Meninos, eu vi. Tempos houve em que existiam redações de jornais impressos e nelas ilustradores e chargistas havia. Fui um deles num tempo em que havia galos, noites e quintais e as tais redações de jornais impressos, também chamados de gazetas ou periódicos. Ou matutinos e vespertinos, conforme o período do dia em que circulassem. A informática tornou dispensável a presença física de alguns profissionais de seus quadros, entre eles, os mencionados chargistas e ilustradores. Por outro lado, essa mesma informática também contribuiu em muito para que os próprios jornais em papel fossem acabando, acabando, acabando e hoje apenas uns mais recalcitrantes, contumazes e renitentes insistem em sobreviver, em sua quase totalidade formado por aqueles cujos proprietários são políticos ou têm convenientes ligações com os que o são, o que lhes garantem oportuníssimas publicidades pagas com verbas oriundas do dinheiro público. Quanto ao ilustrador, ao chegar nas hoje volatilizadas redações, esse profissional recebia dos editores laudas com os textos de cronistas ou colunistas ou jornalistas, para ler e fazer um desenho baseado no conteúdo dos textos. Pra quem gosta de criar e desenhar, uma coisa maravilhosa. Quando discorro sobre este assunto, costumo repetir que eu sempre buscava experimentar técnicas diferentes para fugir da rotina, dos lugares comuns, usando do mesmo capricho no caso da ilustração ser para o caderno de Cultura, suplementos culturais, páginas destinada à política ou ao futebol. Para você, sapiente leitor, aí vão mais três singelos exemplos desse tipo de desenho e a respectiva técnica empregada:
1. Ilustração de texto para uma crônica de um Caderno B. Normalmente em uma ilustração produzo um esboço a lápis, geralmente HB ou B, e depois cubro esse traço a lápis com tinta nanquim. Aqui, dispensei o uso da tinta nanquim e o tal traço a lápis B ganhou status de arte-final.
2. Ilustração para crônica sobre esculápios que costumam entornar uns gorós, esboçada com grafite B, finalizado com pena bico de pato e nanquim, efeitos sobre o corpo executados com um pincel Kolinsky velhusco, bem descabelado, com as cerdas abertas umedecidas em pouco nanquim, um quase nada, em uma técnica que sempre curti muitíssimo chamada pincel seco. A corzinha sépia chapada foi colocada no Photoshop, só para dar um contraste na figura.
3. Para um caderno de esportes fiz esta ilustração sobre o E.C. Vitória, aí ameaçado por um rival disposto a tudo para arrasar o time cognominado de Leão da Barra. O detalhe da lanterna é ícone bem familiar para todos os torcedores do dito esporte bretão. Esboço com grafite B, finalizado com pincel Kolinsky number 2, colorido com tinta ecoline, bastante prática para se usar em trabalhos rápidos, tendo resultado muito semelhante à aquarela. Já se passou um bom tempo desde que esta ilustração foi publicada no caderno de esportes de um matutino da Bahia, mas a lanterna ainda é um adereço que, infelizmente para quem é rubro-negro, o leão segue insistindo em carregar por onde vai.
010718