Imenso e indecifrável é o mistério que cerca
nossas humanas existências. Por culpa da Dona Cegonha e seu longo bico, ou pela
existência do tal conceito de continuação da espécie ou, quem sabe, por
sermos mera e simplesmente parte integrante do chamado reino animal,
estando portanto sujeitos a atitudes em que a racionalidade é posta de
lado e o instinto prevalece, ou quiçá seja mesmo por obra de
um Grande Arquiteto, um Supremo Criador, sei lá, o fato é que a gente, sem
saber como e nem porquê, é colocado nesse mundo
grande e desprovido de porteira, sem panos a cobrir nossas
vergonhas e aqui chegando somos recebidos com um doloroso tapa no bumbum
dado por um sacripanta embuçado atrás de uma máscara branca. E neste
planeta estando, vem a vida, o fado, le destin, the fate, a sina, o destino e
a todo instante nos convida a dançar, seja uma lúdica cantiga de roda,
um saltitante samba de breque, um instigante rock'n roll, um delirante
axé, um sensualíssimo tango e mesmo a indesejável Marcha
Fúnebre, valha-me Deus!, Alá nos proteja!, Maomé, Jeová, Buda, Jah, Olorum e
Tupã olhem por nós e nos cubram com protetora égide! Não é preciso ser um
Nietzsche, um Schopenhauer para tirar da existência tais ilações. À medida
que vamos vivendo vamos recebendo nossos quinhões de pequenas ou grandes dores,
perdas e frustrações e de inesperadas e inexplicáveis alegrias que nosso peito
por vezes parece não saber comportar. Incontáveis vezes a vida nos dói, mas
somos a velha raça humana e sendo assim e assim sendo, Esperança
é nosso sobrenome. Escrevo essas prosaicas divagações movido pelo
fato de que acabo de receber uma mensagem pelo Facebook que me pegou
de surpresa, me alegrou e me trouxe intensa emoção. Quem a escreveu
foi meu amigo de longa data, o cartunista Paulo Paiva, marido de Suely
Hiromi Furukawa, editora, colorista, redatora, enfermeira, amiga,
esposa, mãe, avó. Pelos mistérios que nossas existências encerram, Paulo
Paiva sofreu há alguns anos um severo AVC. Mas mistérios outros determinaram
que Paulo não morreria nos privando de sua agradável presença, de sua
alegria, seu humor, de sua privilegiada criatividade. E o apoio da esposa,
Suely, da filha Paulinha e agora também de Eric, seu amado neto, ainda um bebê,
são fundamentais para Paiva driblar as dificuldades inerentes ao AVC. Confesso
que fiquei com os olhos marejados ao ler e reler a mensagem que
contém um desenho saído da cuca e das mãos do Paiva que mostra
uma criança representando o Ano Novo a nos desejar com um largo sorriso,
pleno do mais lídimo sentimento de esperança e de fé, um grande, um
muito bom ano novo para todos. Foi fácil decidir que mais uma vez vou me valer
do contagiante e elevadíssimo astral de Paulo Paiva e de Suely para estender e
desejar a todos os que curtem e acompanham este meu bloguito um graaaaande,
um redentor, um felicíssimo, um benfazejo e profícuo Ano Novo. Um
2017 bom demais para todos nós, galera!!
(Publicado originalmente no dia 30/12/14)