29 setembro 2019

Robério Cordeiro e sua arte de HQs, cartuns e ilustrações

Robério Cordeiro é um cara que transita no desenho há décadas. Primeiro conheci seu trabalho de quadrinista e criador de personagens quando ele surgiu acompanhando Cedraz, este já um desenhista admirado, a quem Robério, jovem recém chegado lá das bandas de Jacobina, interior baiano, insistentemente chamava de senhor. Era um tal de "Seu Cedraz" prá lá e "Seu Cedraz" prá cá, coisa de se admirar, o respeitoso tratamento. O tempo passou, torcida brasileira, e como por aqui na Bahia não há muito espaço onde se publicar desenhos de quadrinhos, tiras e cartuns, Robério, ao invés de ficar chorando, sentado à beira do caminho, optou por colocar seu traço a serviço do IRDEB/BA, fazendo por lá toda sorte de trabalhos, desde ilustração para livros de teor didático, capas de CD, encartes e uma montanha de coisas onde cabe seu traço fino, sendo ele próprio um rapaz de finos traços. Qual um Wilson Gray, aquele ator brasileiro de ortodoxo visual, Robério Cordeiro atravessa a vida com a mesma cara de menino, o mesmo corpitio que tinha em adolescentes dias. Com o advento da informatização, Robério - hoje artisticamente maduro - ampliou seu universo, acrescentando ao seu cabedal o domínio do Photoshop e uma cacetada de programas outros que só fizeram aumentar a qualidade do trabalho desse artista gráfico baiano, que pode ser conferido nestes links aqui: http://www.roberiocordeiro.blogger.com.br
http://www.flickr.com/photos/roberiocordeiro
Ah, sim, há também o link para o Portal do IRDEB/BA. Você clica aqui neste http://www.irdeb.ba.gov.br/ e lá acessa a Galeria de Imagens para ver algumas das mui belas criações do Robério Cordeiro.
(03/11/13)

José Cândido de Carvalho, Coronel Ponciano, altercações e contendas

    "Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, de que tenho orgulho e faço alarde". Esta é a auto-apresentação de um dos mais apaixonantes personagens da literatura que tive o imenso prazer de conhecer. Saído da mente iluminada de José Cândido de Carvalho para as páginas de seu magistral romance "O coronel e o lobisomem", este maravilhoso Coronel Ponciano cativa, envolve, diverte, elucida, deslumbra e nunca mais se evade da memória de quem teve a ventura de ler o livro do brilhante escritor. Tão maravilhado sou pelo personagem que de quando em vez rabisco o papel tentando captar em um desenho - perdão, Poty, perdão! - o dito Ponciano na esperança, quem sabe, de que ele ganhe vida e que eu possa vê-lo in persona entrar em luta renhida contra onças gigantescas e vorazes, cobras de alta peçonha e de desmedida metragem, lobisomens sequiosos de carne humana e até contra o próprio diabo, o cão, o satanás, o coisa ruim. Sou mais o coronel!
(171014)

24 setembro 2019

Amor chocante / Setubardo fescenino

Você é uma figura tão chocante
Que na hora do amasso
Uso luvas de borracha
( Sua voltagem não é nada baixa.)
Você é uma mina tão brilhante
Que só olho pra você
Usando meus óculos Ray-Ban
(Minha luz, eu sou seu fã.)
Você é uma gata tão fogosa
Que pra namorar você
Uso roupa de amianto
(É fogo este seu encanto.)
Você é uma coisinha tão massa
Que se como muito você
Minha nutricionista se queixa
(Ai!, que prazer me dá comer seu sushi, minha gueixa.)
(01/05/11)

23 setembro 2019

Lage, Nildão, Setúbal, Zé Vieira, Alexandre Dumas, cartuns.

Aqui neste afrotorrão chamado Bahia, Lage, Nildão e eu, por um bom tempo formamos um inseparável trio, tipo os três mosqueteiros do cartum, um time coeso, como permite entrever esta caricatura aí em cima. O quarto mosqueteiro, o D'Artagnan, era Zé Vieira, com seu bigodinho que lhe dava o irretocável phisique du rôle. Sucede que Zé Vieira, um belo - ou será triste? - dia deu uma solene banana ao universo cartunístico, botou na praça um tremendo escritório de arquitetura que logo encheu-se de afortunados clientes, graças ao talento arquitetoso do rapaz, e desta forma ele - merecidamente, diga-se - tornou-se um argentário dos mais abastados pois foi sempre o mais sabido de todos nós nestas questões com l'argentainda que não fosse um mercenário, longe, bem longe disso. O problema com Zé Vieira era que um ofídio dos mais peçonhentos costumava aninhar-se nos bolsos das suas calças e ele, a precaução em pessoa, ali não metia sua mãozinha com medo de levar uma mordida letal e vai daí que em bares, restaurantes e botecos que frequentávamos jamais víamos a cor do dinheirinho de tão precavido confrade. Diz a chamada sabedoria popular que dinheiro poupado é dinheiro ganho e que de tostão em tostão se faz um milhão. Se verdade houver em tais frases, Zé Vieira certamente acumulou alguns milhões só do que economizou graças à sua justificada precaução contra mordidas de cobras, notadamente certas variedades de mambas negras que soem se aninhar em bolsos e bolsas de alguns viventes. Não sei se Zé Vieira sente saudade dos tempos em que cartunava e quadrinhava, mas ele sempre foi um cara que criava verdadeiras maravilhas, tanto no texto quanto no desenho. E sempre foi um dos mais substanciais e agradáveis papos desta Bahia com h. Como que inspirado por Alexandre Dumas nosso grupo cartunístico sempre primou pelo conceito de amizade mesclada com lealdade. Poderíamos mesmo empunhar nossos lápis, à guisa de espadas mosqueteiras, erguê-los fazendo tocar no alto suas pontas e, parafraseando os personagens de Monsieur Dumas, bradar alto, a uma só voz: "Um por todos e todos por um, em defesa do reino do cartum".

08 setembro 2019

Gordurinha e sua arte, Tio Sam, a Bahia e o bebop no nosso samba.

Gordurinha, cantor, compositor, humorista e radialista baiano, foi nome de sucesso em todo o Brasil na chamada Época de Ouro do Rádio. Difícil, quase impossível, é alguém da atual geração - tão bem servida de imagens oriundas de TVs, das câmeras fotográficas digitais ou dos múltiplos artefatos eletrônicos que a qualquer momento do dia filmam, gravam, registram imagens, divulgando-as, compartilhando-as instantaneamente - acreditar que existiu um tempo em que eram os ouvidos, e não os olhos, os condutores da arte e de toda e qualquer informação. Acontece, caros smartphonísticos mancebos e tabletísticas moçoilas, que as coisas já foram assim em uma era que já era, a Era do Rádio. Nela brilharam artistas fantásticos, entre eles o baiano Gordurinha, de tantos grandes hits populares, a exemplo de Baiano burro nasce morto, composição solo sua, cantada em todo esse mulato inzoneiro. Sua gravação de Mambo da Cantareira, de Barbosa e Eloíde, fez enorme sucesso, sendo regravado em tempos recentes pelo cantante Fagner. Uma composição sua, Oróra analfabeta, em parceria com Nascimento Gomes, é sucesso até hoje, descrevendo encantos e desencantos de Oróra, uma dona boa lá de Cascadura que é uma boa criatura, mas que escreve gato com J e escreve saudade com C e que, ainda por cima, afirma adorar uma feijoada compreta. De Gordurinha é também a bela e tocante Súplica cearense, feita em parceria com Nelinho, a divertida Caixa alta em Paris, a sensível Vendedor de caranguejo. Mas o maior êxito popular de Gordurinha, certamente é sua composição, Chiclete com banana. letra e música suas, ainda que oficialmente conste o nome de Almira Castilho, esposa e partner de Jackson do Pandeiro, como sua parceira na composição, o que -  segundo consta - de fato não teria acontecido. O que sucedeu, de verdade, foi que a composição agradou em cheio, adentrando com estilo a História da MPB, eternizada que foi pela gravação dele, o venerado Jackson do Pandeiro, senhor do ritmo, mestre da ginga e dono de uma maneira gostosa, única e inigualável de interpretar canções. Chiclete com banana é uma sacada perfeita de Gordurinha para definir o universo da nossa massificação cultural via United States, coisa que sempre nos assolou em diversas áreas de nossas artes.  Se na época o sucesso da música foi enorme, o tempo que passou nos diz que ela segue sendo uma rica referência até os dias atuais, no que muito ajudou sua regravação por Gilberto Gil no disco Expresso 2222. O título da música foi usado para batizar a famosa banda de axé-music e a revista em quadrinhos do cartunista Angeli. Sua letra é uma declaração de amor à música do Brasil, uma afirmação de carinho e apreço a tudo que temos de bom em nossa alma brasileira, um brado de resistência cultural diante da imposição das coisas made in USA, notadamente o constante domínio exercido pelas gravadoras e ritmos norte-americanos sobre a nossa música, no caso, vinda de um ritmo chamado bebop. De forma clara e gostosamente bem-humorada, Gordurinha informa à industria musical ianque que antes, bem antes, de nos aculturarem, eles precisariam conhecer mais profundamente, entender, respeitar e mesmo assimilar a música do Brasil, mandando-lhes um ritmado e irreverente recado: "Eu só boto bebop no meu samba, quando o Tio Sam pegar no tamborim. Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba e entender que o samba não é rumba"... E, concluindo, desafiador: "Eu quero ver o Tio Sam de frigideira numa batucada brasileira."    
 (20/11/16)  

Caetano Veloso, Wladimir Maiakóvski, Fernando Pessoa e um vate chamado Edu. Pequenos equívocos sobre grandes poetas / Parte 2 de 2

Além da melodia envolvente contida no fado Os argonautas, também a bela e um tanto enigmática letra desta inebriante canção foi criada pelo compositor Caetano Veloso e não pelo bardo português Fernando Pessoa. Mas não faltam os que repitam por aí e até postem na internet, que a dita letra da música é uma poesia da autoria do bardo Pessoa musicada por Caetano. Quem se der ao trabalho de pesquisar atentamente os muitos poemas de Pessoa, escritos sob qualquer um dos seus muitos pseudônimos, não encontrará versos falando em “o automóvel brilhante, o trilho solto, o barulho do meu dente em sua veia” ou “noite no teu tão bonito sorriso solto, perdido”. As pessoas erram por uma questão de superficialidade, erram por que não se importam em errar, grandes porras, phoda-se. Fernando Pessoa deixa claríssimo na abertura de seu poema, que a frase “navegar é preciso, viver não é preciso”, cuja primeira parte usou para dar título ao belo poema, não é algo criado por ele, vindo ela da boca de antiquíssimas gentes do mar, coisas dos tempos do grande império romano que, segundo textos do impoluto Plutarco, teria sido dita em vez primeira pelo general Pompeu (106-48 a.C.), dirigindo-se a sua tripulação, aos seus soldados, os quais se mostravam excessivamente prudentes e cautelosos - para não dizer trêmulos e acovardados  – diante de um mar nigérrimo e proceloso, instigando-os a embarcar.  Como único argumento, Pompeu proferiu a frase que se celebrizou, chegando aos ouvidos de Fernando Pessoa que, parafraseando-o, disse que “viver não  é  necessário , o que é necessário é criar”. Maravilhoso! Todo artista e todo criador deveriam tomar isso como inspiração. Caetano Veloso, usou como refrão de Os argonautas a frase que Pessoa não concebeu mas que tanto amou que dela se valeu para nominar um seu poema famoso e para filosofar sobre sua irrefreável necessidade de criação. A expressão “Navegar é preciso” bem que pode ter sido o lema que norteou todas as intrépidas conquistas portuguesas na Era das Grandes Navegações. A frase, segundo dizem, estaria escrita no pórtico da lendária Escola de Sagres, fundada pelo infante Dom Henrique, no século XV, mais precisamente em 1460, bem antes do nascimento de Pessoa, que nela teria achado inspiração para o poema que escreveu. Mas estamos falando da raça humana e seus enganos, e aí temos que lembrar que não faltam os que, convictos, afirmem que a Escola de Sagres nunca tenha existido de fato, senão na imaginação das pessoas, que tudo não passa de uma lenda. Quanto ao poema de Pessoa, segue abaixo uma reprodução para que não pairem dúvidas sobre o que nela diz o venerável vate luso. Embora já saibamos bem que isso não fará cessar novos e contínuos erros e enganos, pois, aparentemente, quando adotou a frase "errar é humano" o homem outorgou a si próprio o direito de errar quantas vezes queira. Sem se importar em seguir o que versa a frase original, atribuída a Sêneca, que em sua inteireza nos diz: "errare humanum est, perseverare autem diabolicum."
               Navegar é Preciso
               (Fernando Pessoa)
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:    
"Navegar é preciso; viver não é preciso".                    
Quero para mim o espírito desta frase,           
transformada a forma para a casar como eu sou:          
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.         
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.    
Só quero torná-la grande,                                           
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.                                              
Só quero torná-la de toda a humanidade;                          ainda que para isso tenha de a perder como minha.            Cada vez mais assim penso.                                        
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue  o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.                                      
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Oscar Wilde e Pol Serra, caricaturista da Espanha

"Posso resistir a tudo. Menos à uma tentação." "Nada é mais necessário do que o supérfluo." "Quando eu era jovem pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje eu tenho certeza!" Tais frases geniais recheadas de deliciosa ironia e um humor cortante mas refinadaço, saíram da cuca deste cara aí acima, o pensador, o escritor, o polêmico, o maldito, o maravilhosamente criativo Oscar Wilde, aqui mostrado nesta bela caricatura feita pelo caricaturista espanhol Pol Serra que ilustra maravilhas nas terras da Espanha. O link para o site dele é http://polserra.blogspot.com/
(280913)

Michael Jackson e Neguinho do Samba, um encontro celestial

Sem o habitual séquito de paparicadores e seguranças, Michael Jackson chega ao Céu, onde tem reserva garantida pois se o papa é pop, São Pedro é hiperpop. Um coral de anjinhos de olhos gázeos, fulvas e cacheadas melenas, todos desnudos como nas pinturas renascentistas vem receber com cânticos o novo habitante do sacrossanto empíreo. Ao vê-los, Michael não contém sua emoção: "Uau! Isto aqui é mesmo o Paraíso!!" São Pedro o recebe com igual entusiasmo mas não deixa barato a presença do popstar e encomenda logo de cara uma apresentação à altura do muso para louvar o Pai Celestial. Para tanto, convocam os percussionistas que já habitam por ali, na celeste morada. Ensaiam exaustivamente. Mas Michael sente que falta algo mais, um swing maior pra fazer o Paraíso vibrar com alegria no mais apoteótica dos shows. O criador do moonwalker procura São Pedro e diz que necessita de alguém para dar à grande festividade a aura perfulgente, a alma radiosa, a contagiante alegria rítmica que lhe falta. E segreda um nome ao ouvido do guardião dos Reinos do Céu. Inteirado do que Michael precisa, Pedrão cofia a barba hirsuta, medita e finalmente berra para um querubim que por ali vai passando: "Manakel, meu zifio... vai voando na Bahia, passa lá na sede do bloco Olodum e me traga urgente o Neguinho do Samba!"
(10082013)

03 setembro 2019

Filins inmái rarte: cantores norte-americanos made in Brasil

Numa de suas belas composições, Caetano Veloso – sempre um sábio - asseverou que só se é possível filosofar em alemão. Para grande parte dos brasileiros parece que só se é permitido cantar e gravar canções se elas forem feitas em Inglês. Basta ver o repertório apresentado por calouros em atuais programas das nossas TVs. E olha que isto já foi beeeeem pior, acreditem vocês. Nos anos setentas, em quase toda sua totalidade, cantores brasileiros foram sumariamente varridos das paradas de sucesso, programa de rádios, das TVs, da mídia em geral deste patropi abençoá por Dê e boni por naturê, maquibelê! Só se tocavam, só se escutavam, só eram divulgadas nas nossas mídias as músicas norte-americanas e inglesas. E como o ditado versa que quando você não pode com um inimigo, deve unir-se a ele, houve à época um acontecimento que vale a pena que nos recordemos sempre, dado o inaudito e o irônico do fato. Um novo contingente de gringos, nomes nunca dantes consagrados, sequer ouvidos até então, foi invadindo rádios e TVs tupiniquins, sem esbarrar nas mesmas resistências às canções e aos cantantes brasileiros, tocando, recebendo enorme consagração popular, integrando trilhas musicais de novelas, vendendo toneladas de discos, ficando meses em paradas de sucesso. Estes gringos, a bem da verdade eram "gringos", grafados assim, com aspas, por serem tão norte-americanos e ingleses quanto você e eu. Em outras words, eram cantantes made in Brazil que acharam um jeitinho de fazer chegar a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor. Pois é, pois é, "norte-americanos" e "ingleses" nascidos por aqui mesmo, já que eram cantores e compositores brasileiros que, para burlar a aparentemente intransponível barreira erguida pelo aculturamento, passaram a compor músicas no idioma de Bill Shakespeare e a adotar como pseudônimos uma lista de nomes de origem anglo-saxônica para dar mais credibilidade, lembrando um recurso que cineastas e atores italianos empregavam, à época, ao produzirem seus contestados spaghetti westerns. Para completar, as capas de tais discos feitas de forma a parecer que eram originalmente produzidos no exterior, e assim os nossos criativos “gringos” iam conseguindo seu lugar under the sun. Ou seja, foi imprescindível essa bendita transgressão para que muitos artistas brazucas conseguissem fazer sucesso. E que sucesso, que sucesso! Nomes como Morris Albert, Terry Winter, Mark Davis, Tony Stevens, Steve Maclean e Michael Sullivan, entre outros, que embalavam as festinhas adolescentes, adentravam os lares, vendiam pilhas e pilhas de discos, ficavam meses nas paradas de sucesso. E depois de conseguirem esta façanha, partiram para uma maior, e começaram a figurar por largos tempos nas paradas de sucesso de diversos países e a serem gravados e regravados por gringos, estes, sim, autênticos. Morris Albert, por exemplo, teve sua composição "Feelings" gravado por cantantes do mundo inteiro, incluindo os lendários Frank Sinatra e Elvis Presley, façanha que muitos grandes compositores ianques não lograram conseguir por mais que se empenhassem neste desiderato. Outros grandes astros e estrelas da música norte-americana, como a grandiosa Nina Simone, também a gravaram. A lista de celebridades a gravá-la é vastíssima, incluindo o supracitado Caetano Veloso, a diva Ella Fitzgerald e Barbra Streisand. No filme "Susie e os Baker Boys" a canção extrapola seu lugar na trilha sonora e invade o roteiro pois ela é o pomo da discórdia entre os personagens da lindinha Michelle Pfeiffer e os brothers Jeff e Beau Bridges. Aliás a canção está em mais de uma centena de filmes, séries e novelas televisivas. Morris vendeu mais de 160 milhões de discos pelo planeta! Uau! Uau de novo! Ontem, ao rever "Entre Tenieblas", de Almodóvar, percebi que uma das músicas utilizadas era "Dime", grande sucesso na Espanha. Nada mais que uma versão em língua espanhola para "Feelings", de Morris Albert. Um dia, um juiz da corte norte-americana afirmou em sentença que ao compor a música, Morris teria plagiado uma antiga canção de nome "Pour toi", composta em 1956 pelo francês Loulou Gasté, canção essa gravada por Dario Moreno, que fazia parte da trilha sonora do filme Les Feux aux podres
Muita gente que opina concorda que há semelhanças, notadamente nos acordes iniciais da canção, mas que elas não chegam a se constituir em um plágio, discordando frontalmente do juiz, cuja sentença foi amplamente favorável ao compositor francês já que, no entendimento do maugistrado, Morris deve ser considerado apenas o autor da letra em Inglês, um absurdo que configura um autêntico assalto jurídico adredemente consumado em um tribunal, e nós, brasileiros, sabemos sobejamente o que é essa coisa de juízes tendenciosos, abjetamente parciais, que agem ao arrepio da lei atropelando a verdade, a decência, a honestidade e os pricípios mais basilares da Constituição e do Direito, em nada se importando com as consequências calamitosas que suas injustas decisões haverão de impor às vidas de terceiros. 
Polêmicas jurídicas à parte, ''Feelings" tornou-se incontestavelmente um dos imortais clássicos mundiais da canção graças ao talento de Maurício Alberto, nome verdadeiro de Morris, sendo Maurício um cidadão brasileiro, um paulista que, nesse país tantas vezes tão surrealista, por força das circunstâncias, tornou-se certo dia um antológico e inolvidável cantor e compositor “gringo”.
(12/05/2013)

01 setembro 2019

Biratan Porto, Belém do Pará, Setúbal, Flavio Colin e uma nova tradição

 
Coisa impensável entre católicos praticantes e juramentados é ir a Roma e não ver o Papa. Pois em verdade, em verdade vos digo, fiéis leitores, que um cartunista autêntico ou um genuíno desenhista de histórias em quadrinhos que preza seu ofício, em caso de visita a Belém do Pará, tem o sagrado dever de ir ao estúdio de Biratan Porto, que é também seu lar, pedir a benção ao piramidal cartunista. Se for contemplado com a indeclinável honraria de ser convidado para tal visitação, é claro. Benção pedida e concedida, a coisa não pára por aí, pois no larestúdio do Biratan estando, sem que nenhum protocolo ou norma de etiqueta assim o determine, o desenhista deve em determinado momento do papo, colocar-se ao lado de um pôster com um desenho do incomparável, inigualável e insuperável Flavio Colin, que Bira mantém em uma das paredes à guisa de decoração e homenagem ao Mestre dos Mestres. Foi exatamente o que fiz, preclaros leitores. Mal troquei algumas idéias com meu anfitrião e...catapimba! Lá fui eu, alegre e altaneiro, posicionar-me ao lado do belo pôster de Colin, para ter uma foto minha comprovando que vivi tão honroso momento. A pose não foi estudada, mas ao ver a foto pronta, nota-se que nela, enquanto aponto orgulhoso a assinatura de Colin, seu personagem, o detetive Castro, ameaçadoramente aponta sua arma automática para meu coração vagabundo que quer guardar o mundo em mim. Em contraponto, no alto, enquanto toca um telefone, uma delicada mãozinha feminina vem sensualmente acarinhar os meus cabelos longos e anelados, os quais costumo domar com toneladas de gel. Papeando depois com meu piramidalístico amigo, fico sabendo que essa história de visitantes posarem ao lado do dito pôster é algo que jamais foi planejado, sendo coisa que foi acontecendo natural e espontaneamente, e que aos poucos parece que vai se transformando numa espécie de cultuada tradição entre os cartunistas que visitam o larestúdio. Com o carisma e a popularidade de Biratan, não será surpresa se um dia esse ritual visitativo tiver um público comparável ao tradicional Círio de Nazaré. Ao Bira envio, aqui da Bahia, meus mais amistosos amplexos e os mais fraternais ósculos. Aproveito o ensejo e ilustro esta postagem com a mencionada foto, que é para nenhum vivente, cartunista ou não, duvidar do meu marcante feito. Razão, muita razão, têm os meus amigos escritores Gonçalo Junior, Vitor Souza e Tom Figueiredo, quando propagam aos quatro ventos que eu não sou fraco, não! 
(14/12/2016)