Nessa rodada de numero 36 do Brasileirão de 2017, o Flamengo enfrentou o Corinthians, já sagrado, com todos
os méritos, o lídimo campeão brasileiro desse corrente ano. Nesse jogo vimos
coisas de estarrecer, que nada têm a ver com o dito esporte bretão: dois
jogadores do Flamengo, mostrando total despreparo e nenhum pingo de fairplay, se estapearam, se esmurraram,
se cuspiram, se arrostaram, trocaram cabeçadas, com direito a gestos obscenos
claros para qualquer espectador ver no conforto de seu sacrossanto lar ou de um
boteco na esquina, esse mais adequado para assistir tais belicosos e malcriados
eventos. Tudo bem debaixo das fuças do árbitro da partida e o sujeitinho fez que nada viu, fez a egípcia, fez cara de paisagem, fez que não era com ele, não. Bom, ocorre que os protagonistas dos lamentáveis acontecimentos são jogadores do Flamengo, time do Rio de
Janeiro, apadrinhado pela poderosa Rede Globo de Televisão. A Globo sempre
busca preservar coisas e entidades que são dos seus particulares interesses,
indiferente aos erros e culpas que possam ter. E quando algum jogador de um
time qualquer que não esteja na lista de seus clubes intocáveis, comete uma
ação censurável, como uma entrada entendida como muito violenta, a Globo a
exibe diuturnamente, com censuras e ares de redentora da moralidade. Alguns
acontecimentos deixam atuais deixam isso claro, mas vou me valer de um ocorrido há já algum tempo, mas que
achei emblemático, envolvendo um ex-jogador do Timão, o meio campista
Rincón que, em jogo com o Fla, disputava a bola com seus
adversários e, a todo o momento, valendo-se de seu físico robusto, os desarmava
por diversas vezes na partida, anulando-os. Os comentaristas da Globo, sempre
parciais, como soem ser os comentaristas em sua larga maioria, fizeram um escândalo, sob alegação de que Rincón era desleal,
violento. Um lance em que ele ia na bola e terminava por atingir com o cotovelo o
jogador flamenguista foi mostrado em diversos momentos, dias e dias a fio,
ganhando uma visibilidade enorme, monstruosa, contundente, não se falava em
outra coisa. A mesma propalada preocupação e cuidados não existiram quando os comentaristas globais avalizaram a convocação e titularidade do desajustado Felipe Melo para a seleção canarinho de Dunga na Copa da Espanha. O resultado, sabemos, foi desastroso, vez que o citado elemento, mostrando desequilíbrio e uma índole violenta, foi expulso por agredir o jogador Robben, da Holanda, na Copa do Mundo da África do Sul, manchando o bom nome do nosso futebol. No caso de Rincón, tanto fizeram que os árbitros passaram a marcar de perto o
corintiano em todos os jogos, punindo-o com diversos cartões e advertências,
com um rigor nada usual. O que ontem, na Ilha do Urubu, os jogadores do
Flamengo protagonizaram em campo foi algo vergonhoso que deveria ser punido
exemplarmente pelo bem do nosso futebol. Justiça se faça, a Globo noticiou o
lamentável episódio, mas o fez em tom ameno, quase de gracejo, como se tudo não
passasse de uma lúdica traquinagem dos marmanjos envolvidos. Ninguém da emissora platinada bradou pelas expulsões, nem disse que "a regra é clara!", embora clara, e muito clara, seja. E dese já, podemos
antecipar e dizer que não serão punidos de acordo com a gravidade de seus atos. Isso, se punidos forem. Havendo
punição (e aqui cabem aspas), será um arranjo, uma passagem de mão pela cabeça,
tudo virará algo desculpável, compreensível, aceitável, mesmo que seja tudo
escabroso, digno de ser punido exemplarmente. Uma vez mais, os interesses de alguns ditam as normas, o lixo será de novo varrido para debaixo do tapete e nosso futebol, malgrado nosso infindável e já pouco justificável sentimento de eterna superioridade, seguirá cada vez mais sendo uma sombra apagada do que já fomos um dia.