Definitivamente, eu disse? Diante dos estragos causados pelos seu cataclismo pessoal nada diverso disto se poderia supor. Pois eis que, passado um tempo não tão largo assim, sabe-se lá por quais insondáveis razões, como se nada do que sucedeu houvesse de fato acontecido, essa moça reaparece em cena, enviando-me um inesperado e intrigante e-mail o qual, por mais que eu tente, não logro decifrar o escopo que pretende. Em seguida, não satisfeita, com suas artes ela consegue o número do meu telefone e com uma voz dulcíssima, de timbre suave, me diz um amontoado de coisas que me soam pouco claras, até enigmáticas, das quais inutilmente tento traduzir o sentido e as reais intenções. A meio uma tempestade de emoções, um vendaval de sentimentos conflitantes, intento fugir, mas é inútil já que ela tem a capacidade de antever meus passos, me cercar os caminhos. Até que em um alucinado momento as minhas mãos - que a mim deveriam mostrar respeito e fidelidade - sem esperarem que eu com elas concorde, saltam insidiosas e vão deslizando pelo teclado do meu PC, digitando, escrevendo o que bem entendem, frases e palavras que revelam os meus segredos mais guardados, os desejos mais ocultos, as carências mais inconfessáveis e depois, sem esperar qualquer vênia ou autorização de minha parte, enviam para essa moça.
(111114)