02 janeiro 2019

Farofeiros unidos jamais serão vencidos

 Quem pensa que farinha e farofa são privilégios exclusivos das baianas gentes, engana-se em muito. A farofa é uma instituição nacional sempre presente na vida dos brasileiros mais brasileiros. Com tantos entreguistas dando de bandeja nosso ouro negro aos gringos, tem ficado difícil bradar aos quatro ventos que o petróleo é nosso, sem que fiquemos sujeitos a sermos tachados de formidáveis mentirosos, expostos aos motejos, zombarias, comentários sardônicos e risos de escárnio dos que mercantilizam as riquezas pátrias por 30 dinheiros. Por enquanto, ao menos por enquanto, a nós nos resta o orgulho de poder gritar bem alto que, pra consolo geral desta auriverde nação, a farofa ainda é nossa. Em suas diversas variedades ela nos acompanha, constante e fiel, nos eventos mais importantes e confraternizantes de nossa existência neste brioso torrão tropical em cujas densas matas a caucasiana Cecy costumava dar uns créus com o aborígene Pery, ciente de que o único pecado debaixo da Linha do Equador é deixar de comer uma capitosa farofa. 
Esta ilustração que postei aí em cima é uma reprodução de parte de um grande painel que pintei com tinta acrílica sobre tela e que me divertiu muitíssimo haver pintado, pois desde os primórdios de minha existência domino com maestria todas as conjugações do verbo farofar. Mesmo correndo em minhas veias o mais puro sangue indigo blue, sou assumidamente um farofeiro inveterado, contumaz e renitente, plenamente convicto de que a farofa é tudo aquilo de bom que eu já disse e é mais, muito mais. E como farofa é cultura, embora soe esquisito em nossos pavilhões auditivos ela também pode ser chamada de farófia, com i e acento, segundo registra Buarque - o Aurélio, não o Chico. Em verdade, perfulgente leitor, a farofa é mais antiga que se pode pensar, não se limitando a praias e recantos deste patropi abençoá por Dê, sendo ela universal, como podemos atestar vendo inúmeros filmes do neorrealismo italiano que mostram famílias napolitanas numerosas, entre risos e canções populares, farofando na maior felicidade do mundo, uma felicidade que só os privilegiados farofeiros podem experimentar em toda sua plenitude. Pois viva a farofa e vivam esses grandes felizardos do mundo, os farofeiros, sejam italianos, argentinos, brazucas! E antes que as malignas gentes queiram também entregar esta nossa iguaria a quem não a merece, é com a boca cheia de farofa que proclamo num brado: farofeiros do Brasil e de todo o mundo, uni-vos!
(10/05/10)