Há toneladas
de filmes na história do cinema que nada de importante dizem ou propõem, feitos
por diretores que nada têm a dizer ou a propor. São meros produtos comerciais feitos
com o objetivo de gerar lucros econômicos, fabricados para atender a uma grande
faixa de público não muito exigente, que acorre às salas de projeção buscando um
filme feito para proporcionar momentos de relax, construídos com uma
narrativa nem um pouquinho complicada, repleta de lugares comuns, cheias de momentos déjà vu, de moral e desfecho previsíveis, atores bonitos e carismáticos, alguns efeitos especiais para enfeitar o bolo e ainda por cima
dublado, que esse negócio de ler legendas e olhar imagens é coisa intolerável. Quem achar que são uma boa pedida que os assista e sejam felizes. Quanto a esse filho de meu pai, essa semana procurei na internet, achei e revi Amores perros (no Brasil, Amores brutos), com o áudio original, um filme
do qual gosto muito, pois, felizmente, há diretores e filmes que não compactuam
com a mediocridade geral que assola o grande écran, diretores como o criativo e inovador cineasta mexicano
Alejandro González Iñárritu, que o digam os que assistiram seu Birdman, de 2014, com Michael Keaton. Amores perros é, surpreendentemente, o filme de sua estreia em longa-metragens. E que estreia! O filme é um soco no
estômago que tira o fôlego do espectador, tão emocionante é, tão bem escrito é,
tão bem dirigido, interpretado e montado é. Entre os atores, se sobressai a figura de um Gael Garcia Bernal bem jovem que, com a visibilidade
adquirida a partir dessa película, foi guindado à condição de astro
internacional, filmando com renomados cineastas outros, entre eles, Pedro Almodóvar e nosso Walter Moreira Salles,
entre outros. Ousado, emocionante, iconoclasta, criativo, surpreendente, Amores perros é
feito de narrações e sub-narrações, histórias e personagens de mundos
diferentes que acabam se cruzando pelo imponderável da vida. Fortes emoções
são reservados ao espectador que não consegue adivinhar como será a próxima cena nem as
soluções dos conflitos expostos, em meio ao amor, à paixão, a uma chocante violência urbana,
tudo alinhavado por Iñárritu de uma forma em que os perros do título são fatores
determinantes na deflagração de conflitos em que imperam emoções incomuns que tomam conta do espectador. Para os que apostam em filmes comerciais medíocres para angariar lucros, é bom dizer que Amores perros é uma das grandes bilheterias do cinema, o quinto em toda a história do cine mexicano. E o filme não precisou se valer da mediocridade, do lugar-comum e de velhas fórmulas para seu êxito comercial.
(06/12/16)
(06/12/16)