Nos anos 70 me encantou uma entrevista feita com Dadá, viúva do afamado cangaceiro Corisco, tendo sido ela própria uma participante do cangaço integrando o bando do legendário Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião. Quem entrevistava Dadá era França Teixeira, célebre radialista, bom de tv, grande comunicador, emérito criador de um estilo carregado de irreverência jamais igualado em rádio. França é o pai da apresentadora Fan Teixeira, que herdou o talento paterno e apresenta com brilhantismo o ótimo programa Balaio de Gato, da TVE. Ouvindo a entrevista, fiquei inebriado pela rica e peculiar oratória da sertaneja revelando passagens que ela vivera ao lado do bando liderado por Lampião. A certa altura da sua fala, Dadá relata que a arma que Maria Bonita, a célebre companheira de Lampião, usava na cintura era praticamente um adereço, não a usando a bela Maria para alvejar as volantes que sem tréguas, sertão afora perseguiam os cangaceiros atirando para matar. Dadá vai além e afirma que ela própria, sim, é que empunhava quando necessário se fazia, sua arma contra os macacos, que é como os cangaceiros chamavam os soldados da volante. Deixando transparecer um vívido interesse, o rosto de França se torna ainda mais rubicundo quando lhe pergunta: "Então você, Dadá, chegava a atirar nos soldados da volante?" Ela, sem pestanejar: "Sim, quando preciso, atirei." França, interessadíssimo, insiste: " Desses nos quais você atirou, algum morreu?" E Dadá, com um sorriso mais enigmático que o de Monalisa: "Que eu visse, não!"
(Publicado originalmente em 19 de julho de 2013)
(Publicado originalmente em 19 de julho de 2013)