"Navigare necesse est, vivere non necesse", disse-o, embarcando em sua galera, sem demonstrar um mínimo temor diante de assaz proceloso mar, o intimorato general romano Pompeu, segundo escritos de Plutarco, que não era homem de articular falácias biográficas. "Navegar é preciso, viver não é preciso". Grande Pompeu!
Tempos depois ninguém menos que o bardo Fernando Pessoa usaria a frase de Plutarco como título de um poema seu e, com propriedade, a citaria em seus fernandopessoanianos versos dando-lhe um charmosíssimo acento português, que é como a conhecemos no Brasil, tendo sido até perpetuada por Caetano Veloso em um belíssimo fado de inebriante melodia, sendo a canção ricamente embalada por plangentes guitarras portuguesas, tendo o divino e maravilhoso compositor brasileiro escrito para seu fado uma letra belíssima, instigante, que muitas cantoras portuguesas bem sabem interpretar. Certamente por desta forma a conhecermos, pletoras de gentes acreditam ser a autoria da frase fruto da mente do genial poeta lusitano. Em verdade, Fernando Pessoa apenas usou o dito de Pompeu para criar uma feliz paráfrase: "viver não é necessário, o que é necessário é criar". Quanto à necessidade de navegar, sou - qual Pompeu - um destemido e arrojado e nauta mas, copiosamente precavido, me limito a singrar mares menos procelosos - os virtuais - como se os de Netuno fossem pois, como dizem, o seguro morreu decano. Ou para melhor dizer, “insurance mortuus est veteranus”, já que qualquer citação fica mais credível se pronunciada em latim. Mesmo que em um latim apócrifo, canhestramente redigido por um escriba estulto consultando um providencial Google Translator.
****A cantora lusitana Gisela João cantando lindamente o fado "Os Argonautas", letra e melodia do compositor baiano Caetano Veloso.
(310512)