A vida de cada um de nós tem uma trilha sonora, qual as que vemos nos filmes. Ela vai sendo editada à medida em que vivemos. Uma pitada de música infantil, de samba, tango, música de suspense e até - Deus nos livre e guarde! - da marcha fúnebre. Na trilha musical da minha vida não entram duplas argh- sertanejas, destas que vendem bilhões de discos no Brasil, nem grupinhos ditos de pagode, que pagode não é, pagode mesmo é outra coisa. Em compensação entram Zeca Baleiro, Daúde, a extinta Mestre Ambrósio, a sempre maravilhosa Bossa Nova, Chico, Caetano, Gil, Gal, Elis Regina, Marisa Monte, Calcanhotto, Gordurinha, Luiz Gonzaga, Hermeto Pascoal e um montão de capitosas especiarias musicais, como Marcelo Nova e o Camisa de Vênus. Sim, porque nesta lista entra - de leve - um rock'n roll da pesada, pois um bom rock nos vale para agitar geral, vez que esta vida rápido passa e rockear é preciso. (15/05/10)
Minha estadia em Belém do Pará como convidado do VII Salão
de Humor da Amazônia encerrava uma oportuna coincidência. Um dos cinco dias em
que eu ficaria na bela Belém era o dia do meu aniversário, 31 de maio. Comentei
isso com Biratan Porto que logo confidenciou ao caricaturista J.Bosco. Vai daí
que Bira, Bosco, Wânia, sua esposa, e Alllana Queiroz, tendo como
cúmplice nessa história meu irmão Luiz Fernando Carvalho, organizaram para mim
uma inédita festa-quase-surpresa no aconchegante apartamento de Biratan, um
misto de lar e estúdio. Antes da festa, Luiz Fernando passou comigo em um bem
suprido supermarket em que comprou
umas garrafas de vinhos chilenos e um bom Vinho do Porto, já que além de amar
os cartuns, apreciamos também as coisas boas da vida, afinal a gente não nasceu
ontem. Chegando ao apartamento de Bira constatei de imediato que na festança
que meus generosos e amáveis amigos me prepararam com tanto carinho quem
ficaria muito à vontade seria o cantante e compositante Erasmo Carlos, o
popular Tremendão, pois não era uma mera festinha, era uma festa de arromba,
expressão que o músico usa em uma de suas canções para designar uma festividade
memorável em que ele esteve. A sede era imensa e para aplacá-la fomos de cara
abrindo uma garrafa de uma outra variedade de belo e capitoso vinho chileno que
Bira comprara, não sem antes certificar-se de que se tratava de uma safra
pré-Pinochet, bem mais salutar. Dois belíssimos bolos foram providenciados. Um
era virtual, criativa e hilária brincadeira do Biratan, mostrando uma
caricatura de minha fina estampa feita por ele no seu PC, em que eu soprava
velas sobre um bolo que indicavam que eu estaria completando 66 anos de idade,
sacanagem do Bira que sabe muito bem que eu tenho pouco mais que a metade disso,
o que mostra que mesmo os grandes amigos têm seus momentos malafaios. Quanto ao
outro, era um bolo de fato, um lindo, maravilhoso e mais que delicioso bolo de
chocolate para chocólatra nenhum botar defeito. Os convivas foram chegando e
entrando logo no clima e ao final boa parte da mais fina flor do cartunismo
brasileiro lá estava pra se divertir na patuscada. Presentes no local meu
inigualável hostess, Biratan Porto com seu indefectível Panamá na cuca, e os
cartunistas Waldez Duarte, André Júnior, Mario Alberto, Orlando Pedroso,
J.Bosco and family, Wânia e Allana Queiroz. Meu irmão gêmeo, que reencontrei em
Belém, Luiz Fernando Carvalho, que é cartunistólogo e caricaturistólogo, além de
um dos eficientes organizadores do Salão de Humor lá estava me alegrando e
dividindo esses momentos de tão transbordante emoção. Todos nos divertimos à beça,
bebemos muitos vinhos bons, cervejotas no capricho, comemos petiscos que o
próprio chef Bira preparou com esmero, rimos a alto e bom som e ainda por cima
nos divertimos com a verve de Bira que, versado em artes anfitriônicas, animou
ainda mais o ambiente contando causos hilariantes para o divertimento e a
felicidade geral da galera presente. Sim, senhoras e senhores, o Tremendão
Erasmo Carlos haveria de se esbaldar nessa fuzarca. E por participar dela
haveria de agradecer muitíssimo comovido. Muitíssimo, mas bem menos que eu. Na foto acima, Luiz Fernando Carvalho, André Abreu, Waldez Darte, Biratan Porto, Mario Alberto, Orlando Pedroso, J.Bosco e Wânia Queiroz, consorte do graaaaaande J.Bosco. Logo abaixo, a foto da discórdia. Meu coração generoso já perdoou a atitude insidiosa do Biratan.
Eis que um anjo de fulvas melenas adentra meu modesto lar e
me anuncia que em breve eu haveria de visitar Belém, um sonho que tantos sonham
e acabam ficando apenas no sonhar, que Deus tem lá seus imperscrutáveis desígnios
e não nos cabe a nós, míseros mortais, questionar suas divinas decisões. Tendo cumprido sua missão, sai de cena o anjo
com suas alvinitentes asas e eu passo a contar os dias que me separam do
momento de embarcar para Belém em outras asas que não as do anjo-mensageiro, as
asas da Panair. Ou no mínimo em qualquer bom avião de carreira. Vem chovendo
copiosamente todos os dias na minha Bahia de Todos os Santos e Orixás, entanto
no dia do meu embarque o céu é de brigadeiro e nos ares me sinto tão
maravilhoso e seguro qual um Aladim voando em seu confortável tapete mágico.Uma honraria maior me acompanha nessa viagem:
estou indo a Belém para me encontrar pessoalmente com o Nazareno. Nesse momento cumpre-me esclarecer a você,
caro leitor, que a Belém a que me refiro não é aquela que consta nos mapas
atuais como situada na Palestina, e que era há 2000 anos apenas uma pequenina
cidade próxima ao deserto da Judeia em que, segundo a Bíblia, nasceu ninguém
menos que Jesus Cristo. A Belém a qual me refiro trata-se de Belém do Pará,
cidade linda e aprazível, onde um povo pleno de calor humano habita. Ah, e o Nazareno a que faço menção também não
é o mesmo Jesus Cristo, convém deixar bem claro, trata-se do meu amigo Biratan
Nazareno Porto, cartunista dos mais brilhantes do Brasil e desse vasto mundo.
Pois foi esse meu piramidal amigo quem me telefonou formulando, em nome do
Salão de Humor da Amazônia, o convite para viajar até sua terra com o precípuo
escopo de integrar um júri formado por gente ligada aos cartuns tendo por
objetivo de selecionar os premiados desse que é o VII Salão de Humor da
Amazônia. De quebra, ficou combinado que eu ministraria uma oficina para falar
aos inscritos sobre a arte da ilustração, como criar, que técnicas utilizar.
Além do mais eu deveria integrar a mesa de um oportuno debate aberto ao público
para falar sobre Liberdade de Imprensa, tema motivado pelo recente ataque terrorista
ao jornal Charlie Hebdo e seus cartunistas. Tais encargos para mim são, em
verdade, motivo de júbilo e de prazer vez que enxergo a profissão como uma
realização pessoal, um lazer, uma forma de expressar meu pensamento diante das
coisas do mundo. Participar in loco de Salões de Humor sói
proporcionar a alegria de encontrar amigos de longa data e de conhecer
pessoalmente gentes que militam na área do cartum, saber suas opiniões, suas
formas de encarar a profissão em comum.E eis que na terra natal de meu ídolo, Doutor Sócrates, de Pinduca, Gabi
Amaranto, Fafá de Belém, do Paysandu e do Remo revi confrades queridos, conheci
novos amigos, a oficina foi um sucesso, o debate foi esclarecedor, os melhores
do Salão foram premiados e eu, ah!, eu fui recepcionado da mais carinhosa
maneira e vivi dias belenenses dignos de monarca. Na foto de cima, eu ao lado dos meus talentosíssimos amigos J.Bosco e Biratan Porto. Na de baixo, flagrante de momento em que escolhíamos os melhores trabalhos do VII Salão. Da esquerda para a direita -no bom sentido, no bom sentido! - Waldez Duarte, Orlando Pedroso, Setúbal, Mario Alberto( tão encoberto que só dá para ver a ponta de sua brilhante cuca ), Natália Forcart e de costas, meu irmão gêmeo, Luiz Fernando Tavares.