08 setembro 2018

Diário de bordo: Jerry Adriani e eu em dueto nas nuvens, indo para Belém

Consta que o primeiro dos homens foi feito com uma porção de barro pelo Todo Poderoso que, como bem se vê, tinha lá suas veleidades de escultor. Tendo sido criado, esse primeiro ser da espécie não ganhou a chave da casa própria pelo BNH ou pelo Minha Casa, Minha Vida, ganhou coisa bem melhor: o direito de morar de graça em um verdadeiro Paraíso. Tá bom pra você? Pois pro cara não estava. O papo que rola por aí é que esse primeiro homem não ficou lá muito satisfeito com o divino presente tendo em breve tempo se cansado de bater perna pelos rincões paradisíacos. Ponderou ele que aquilo ali até que era bom mas era também um tanto insípido e fatigantemente monótono. Olhava os pássaros e invejava-lhes os voos livres firmamento afora. Pensou em como seria bom se pudesse voar livre entre as nuvens. Voar, voar, esta ideia virou uma verdadeira obsessão para o homem que só sossegou no dia em que ele inventou o avião e o check in. Para quem há pouco tempo não passava de um montículo de barro, criar o avião e a aviação foi um progresso notável, pois desde que o tal invento não invente de cair e se espatifar no chão, não existe coisa melhor nesse mundão todo. No avião que sigo para Belém indo participar como jurado do VII Salão de Humor da Amazônia, tudo corre maravilhosamente bem e o céu é de brigadeiro - qualquer um menos o Burnier, de triste memória para a Democracia. Desço em Brasília, espero outra aeronave da conexão. Tudo segue correndo numa nice, eu ali de boa, sentado próximo ao Gate 4, quando avisto ninguém menos que Jerry Adriani, cantante que marcou época no Movimento Jovem Guarda, liderado pelo Rei Roberto Carlos. Está ao lado de um grupo que carrega cases com seus instrumentos musicais e conversa de maneira simpática com todos que a ele se dirigem, tira algumas dezenas de selfies com umas fãs que também o reconheceram. Menos por fome e mais pra passar o tempo, vou em busca de um pãozinho de queijo a título de lanche e, quando percebo, Jerry está ao meu lado no balcão fazendo seu pedido à moça do caixa. Não deixo passar batido a oportunidade e o abordo, digo umas quantas palavras que ele ouve, receptivo, simples, afável, a simpatia em pessoa. Despeço-me, agradecendo. Por coincidência ele também está indo para Belém no mesmo vôo que eu e acabamos por nos encontrar algumas vezes, ele entabula conversa, digo que sou da Bahia. Falamos sobre música em geral e sobre axé music.  Ele me diz do caráter excludente desse ritmo para muitos profissionais da área da música, fala que ela praticamente monopoliza o mercado musical, sendo necessário esforço enorme para cantores de outras tendências musicais conseguirem contratos de shows para se manterem com seus trabalhos. Digo-lhe que esse é um problema que também atinge fortemente músicos da própria Bahia, que perdem em visibilidade e espaço de atuação. Papeamos sobre amigos e conhecidos em comum, como Waldir Serrão, o Big Ben, roqueiro das antigas. O papo prossegue já dentro da aeronave. A empatia foi tamanha que em dado momento, para encantamento das charmosas comissárias e dos demais passageiros, em pé, no corredor do avião, entoamos um dueto cantando um dos hits do meu agora velho amigo, “Doce, doce amoooooor...”. Jerry é profissional do canto, tem uma notável extensão vocal, mas quando decido brindar as pessoas com meus dotes canoros, faço bonito, não tem prá ninguém. Repentinamente toda a tripulação e os demais passageiros entraram no clima, se puseram a cantar conosco e o ambiente fazia lembrar um daqueles filmes musicais hollywoodianos. Maravilha das maravilhas! Só quando pisei em solo belenense é que me ocorreu fazer uma selfie registrando para a posteridade meu encontro com Jerry Adriani, cara admirável, dono de uma vasta e belíssima trajetória no mundo da música, gente super, hiper do bem. Se o habitante do Éden, o primeiro dos homens, estivesse a bordo haveria de sorrir, satisfeito e orgulhoso de seu inventivo invento.
(15/07/15)