22 janeiro 2021

Fauna baiana, Soterópolis, gringos


      Esta pintura é um painel de uns 2 metros de altura e de quase outros tantos de largura. Com pincéis e tinta acrílica levei um mês trabalhando diuturnamente nele e penso ter tido a felicidade de colocar uma boa mostra de considerável parcela da fauna humana da Bahia da qual sou integrante parte. Baianas preparando acarajé, gente dançando, namorando, mercando, papeando, rezando, olhando, nadando, sorrindo, indo, vindo, comendo, bebendo, dizendo, vivendo. Sob proteção de santos católicos e orixás. Um mês. E o resultado foi sentir um enorme prazer vendo o trabalho pronto. Ah, mas não se quedou muito tempo comigo, achou um dono melhor que eu que lhe deu uma parede assaz espaçosa com direito a spots em casa ampla, arejada, mui bem frequentada e se foi para bem distante da Bahia. Queria retê-lo por mais tempo para dar uma zoiadinha de quando em vez, lamber a cria, mas, qual um aracnídeo, vivo do que teço e sei que tal pretensão não posso ter. O que muitíssimo me faz lembrar de meu fraternal amigo Lima Limão, grande artista plástico e filósofo formado nos mais conceituados cabarés, bares, barracas, biroscas e visgueiras de Soterópolis. Respondendo a um abastado cliente que lhe indagara se em sua casa ele teria muitas pinturas de sua própria lavra, dá-se que Lima, humildemente, a sinceridade em pessoa, redarguiu ao argentário: "Quem sou eu, doutor, para ter um quadro meu? Isto é pro senhor, que pode!"
(171214)