O que quer, o que pode esta língua? Ah, pode nos encantar a
todos e a todos seduzir, esta língua portuguesa, tão sonoramente gostosa, tão vária
e tão bela, que encerra um “assombro vocálico em que os sons são cores ideais”,
como definiu Bernardo Soares. Aliás, este escritor português, em meados do
século passado, escreveu um texto que até hoje reverbera grandemente entre nós,
habitantes dos países que têm o Português como língua materna. Decidido, com
segurança, destemor e ousadia, no referido texto Bernardo nos diz que a ele pouco
importava, que nada se lhe dava se um dia Portugal fosse invadido, se o solo
lusitano fosse tomado por quem quer que fosse, porque sua única pátria era
outra: a língua portuguesa. A esta não admitia, sob nenhuma hipótese, que tratassem
com apedeutismo, insciência, incúria. Literal e literariamente assim nos asseveravou Bernardo Soares: “Não tenho
sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto
sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que
invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente.”
Tanto tempo se passou e até hoje a mencionada frase é motivo de grandes burburinhos, discordâncias e de controvertidas análises, tanto mais por sabermos que Bernardo Soares é outro dos muitos heterônimos utilizados pelo escritor Fernando Pessoa, dos quais se valia para dizer o que lhe ia na sua rica alma de poeta, escritor e intelectual.
Grandes escritores e poetas portugueses
ensinaram a nós, do Brasil, a amar o idioma que um dia nos chegou a bordo de
caravelas lusitanas. Através dele, talentosos escritores, cantores,
compositores. cineastas e atores brasileiros se expressam, se manifestam por
palcos, telas, recantos do mundo todo, encantando plateias de idiomas diversos e ampliando enormemente a força e a glória que esta
língua encerra.
Passados
mais de 500 anos, no Brasil a língua portuguesa foi criando uma forma própria
de ser, aqui se permitindo todas as influências e mudanças possíveis. Hoje,
nosso idioma comporta galicismos, anglicanismos, neologismos e influências as
mais diversas, temos diferenças na forma de falar de acordo com cada região
deste país tão extenso, erros acolhidos e incorporados, gírias inumeráveis que sempre se renovam. Nesses
tempos de globalização, a cultura brasileira, por sua criatividade e força
comunicativa, se faz conhecida em diversos países do mundo. Em parte, isso se
deve à internet e ao veículo TV, notadamente às novelas feitas por aqui, uma
febre em muitos países há dezenas de anos. Em Portugal, Angola, Moçambique e em
países outros, os habitantes locais tomam conhecimento e terminam mesmo
adotando as gírias, o gestual, o vocabulário, este modo de falar exuberante, pontuado pela
irreverência do povo brasileiro, um modo bem pouco restrito a normas e dogmas
idiomáticos. Assim nos expressamos nós, nativos desta terra que um dia Cabral
encontrou dando sopa, dando mole, dando a maior bobeira aqui pelos trópicos. Desta nossa maneira de falar o Português,
melhor não pensar o que poderiam dizer Luís de Camões, Eça de Queiroz e o Padre António
Vieira. Muito menos o que pensariam e diriam Bernardo Soares, autor da tão polêmica frase, e Fernando Pessoa.
Estes dois, aliás, ainda que em alguns pontos pudessem divergir entre si,
certamente teriam opiniões semelhantes e bem pouco lisonjeiras sobre este modo
que muitas vezes nós, brasileiros, usamos para falar e escrever esta tão
amada língua portuguesa.
Tanto tempo se passou e até hoje a mencionada frase é motivo de grandes burburinhos, discordâncias e de controvertidas análises, tanto mais por sabermos que Bernardo Soares é outro dos muitos heterônimos utilizados pelo escritor Fernando Pessoa, dos quais se valia para dizer o que lhe ia na sua rica alma de poeta, escritor e intelectual.