19 outubro 2020

Brasil, bico de pena, artistas, escolas / Arte que se reparte

Comecei a fazer desenhos a bico de pena influenciado pelos trabalhos de alguns desenhistas magistrais, autênticos virtuoses no desempenho dessa técnica milenar. Artistas europeus, chineses, norte-americanos, sul-americanos já fizeram maravilhas valendo-se de uma prosaica pena embebida em nanquim e uma singela folha de papel. De tantos artistas, muita coisa que vi me encantou. Já citei várias vezes, volto a citar, que Percy Lau me deixava atônito com seus desenhos a bico de pena, desde que eu ainda era um niño de Jesus. Esse brasileiro, nascido em Arequipa, Peru, era o cão de calçolão. E chupando manga, quando acaba. Também o eram Poty, Carybé, Aldemir Martins. Tenho o orgulho de ter sido amigo de um dos maiores desenhistas deste planeta, Floriano Teixeira, principal ilustrador dos livros escritos por Jorge Amado. Para meu júbilo, Flori gostava de meu desenho, me recebia sempre em seu atelier e me presenteou com alguns tesouros que fez a nanquim. Com cada um desses artistas, aprendi um pouquinho. Ou muitinho, melhor dizendo. Dá-se que quando trabalhei como ilustrador e cartunista em jornais, em uma era pós-clichês e pré-computadores, eu me vali muito de bico de penas, mesmo não sendo penas de metal para desenhos no sentido exato da palavra, aquelas que substituíram as penas de ave usadas em tempos de antanho. A nomenclatura dada a elas, as tais peninhas, era bico de pato e mosquito, penas metálicas enfiadas em um cabinho de madeira. Também as usei muito, mas sempre preferi trabalhar mais com canetas com tinta nanquim, super práticas, as recarregáveis e as do tipo descartáveis, como a que usei para fazer o desenho acima. É a ilustração de uma crônica falando em escolas municipais, merendas e brasilidade, impressa há já algum tempo, em uma gazeta diária dessa cidade batizada de Soterópolis. Para fazer a aludida ilustração, li com a devida atenção o texto do autor, formulei a ideia que achei de acordo com o conteúdo dos escritos, esbocei com grafite B em papel usada em diagramação e finalizei com caneta nanquim descartável, caprichando nas hachuras que soem caracterizar um bico de pena. Te cuida, Percy!