08 julho 2020

Camelôs da fé e suas igrejas que lhes dão fortunas e poder

Usando o nome de Deus como irresistível publicidade e o de Jesus Cristo como infalível garoto-propaganda, valendo-se de suas inegáveis capacidades de comunicação de massa e de persuasão, de seus poderes de oratória, vendem a fé como camelôs vendem produtos suspeitos numa esquina. Usando o forte poder da mídia televisiva e radiofônica, determinados sacripantas, ditos líderes espirituais, terrivelmente canalhas e anti-cristãos, cheios de uma enorme lábia e de um arsenal de más intenções, valendo-se de discursos inflamados, cheio de conceitos anacrônicos, equivocados, distorcidos, carregados de preconceitos que mal dissimulam um inconsequente e perigoso ódio aos que não caem nas insidiosas armadilhas que suas línguas bifurcadas armam para os incautos, conseguem encher as burras com fábulas de dinheiro que vêm, em sua maior parte, das classes mais pobres, carentes em todos os sentidos, da classe média e até de atletas, dos remediados aos milionários. Todos entregam de mão beijada a grana que dá a boa parte desses tais "líderes espirituais" o privilégio de morar em suntuosos palácios que em nada lembram os lares da maioria dos seus seguidores e bem diferente do que pregava o santo rabi. Eis o crime perfeito. Tão perfeito que nem considerado crime o é. E ai de quem tentar dizer o contrário aos fanatizados cordeiros que lhes entregam o que têm e o que não têm. Hoje, como bem se vê na internet, os próprios canastrões midiáticos oferecem farto material que evidenciam suas mutretas espantosas. Usando em tudo e por tudo o nome de Deus, sem cerimônias nem medo de punição. Há os que induzem os incautos a darem dinheiro que porventura ainda tenham, até mesmo estando desempregados. Outros choram copiosas lágrimas de crocodilo como que implorando doações aos ingênuos que se comovem. E por aí vai. É tudo explicitamente explícito pois eles se sentem intocáveis, inatingíveis. Há os que, sorrindo cinicamente, desafiam a quem queira desmascará-los e fazem ameaças acintosas dizendo ter um exército de advogados a sua disposição para processar os que se atreverem. Muitos deles estão ligados com o mais execrável lixo político e forte é a suspeita de que lavem dinheiro vindo de falcatruas dessas máfias políticas. Associados com o que há de pior na política,  tramam impor uma teocracia em que possam manipular toda a população, impor-nos seus torpes fundamentalismos.  E quando algum desses ditos líderes é apanhado em alguma de suas armações, há aqueles que dizem que o fiel não deve cumprir o seu papel de cidadão decente denunciando o inegável crime e o ladrão, que deve apenas mudar de igreja e não denunciar nada, tornando-se cúmplice do salafrário. Vivemos um mundo de disputas brutais em que os métodos utilizados por muitos são abomináveis. Pessoas buscam nas igrejas a esperança, a fé, razão para viver. Conheço líderes espirituais autênticos, seríssimos, gente que honra e dignifica o que fazem. Sou amigo pessoal de um pastor evangélico, pessoa consciente, que ajuda enormemente sua comunidade. Muitas pessoas, os chamados fiéis,  veem nas igrejas uma uma boia de salvação e se agarram fortemente a ela. É aí que entram em cena os aproveitadores usando o santificado nome de Deus para conseguir o que querem para si. Os muito crédulos, carentes e desinformados acreditam e depositam nesse bando, nessa súcia todas as suas esperanças e, é claro, seu escasso dinheirinho ganho tão duramente. Agarram-se a eles e a seus ditames buscando experimentar a sensação de que não estão sós nesses tempos de grandes e nefastos individualismos, torpeza e sordidez sem limites. Entre eles, iludidos,  os ditos fiéis sentem-se protegidos de todos as tormentas da vida. Querendo evitar o mal, seguem justamente para ele, sem desconfiar que estão voluntariamente se imolando no altar onde, disfarçado de bem, está o mal que dizem intentar evitar. Mas lembremos que muitos não embarcam nessa canoa enganados, iludidos. Por detrás dessas aparentemente puras intenções há também motivos não tão puros assim. Acumular riquezas sem repartir, ostentar, comprar carros, casas, enriquecer às custas dos semelhantes, por exemplo, é meta de muitos dos tais fiéis, para os quais o céu pode esperar, importando bem mais os bens materiais que possam vir a acumular graças ao que eles alegam ser a vontade divina. Que Deus ilumine e dê proteção a essa infausta gente crédula. E que nos livre a todos nós desses camelôs da fé. 
(071215)