De Belém do Pará, onde tenho amigos do peito, recebo um
presente digno de rei que um desses amigos fraternos generosamente me envia.
Trata-se de algo assaz envolvente, mas não se trata de um disco de carimbó do
Pinduca, nem um tecnopop da vibrante,
esfuziante e contagiante Gabi Amarantos. É coisa saborosíssima, mas esclareço
logo que não é uma tigela recheada de um delicioso açaí. Trata-se de um belo
exemplar de Ora, mas tá!. Se você não captou, explico que
esse é o título de um livro de crônicas escritas por Biratan Porto e Max Reis.
Magistralmente escritas, devo acrescentar, na minha modesta avaliação de apaixonado leitor do gênero, vez que crítico literário não o sou. O livro em si, é bonito, tem belas
soluções gráficas para a capa e para os textos internos. Quanto aos autores,
caro leitor, como sua mente sagaz e atilada já percebeu, Biratan Porto é aquele
cultuado cartunista, autor de belos cartuns premiados mundo afora, por conta de seus
desenhos e ideias magníficas, muitas delas abordando temas ecológicos,
denunciando desmatamentos e a poluição que atinge criminosamente metrópoles,
lagoas, mares e rios. E por falar em mares e rios, Biratan não é nenhum peixe
fora d’água quando assume o papel de escriba. Na seara das crônicas ele
transita com a mesma desenvoltura com que traça seus magistrais cartuns, exibindo
sua proverbial criatividade, uma sensibilidade tocante, reveladora de uma autêntica
alma de cronista, que mergulha na sua rica memória afetiva para nos brindar com jogos e folguedos de sua infância saudável, plena de alegrias, ludicidade e descobertas vividas
com intensa felicidade por quem foi um típico menino do interior do Pará, para
quem as ruas, becos, praças e campos de Castanhal compunham um reino a ser
explorado e ele, um rei em seu corcel, intrépido, arrojado, destemido
vivenciando toda sorte de possíveis aventuras, momentos épicos e plenos de
magia, tão mágicos que um dia viraram letras, palavras, substantivos,
adjetivos, verbos e pousaram no papel das páginas que compuseram um dulcíssimo
livro de crônicas que li com intenso prazer. Além, muito além dessas
reminiscências vai Biratan, passeando também pela ficção com o mesmo olhar
observador, atento aos mais discretos detalhes ocultos nos lugares mais
recônditos. Mas reservarei isso para abordar em um próximo texto. Neste me cabe
contar também sobre seu companheiro de empreitada literária, Max Reis, que vem
a ser o outro cronista de Ora, mas tá!. Que
formidável dupla formam Biratan e Max
Reis! Max, também se vale de sua memória para buscar na infância - igualmente
vivida de forma intensa - e na sua juventude as lembranças de amigos fiéis,
lugares, folguedos, namoros, as paixões adolescentes e as maduras. Tudo
costurado com a mesma linha da emoção, própria de quem sente um perceptível
prazer em viver, sempre olhando as coisas de um ângulo bastante pessoal em que
se acumulam o humor, o amor, o filosofar, a indagação, a contestação, o apego
ao modo de vida próprio dos viventes do Pará, de detalhes simples à primeira
vista, mas com uma riqueza e exuberância que Max sabe captar, apreender e
revelar aos leitores de suas crônicas. Não se resume ele a fazer um memorial. Das
coisas vividas e vistas ao longo da de sua vida, Max Reis - mostrando
intimidade com as palavras – recupera detalhes que agora revela em minúcias,
coisas que por vezes escapa aos olhares dos mais desatentos, daqueles muitos
que passam pelas coisas olhando sem ver.
*****Com entusiasmo,
aconselho aos que são chegados a uma boa leitura, especialmente de crônicas,
que encomendem seu exemplar desse livro de leitura tão convidativa e prazerosa.
Para fazer a encomenda do livro basta enviar uma mensagem para http://biratan.cartoon@gmail.com . E é bom você não marcar touca, senão a edição
se esgota e aí vai ficar se lamentando. E quem olhar você, no maior desconsolo
por ter dado tal bobeira, há de dizer: “Ora, mas tá!”