15 abril 2022
14 abril 2022
13 abril 2022
09 abril 2022
A dita Guerra de Canudos em versos do escritor Édio Souza, com desenhos de Setúbal

Eu já havia ilustrado crônicas que o escritor Édio Souza enviava de Santo Amaro da Purificação para o jornal A Tarde. Um dia, por telefone, ele me convidou para ilustrar um livro seu, escrito com versos à maneira da instigante, bela e tão brasileira linguagem dos livros de cordéis. Topei. Com uma ajuda do Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro fizemos um opúsculo que é, sim, pequeno em tamanho, mas que no final resultou em um belo livro que considero merecedor de uma nova edição feita por alguém que enxergue na obra o real valor que tem. Uma edição nova, bem feita, em um tamanho maior, em bom papel, impressão e revisão à altura da obra, pois a narração em inspirados versos escritos por Édio Souza faz por merecer ser lida por um público mais amplo, sendo esta narrativa de Édio uma preciosidade, lançando um olhar próprio e novo de um homem inteirado sobre uma temática já tão amplamente debatida mas que jamais se esgota, um olhar que é amplo, aguçado e embasado sobre esta dita guerra, que guerra nunca foi pois só havia um único exército na refrega, uma dolorosa ferida que carregamos na alma através de sucessivas décadas e que parece não querer cicatrizar, uma mais que delicada e inquietante página da História do nosso país de tantas e tantas páginas inquietantes que se repetem contra a vontade dos que querem uma pátria mais humana, mais justa.
**********Acima, a capa, logo abaixo, três das ilustrações que fiz para o livro. Para fazê-las, utilizei grafite 2B sobre papel westerprint
180gramas, canetas nanquim, pincel Kolinsky 02, nanquim e uma cor laranja-céu-da-caatinga indicada graficamente. Clique em cima das figuras para ampliá-las.
04 abril 2022
03 abril 2022
Fernando Pessoa, poeta e fingidor, as criadas e os moços de fretes. .
(180518)
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Gutemberg Cruz, o indecifrável Coringuto

(Hoje, dia 3 de abril, reposto esta postagem-exaltação em homenagem ao grande aniversariante do dia, meu confrade Gutemberg Cruz, um ariano-raiz: honesto, criativo, corajoso, batalhador.)
02 abril 2022
O dia em que o cartunista Valtério Sales saiu do armário e botou pra quebrar.
Muito embora este meu papo trate sobre gentes e acontecimentos da Bahia e do Pará, vou encaixar aqui um tremendo gauchão, o analista de Bagé, personagem criado por outro Luís Fernando, o escritor filho de Érico Veríssimo. Entre um joelhaço e outro em seus pacientes, o analista afirma, sem admitir réplica, que não existe gaúcho homossexual, o que existe nos pampas são correntes migratórias. Falo isso porque na Bahia não existem larápios, gatunos, ladravazes e rapaces. Mas volta e meia surgem por aqui umas correntes migratórias de maus elementos, oriundos de sei lá quais rincões, para nos turvar os dias mais solares. Pois uma dupla destas entendeu de dar plantão justamente no flat em que estávamos, assaltando eles todos os apartamentos e seus ocupantes. Precisamente ali, onde nos encontrávamos papeando na maior descontração, bebendo umas geladíssimas. J.Bosco, sedento, fora na cozinha pegar mais umas cervejotas na geladeira e viu os dois amigos do alheio armados com duas automáticas. Por sorte os meliantes não o viram, e ele conseguiu nos dar o alarme. Além de cartunistas, somos todos machos que honram as calças e as samba-canções que vestimos e fizemos o que era imperativo fazer, já que este negócio de valentia tem hora e o bom senso nos alerta que em momentos de desvantagem como o que se anunciou, o ato mais corajoso, racional e sensato a ser feito é tratar de se esconder o melhor e o mais rápido possível. Assim, Luiz Fernando, que tem físico de lutador de sumô, pulou, qual um acróbata, dentro de um grande baú que servia de decoração. Eu, Bosco e Bira, nos enfiamos céleres debaixo da cama e Valtério, na falta de um esconderijo melhor, entocou-se no armário. Não demorou e a dupla entrou no quarto e começou a mexer na bagagem dos nossos amigos. E nós - ai de nós! - todos silentes e sem mexer um músculo, nem respirar. Os sujeitos exultavam, colocando em um saco tudo de valor que encontravam, celulares, relógios, laptops, chave do carro, CDs do Pablo dos quais JBosco jamais se separa. De repente, um dos larápios comemorou em voz alta um achado precioso: “Mermão, olha só este tesouro: cachaça de jambu, vinda de Belém do Pará, meu rei!!”
Dentro do armário, um anjo soprou no ouvido de Valtério uma verdade drástica: se ele não tomasse uma atitude iria ficar sem sua caixa de preciosíssimas cachaças de jambu, que iriam adormecer os beiços do maléfico duo de aves de rapina. Incontinenti, sem pensar nas consequências de seus atos, sem ligar para as armas mortais dos marginais, qual um tigre Valtério saiu do armário de um só salto e brandindo sua bengala de madeira de lei deu certeiras e potentíssimas porretadas nas cucas das ladravazes criaturas, que caíram no chão, estatelados, sem sequer saberem o que os acertou, sem terem noção da chapa da jamanta que passou por cima deles. Com os bandidos totalmente fora de combate, minha coragem aumentou em muito, bem como a do resto da trupe e deixamos nossos esconderijos sem maiores constrangimentos. Na sequência, chegou a justa numa muito escura viatura. Assombrados com o estado em que ficaram os bandidos, os homi os levaram, ainda nocauteados, para a DP. A nenhum de nós Valtério soube explicar direito o que aconteceu. Porém dúvidas não restam: ele agiu movido por um impulso incontrolável ao perceber que ficaria sem seu néctar dos deuses, o jambu engarrafado que tão gentis amigos trouxeram do Pará. Os dias vão passando, passando, e nada da gente esquecer da cena daquele inacreditável massacre que sofreram os indigitados marginais. Na minha memória, na de Bira, Bosco e Luiz Fernando, testemunhas daqueles momentos, o acontecido ficou perenemente registrado, gravado de forma indelével como o dia em que, mostrando uma faceta que até então desconhecíamos em tão cordato amigo, Valtério Sales saiu do armário e entrou para a História.
(120219)
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