11 janeiro 2019

Deus e o Diabo na Tela do Sol!


O cinema norte-americano sempre foi uma arma de aculturamento em nossas cabecinhas tupiniquins desde Celia Cruz, quando eu era um niño de Jesus. A TV e a internet ainda não haviam adentrado os lares brasileiros. Os tais bípedes implumes, que tanto se gabam de serem racionais, também ainda não haviam inventado e disseminado as maldades mais torpes, o ódio, a brutalidade e a pedofilia como práticas corriqueiras. Crianças de cinco, seis, sete anos podiam caminhar pelas ruas sem correrem riscos de rapto, violências. Em feriados e finais de semanas, meus pais consentiam e eu, minhas irmãs e meu irmão, pequerruchos desacompanhados de adultos, íamos ao cinema na minha cidade natal, Candeias, na Bahia. E foi através da telona, linda, panorâmica, apaixonante, que a magia do cinema me pegou. E vai daí que eu, embevecido, via filmes de cowboys metendo certeiras e mortíferas balas em indígenas que eles nos mostravam como sendo sórdidos, cruéis e nada hospitaleiros com o bom e sempre assaz bem intencionado homem branco americano, sendo destarte merecedores de todos os letais balaços que recebiam em suas rubicundas epidermes. Depois surgiu em cena nosso Lima Barreto abocanhando, em 1953, o prêmio de Melhor Filme de Aventuras do Festival de Cannes mostrando nas telonas de todo o planeta um brasileiríssimo cangaceiro em suas andanças pelo inóspito sertão nordestino. E o mundo inteiro ficou conhecendo o cangaço e os cangaceiros. O sucesso do filme foi muito além do prêmio recebido, sendo exibido com pompas em mais de 80 países, causando furor na Europa. Só na França ficou em cartaz por quase 5 anos seguidos, uma façanha que nenhum blockbuster norte-americano logrou igualar. Pela vereda aberta por Lima Barreto mais tarde veio o vulcão Glauber Rocha e seu genial Antonio das Mortes e de quebra Deus e o Diabo se arrostando na Terra do Sol. E eu ali sempre firme, cada vez mais apaixonado pela temática do cangaço. Sempre que faço uma HQ ou um cartum costumo aproveitar o tema, mostrando cenários e tipos do sertão do nordeste. E quando pinto telas, muitas vezes o resultado é como o que está na foto, um painel de quase 1 metro e meio de largura por 2 metros de altura, esboçado com lápis 2B e pintados com tinta acrílica, prazer e cangaceirística paixão.
(02/01/15)