Corria o ano de 1976 e Santo
Amaro da Purificação vivia dias de um regozijo sem precedentes em sua história.
Tudo porque Dona Canô, líder natural da comunidade e quitueira de invulgares
dotes e assaz justificado prestígio, decidira que seus mui deliciosos acepipes,
dantes restritos às privilegiadas papilas gustativas de seus familiares e uns
poucos agregados, iriam ser postos à venda para todo o povo santoamarense. Tudo
movido pelo nobre objetivo de angariar fundos para viabilizar a festa anual ao
santo padroeiro da simpática urbe. Sendo a venerável matriarca dos Vellosos,
Dona Canô contou com a consuetudinária participação de todos da família. Mesmo
os mais novos como o ainda glabro Caêzinho e sua mana Beta, Beta, Bethâninha,
ambos de prendas canoras aclamadas nas tertúlias do clã. A dupla chamou seus
amiguinhos Gilzinho e Galzinha que incontinentemente aceitaram o convite.
Unindo talento artístico com tino comercial o quarteto criou - e apresentava na
praça - um show de canto e dança de fazer Michael Jackson babar de inveja. Tudo
para ajudar na vendagem feita por nobres motivos. E com tal fim bolaram um
jingle em que preconizavam ainda mais as virtudes e a já reconhecida suprema
qualidade dos doces canônianos, os quais batizaram de Doces Bárbaros, usando um
neologismo da época. Sucesso total! Multidões acorriam à praça e as vendas
aconteciam aos borbotões. Com a renda arrecadada a igreja fez a mais linda
festa ao santo padroeiro que como reconhecimento retribuiu aos habitantes com
mais que farta distribuição de graças. Uma delas foi fazer com que entre o
público admirador dos meninos estivesse, de passagem por Santo Amaro, um
influente empresário do ramo musical que viu logo que em futuro mui breve eles
se tornariam grandes estrelas da MPB. E não pestanejou: contratou, célere, toda
a trupe que levou para Sampa. Lá montou o show Doces Bárbaros, aquele
mesmíssimo criado pelos precoces infantes para vender as canônianas delícias em
modesta ágora santamarense. O sucesso foi estrondoso como previsto e hoje os
Doces Bárbaros são conhecidos e reverenciados em todo o planeta graças,
sobretudo, às habilidades culinárias e ao axé de Dona Canô, a mui amada e inspiradora matriarca.
(10/08/13)