Economicamente, o estrago foi devastad8or. As maiores empresas nacionais foram arrasadas, o parque industrial desmontado, milhões de empregos perdidos. Em nome da “limpeza”, liquidou-se o que o Brasil tinha de mais estratégico: a engenharia pesada, a Petrobras, o sonho de autonomia energética. A operação que dizia purificar o país o entregou de bandeja ao capital estrangeiro.
Politicamente, a Lava Jato foi o laboratório da extrema direita. Alimentou o antipetismo como religião e a antipolítica como moral pública. Substituiu o debate por linchamento, o voto por sentença, a política por ressentimento. O ódio virou método, e o juiz de Curitiba — com o beneplácito da mídia — transformou-se no herói de uma classe média que confundiu destruição com justiça e parece nao ter entendido nada do que isto representou.
O resultado foi a corrosão das instituições e o desmonte do pacto civilizatório. A Justiça tornou-se instrumento de guerra; o Ministério Público, partido político; a imprensa, arma ideológica. O moralismo converteu-se em anestesia para o avanço neoliberal e a repressão social. O Brasil, hipnotizado pelo discurso da pureza, cavou a própria ruína.
E, como se não bastasse, o país ainda premiou o algoz. Um dos maiores vacilos da história jurídica e política brasileira foi o alívio concedido a Sérgio Moro — o homem que sabotou a democracia, interferiu em eleições e destruiu a confiança na Justiça. Ele jamais poderia ter sido candidato, jamais poderia ocupar cargo público. Sérgio Moro deveria estar fora da vida pública e preso. Porque é, objetivamente, um criminoso.
Há um lavajatismo redivivo no sistema jurídico brasileiro, espalhado como mofo nas paredes do poder. A operação foi formalmente enterrada, mas sua teologia moral segue viva. Na mais alta corte, Luiz Fux reocupa o púlpito da cruzada judicial, enquanto no Ministério Público Federal o espírito de Curitiba renasce com novos apóstolos. O procurador-geral Paulo Gonet abriga em torno de si o mesmo núcleo ideológico que deu sustentação à farsa original — e ali, à sombra do cargo, atua Januário Paludo, o mentor intelectual de Moro, o “guru” que moldou o lavajatismo como se fosse doutrina de fé.
Esse vírus institucional também contaminou a Polícia Federal, onde segmentos inteiros ainda operam segundo o manual do espetáculo e da perseguição seletiva. É o velho moralismo punitivista, agora travestido de técnica, infiltrado em inquéritos e vazamentos calculados. O Estado brasileiro continua refém de corporações que confundem poder com virtude e impunidade com justiça. E enquanto essa casta se protege, o país permanece ferido. Sérgio Moro é o símbolo máximo dessa degradação — e o fato de ele estar livre, eleito e com foro é uma afronta à decência. Ele deveria estar fora da vida pública e preso. Porque é, sem disfarces, um criminoso."
Texto de Ricardo Queiroz
