18 outubro 2020

Torquato Neto e os versos que cantam o fim


Torquato Neto é nome sempre lembrado como um dos co-participantes da construção da Tropicália no sempre rico cenário da música brasileira. Seus versos embelezaram canções e se perpetuaram na história da chamada MPB. Em dia de triste memória decidiu antecipar sua partida deste mundo, tirando a própria vida e nos deixando vazios de novos versos seus. O gesto extremo deste inspirado poeta do Piauí inspirou questionamentos existenciais de um outro versejador talentoso, Caetano Veloso que, estando de passagem pelo Piauí, um dia visitou o pai de Torquato, coisa que, em um canal televisivo, contou em detalhes em comovente relato. Neste encontro, do pai de seu amigo e parceiro Caetano recebeu uma rosa de uma especie conhecida como rosa-menina. Tal gesto emocionou o compositor resultando em "Cajuína", canção memorável que abre com existencial indagação: “Existirmos, a que será que se destina?”. E mais adiante, em outros versos, Caetano diz: “... e se acaso a sina do menino infeliz não se nos ilumina, tampouco turva-se a lágrima nordestina, apenas a matéria viva era tão fina”. 
Para que recordemos o cultuado poeta piauiense, usando grafite B e uma caneta nanquim, fiz este retrato aí no alto que busca falar de um cara amado e da memorável época tropicalista. Aproveito para deixar os versos que ele criou para uma canção linda e tocante - feita em parceria com Edu Lobo - falando de um adeus definitivo, um derradeiro adeus. Vai também um vídeo com a Elis Maravilhosa Regina, acompanhada pelo Zimbo Trio, tornando ainda mais sublime esta canção.
Pra dizer adeus
Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Pra dizer adeus
(20/11/14)