18 julho 2020

Setubardo, o maior dos poetas menores.

Quando, na antiga Grécia,
Peripatéticos mestres
Iniciavam seus pupilos na poesia,
Não podiam sequer desconfiar
Que num futuro solar,
Um belo dia,
Em Candeias, cidade da Bahia,
O maior poeta menor adviria.
Quando os parnasianos versejavam
Faziam versos exatos, 
passo a passo,
Utilizando esquadro e compasso,
Medindo com régua suas rimas
Sem saber que no Olimpo, 
lá em cima,
Minerva, deusa da Sabedoria,
Pesquisara na internet e já sabia
Que na mítica Candeias, Bahia,
O poeta Setubardo à luz viria.
Fui chegando já de olho bem aberto
E um esculápio tirado a esperto
Me deu uma palmada, 
pura covardia,
Pensando que eu choraria.
Vê-se que esse fulustreco,
Esse pulha de jaleco 
Não me conhecia,
Isto é certo,
Pois pro espanto de quem estava perto,
Ao invés de chorar, declamei uma poesia.
A primeira mamadeira a gente nunca esquece
E quando ela veio,
Trazia indesejável recheio.
À minha mãe, na surdina, 
Proferi frase ferina:
"Qualé, Dona Celina?! 
Só desejo papa fina!
Quero em minha mamadeira, 
Drummond, Pessoa e Bandeira.
Dispensa a vitamina de banana,
Me traga Baudelaire 
E muito Mário Quintana!"
Minha mãe, bem rapidinha,
Fez uma sopa de letrinhas
Formando versos, quadrinhas.
Assim foi que eu cresci,
Muitos versos ingeri,
Digeri, hauri, degluti
Do desjejum ao jantar,
E também pelo almoço.
Já na merenda escolar
Meu alimento, seu moço,
Era todo dia
A mais concreta poesia.
Em Candeias, me iluminei,
Em Santo Amaro da Purificação 
Me purifiquei,
Em Salvador, me salvei.
Hoje eu sou Setubovski,
Sou Quintanúbal,
Sou Setusto dos Anjos.
Minha lira eu tanjo
E nessa vida maluca
Refresco minha cuca
Fazendo versos na raça
Que recito na praça
De qualquer cidade.
Contra a mediocridade 
Dessa gente 
Não sapiente 
De mente vazia,
Poesia, poesia, poesia e poesia!
(01/01/08)