27 janeiro 2020

Wilhelm Reich, o nazismo, o fascismo, os EUA, o Brasil, o sistema que busca aniquilar os divergentes.

WILHELM REICH, PRISÃO E MORTE NOS EUA. 
Sobre o psicanalista e cientista natural antifa Wilhelm Reich, dizia o analista de Bagé, criação do escritor Luís Fernando Veríssimo: "Reich? Reich para mim é véspera do escarro!". Ainda que provoque sonoras gargalhadas, tal frase pode soar rude aos ouvidos mais refinados. Mas ela tem lá sua poesia, fazendo lembrar os versos de Augusto dos Anjos que dizem que se faz imperioso retribuir um beijo com um escarro. Sendo o analista de Bagé, "um freudiano de carregar bandeira, mais ortodoxo do que rótulo de Maizena e pijama listrado", não era de se espantar tal opinião emitida. Comecei o texto citando o personagem de LFV, buscando amenizar um pouquinho as coisas, vez que a vida de Wilhelm Reich, nascido em 1897 em Dobzau - hoje norte da Ucrânia, à época território do Império Austro-Húngaro - não foi exatamente um mar de rosas, do nascimento até sua morte. Reich foi um pensador de idéias fortes, que jamais abriu mão de suas idéias, muitas expressas através de livros que escreveu, tais como A revolução sexual e O combate sexual da juventude, A psicologia de massa do fascismo e Análise do caráter. Ele foi um dia colaborador de Sigmund Freud, mas rompeu com o "pai da psicanálise" por contestar conceitos dele dos quais discordava frontalmente. Tinha idéias próprias, por exemplo, sobre a função do orgasmo, idéias para os quais a psicanálise freudiana parecia não estar preparada, originando a dissidência. Reich preferiu prosseguir na elaboração de suas teorias e conceitos próprios, sempre dotados de um olhar novo, revolucionário. 
Como homem político, Reich não deixou por menos. Com a força de suas idéias combateu o nazismo e o fascismo, sendo perseguido com ferocidade. Para um homem dotado de extrema inteligência, uma visão clara e acurada como a dele, ficava fácil perceber o atroz e nefasto engano da população alemã e de países outros que acreditaram nas pregações do nazismo e do fascismo, enxergando neles a redenção para suas pátrias e povos. Tal clarividência é sempre um fardo pesado, doloroso de carregar e ele sofreu por enxergar tão claramente a cegueira popular e a que tragédias essa cegueira conduziria. Reich, no Brasil atual, sofreria em dobro tais dissabores vendo as enormes multidões de cegos caminhando com um sorriso nos lábios e a passos largos para um precipício de profundezas abissais, convictos que seguem a senda correta e que estão salvando a nação brasileira e a si próprios. Sofrendo a perseguição que sofreu, Wilhelm acabou sendo expulso pelos nazi-fascistas. Acabou indo morar naquela que se denomina "a pátria da liberdade", os EUA. E é aqui que tudo se converte em tragicamente irônico, dolorosamente irônico. Por suas idéias revolucionárias lá nos States ele também foi contestado e perseguido pelo chamado sistema que, sabemos bem, é inflexível com cidadãos considerados um estorvo, uma pedra no sapato, um obstáculo ao seus interesses pessoais mas que dizem interesse público. Para comprovar isto nem é preciso ir longe, basta olhar os fatos incrustrados na História deste auriverde torrão dito varonil, a passada e a recente. 
Falei em ironia e em tragedia porque dá-se que o psicanalista e cientista Wilhelm Reich, tido como um mais que inconveniente estorvo por tiranos dos governos nazistas e fascistas, terminou sendo preso, julgado e condenado pelas leis dos EUA. E se os psicopatas nazistas e fascistas, inimigos das democracias, não o mataram, os norte-americanos, que alardeiam serem os EUA a Pátria da Democracia, a terra da Liberdade, se incubiram de desempenhar esta abominável ignomínia. Reich foi encarcerado pelas leis ianques findando por morrer em uma cela na Penitenciária Federal de Lewisburg, na Pensilvânia. Por determinação das autoridades dos EUA, seus livros e instrumentos de pesquisa foram destruídos, no melhor e mais irretocável dos estilos tirânicos e totalitaristas. Suas idéias, no entanto, seguem vivas através de seus livros e de suas frases lapidares como esta: "A própria existência de um movimento fascista constitui uma expressão social indubitável do imperialismo nacionalista. Mas é o movimento de massas da classe média que possibilita a transformação desse movimento fascista num movimento de massas e a sua subida ao poder que vem cumprir a sua função imperialista. Somente levando em consideração estas oposições e contradições, cada uma de per si, é que se pode compreender o fenômeno do fascismo." Ler isto chega a dar arrepios, pois Reich parece estar descrevendo em minúncias o momento tormentoso que atravessa o povo de um certo país localizado abaixo da Linha do Equador.
Este retrato de Reich que ilustra a postagem foi feito por mim para o caderno cultural de um matutino. Intrepidamente, esbocei-o com lápis 2B sobre papel Canson 120 g. A arte-final foi feita com caneta nanquim e uma mais que prazerosa tinta aquarela.
(151218)