11 outubro 2018

El gran Vázquez: um fantástico cartunista da Espanha e o filme sobre sua vida e criações.

 El gran Vázquez é nome de um filme de 2010 do cineasta espanhol Óscar Aibar. A película se baseia na vida - por sinal, bastantíssimo atribulada - de um dibujante de historietas, mais exatamente um historietista cómico español, ou seja, um retumbante e altaneiro desenhista de histórias em quadrinhos da Espanha, cujo nome era Manoel Vázquez Gallego. Segundo consta, Vázquez nasceu em Madrid em 24 de janeiro de 1930, sendo filho de pai espanhol e de mãe brasileira, vá vendo você como são as coisas nesse planeta azulzinho que habitamos. Essas atribulações da sua vida eram motivadas em parte por suas muitas dificuldades econômicas que faziam com que o bravo dibujante contraísse dívidas e mais dívidas e constantemente tivesse um monte de cobradores em seus calcanhares e ele tinha que ser mais escorregadio que sabão para escapar dos insistentes sujeitos. Vázquez não era viciado em drogas ou em qualquer tipo de jogo de azar, suas dívidas vinham do fato dele não se conformar com as limitações impostas pelos seus parcos ganhos como desenhista e, malgrado isso, insistir em levar uma vida com nível que ia além do que seus somíticos proventos lhe permitiam. Diretores da Editorial Bruguera tratavam de complicar ainda mais as coisas tirando-lhe todo e qualquer direito sobre os personagens que ele criava, agindo impiedosamente de uma forma injusta e antiética: ou ele assinava a cessão dos direitos ou não recebia nenhum vintém pelos desenhos feitos. Seus personagens, a exemplo de La famillia Cebolleta, Las hermanas Gilda e Anacleto, agente secreto, eram adorados pelos leitores, mas com os direitos autorais nas mãos dos patrões, pouco lhe rendiam. Nada recebia por eles além do valor pouco expressivo pago pelas páginas com as histórias que criava e desenhava. Tal situação abusiva era imposta também a seus colegas de prancheta na Bruguera, entre eles desenhistas que se tornaram famosos como Peñarroya e o hoje consagrado Francisco Ibañez, criador de Mortadelo y Filemon, no Brasil batizados de Mortadelo e Salaminho. Vázquez tinha um ótimo traço, era um artista talentoso que, de forma criativa, muitas vezes se inspirava em suas vivências cotidianas e colocava a si próprio como personagem de suas historietas, revivendo suas agruras e suas alegrias, como uma autêntica catarse em nanquim. Vázquez criava também toda sorte de subterfúgios para driblar a política injusta imposta por seus editores, não as aceitava passivamente como os demais. Enquanto isso, tinha sempre que usar de muita sagacidade para fugir do indesejável séquito de cobradores que o perseguiam a qualquer hora do dia. Seus problemas com o dinheiro e com os editores terminaram por levá-lo à cadeia sob a acusação feita pela Bruguera dele receber indevidamente valores monetários valendo-se de fraude, com direito a falsificações de assinatura pelo dibujante. De certa forma, isso seria um troco à exploração e vilania dos seus patrões, o que nos faz pensar em Vázquez como uma espécie de Robin Hood que tirava dos ricos para dar ao pobre, no caso ele mesmo. Para complicar um pouquinho mais as coisas, a vida amorosa de Vázquez também não era exatamente um mar de rosas. Gostava de mulheres, tendo vivido com sete delas em regime, digamos, de união estável. Através desses relacionamentos colocou no mundo onze filhos, onze boquitas para alimentar com leche, paellas e tortillas. Acusado de bigamia, Vázquez voltou a passar um período na cadeia. Óscar Aibar, antes de se dedicar integralmente ao cinema, trabalhou como guionista de historietas, ou seja, argumentista de quadrinhos, na revista Makoki. Nessa condição conheceu e conviveu com Manolo Vázquez e dele ouviu detalhes de sua vida pessoal que muitíssimo impressionaram o cineasta, surgindo daí a decisão de um dia levar ao écran um filme sobre o historietista famoso e seu modo diferenciado de viver nesse mundo. Quando chegou a ocasião de realizar a película, para interpretar Vázquez, Aibar chamou o ator Santiago Segura, fantástico como sempre. O roteiro é muito bem escrito, todo o elenco está bem, o diretor é habilidoso aos mostrar, de forma contida, as sequências com tom humorístico ou dramático. Não sei se as locadoras de vídeos têm em seus acervos El gran Vázquez. Na verdade, nem sei mesmo se ainda existem locadoras. Em todo caso, sempre é possível, com paciência e vagar, achar-se uma cópia do filme na internet. Para quem, a exemplo de mim, ama historietas, dibujos, dibujantes e o cinema, vale muitíssimo a pena.
(12/01/17)