23 setembro 2019

Lage, Nildão, Setúbal, Zé Vieira, Alexandre Dumas, cartuns.

Aqui neste afrotorrão chamado Bahia, Lage, Nildão e eu, por um bom tempo formamos um inseparável trio, tipo os três mosqueteiros do cartum, um time coeso, como permite entrever esta caricatura aí em cima. O quarto mosqueteiro, o D'Artagnan, era Zé Vieira, com seu bigodinho que lhe dava o irretocável phisique du rôle. Sucede que Zé Vieira, um belo - ou será triste? - dia deu uma solene banana ao universo cartunístico, botou na praça um tremendo escritório de arquitetura que logo encheu-se de afortunados clientes, graças ao talento arquitetoso do rapaz, e desta forma ele - merecidamente, diga-se - tornou-se um argentário dos mais abastados pois foi sempre o mais sabido de todos nós nestas questões com l'argentainda que não fosse um mercenário, longe, bem longe disso. O problema com Zé Vieira era que um ofídio dos mais peçonhentos costumava aninhar-se nos bolsos das suas calças e ele, a precaução em pessoa, ali não metia sua mãozinha com medo de levar uma mordida letal e vai daí que em bares, restaurantes e botecos que frequentávamos jamais víamos a cor do dinheirinho de tão precavido confrade. Diz a chamada sabedoria popular que dinheiro poupado é dinheiro ganho e que de tostão em tostão se faz um milhão. Se verdade houver em tais frases, Zé Vieira certamente acumulou alguns milhões só do que economizou graças à sua justificada precaução contra mordidas de cobras, notadamente certas variedades de mambas negras que soem se aninhar em bolsos e bolsas de alguns viventes. Não sei se Zé Vieira sente saudade dos tempos em que cartunava e quadrinhava, mas ele sempre foi um cara que criava verdadeiras maravilhas, tanto no texto quanto no desenho. E sempre foi um dos mais substanciais e agradáveis papos desta Bahia com h. Como que inspirado por Alexandre Dumas nosso grupo cartunístico sempre primou pelo conceito de amizade mesclada com lealdade. Poderíamos mesmo empunhar nossos lápis, à guisa de espadas mosqueteiras, erguê-los fazendo tocar no alto suas pontas e, parafraseando os personagens de Monsieur Dumas, bradar alto, a uma só voz: "Um por todos e todos por um, em defesa do reino do cartum".