01 junho 2020

Batatinha, Maria Bethânia e o circo proibido para tantos e tantos.

Só um compositor de talento muitíssimo vasto, dotado de imensa, de rara criatividade, poderia falar de desigualdades sociais sem resvalar no panfletário, sem patinar no pieguismo gratuito. Pois o sambista BATATINHA, batucando em sua caixinha de fósforo sempre muito bem afinada, sem se deixar enredar por raivas ou rancores, sem incorrer em qualquer espécie de alegado vitimismo, de uma forma serena, com a simplicidade dos que sabem das coisas, entre as muitas maravilhosas que fez como compositor, compôs esta canção de bela melodia e letra concisa e exata. Canção que, sem perder a poesia, fala de exclusão social, desigualdade, dos que vivem à margem da vida, escanteados, obrigados a apenas assistirem os mais privilegiados, apenas eles, desfrutarem das coisas boas da existência, enquanto a um mundaréu de gente vê-se obrigado a se resignar à mera condição de espectadores, colocados à margem, mantidos do lado de fora do grande circo que é a vida, apenas "escutando a gargalhada" dos que nadam de braçada em mares de privilégios. Essa canção inegavelmente cabe em qualquer lista das grandes canções feitas neste nosso país visceralmente musical, de tantos compositores, músicos e cantores maravilhosos. Por conta dela e do talento de Batatinha, aqui posto esta carica do grande compositor popular que fiz para uma gazeta usando bico de pena, trapo embebido em nanquim e uns respingos de guache branco. De quebra, adiciono um vídeo em que ninguém menos que a cultuadíssima filha de Dona Canô, Maria Bethânia Vianna Telles Veloso, empresta sua voz tamanha à bela, sugestiva e cativante composição do saudoso pai do meu amigo Lucas Batatinha.