textos, em alguns momentos, por vezes se fazem acompanhar de uma leve ironia ao
abordar instantes da vida em que vigora o inesperado, as reviravoltas da
existência, o errado sobrepondo-se ao correto. A criatividade do cronista se
faz onipresente, o seu olhar prima pela busca do insólito, do pitoresco, do
inédito, do risível, seja relatando a vida de um incorrigível conquistador e
suas pretendentes, seja mostrando um delegado chegado a excessos arbitrários, mas
chegado muito mais ao sambista Geraldo Pereira. Seja, ainda, narrando os
detalhes de uma imponderável corrida de galinhas ou mesmo expondo as angústias
de uma kafkabirataniana barata e sua luta para salvar de trágico holocausto suas irmãs e todo seu povo. As crônicas de Biratan não deixam espaço para a
dor, melancolia ou tristeza. Nelas sempre se faz visível o tom positivo, para
cima, comprovando que o autor acredita que o ser humano, malgrado seus
equívocos, pode se fazer viável e experimentar a felicidade no planeta que
habita e viver em harmonia com os seus semelhantes. Tudo isso se nos apresenta
alinhavado pelo refinado humor desse inspirado cronista, Biratan Porto, um
humor que ora nos chega de forma sutil, contida - e aí há que se ficar atento
para não perder o riquíssimo sabor dessas passagens – e por vezes, esse humor
se nos invade de forma histriônica e não há como conter uma gostosa e
revigorante gargalhada. *****Para
os que querem experimentar o prazer de ler as crônicas de Biratan e as de seu partner, o também cronista Max Reis, que
com ele divide as páginas desse Ora, mas
ta!, devo dizer que esta edição está esgotada. Resta o consolo de saber que Biratan esta em vias de lançar um livro inedito de crônicas. Aguardemos.