23 novembro 2019

O dia em que Joel Santana foi à final com o Bahia e avisou: vocês vão ter que me ingerir!.

No ano de 2013 Joel Santana é chamado para socorrer o EC Bahia que não vinha nada bem,  recebendo do então presidente do tricolor um lote de jogadores que muitos tinham na conta de refugos, e a missão impossível de levar aquele bando à final do Baianão. A crônica esportiva baiana o espinafra impiedosamente antes mesmo que ele assuma, taxando-o de superado, enganador e inveterado bebedor de etílicos. Papai Joel pega seu laptop, digo, pega sua prancheta, reúne o elenco do qual dispunha, dá uma guaribada e vai à luta. Sua estrela brilha como sempre brilhou, e ele, contrariando a expectativa da mídia, leva aquele quase time à final contra o então forte e entrosado time do EC Vitória - já considerado o virtual campeão - para desespero de seus críticos mais ferrenhos que agora teriam que aturar Joetílico goela abaixo bem mais tempo que planejavam. Ganhar do afinado Leão aí já seria uma outra história, uma tarefa hercúlea, mas o importante é que Papai Joel colocou mesmo o sofrível time do Tricolor de Aço na decisão do título.
Acompanho resenhas esportivas desde pequeno, é mais que um hábito, é quase um vício que não consigo evitar, mesmo sendo claro para mim que cronistas esportivos, com raras, aliás, raríssimas exceções, não podem nunca serem levadas a sério - isso vale para cronistas de todo o Brasil - sendo pessoas que, acomodados em confortáveis assentos em um estúdio com ar acondicionado ou numa cabine de rádio ou TV, nas mesas redondas ou resenhas vivem se colocando na posição de verdadeiros PHDs em Ciência Futebolística Superior e Supremos Analistas dos Mais intrincados Esquemas Táticos. Com indisfarçável e gigantesca presunção, do seu refúgio seguro sugerem que entendem de futebol mais do que qualquer técnico em atividade, dando a si próprios uma importância que não possuem. E não vamos nem falar dos constantes e lamentáveis atentados que, mesmo os que dizem ter curso superior, cometem contra o vernáculo pátrio, nem - ainda pior - as ligações espúrias, nunca assumidas, que muitos mantém com cartolas suspeitíssimos. Cronistas que tais não gostam nem um pouqinho de serem contestados, fazem do microfone uma metralhadora inclemente contra quem os conteste. Mas, com o devido respeito aos bons profissionais - sou amigo pessoal de alguns - a lógica diz que se este fantástico conhecimento do futebol que arrotam fosse mesmo verdadeiro, procedente, qualquer um desses comentaristas mandaria as críticas injustificadas e os insultos que haveria de receber às favas e não hesitaria em assumir sem medo o cargo de professor em um clube de porte do nosso futebol ou mesmo dos States, da China, do Japão, onde iria ganhar em um único mês o que ele, como cronista esportivo, levaria dez anos para ganhar, numa área onde há enorme concorrência, podendo sempre aparecer um outro grande e incontestável gênio dos comentários oferecendo-se para ocupar seu lugar na equipe esportiva em troca de uma merreca. Como este conhecimento que pensam que possuem é coisa só da boca para fora, é só teórico e sem maiores fundamentos, estes pavões dos microfones, aboletados em suas cabines ou estúdios de TV cheios de empáfia vivem emitindo críticas sobre os que de fato são verdadeiramente talhados para o ofício, como Papai Joel, um mais que notável colecionador de títulos por diversos dos maiores clubes do Brasil, um vencedor incontestável com seu invejável histórico de conquistas. E - para aumentar ainda mais as já grandes dores de cotovelos - um garoto-propaganda de renomadas marcas, muitíssimo bem remunerado que, com enorme simpatia, faz até mesmo de seu Inglês-algaravia uma esplendorosa fonte extra de renda que brota de todos os lados, frondzé midôu, frondzé léfite, frondzé ráite. O resto é mesmo um grande e indisfarçável recalque geral, pura inveja, o que para mim explica a bronca que essa turma tem de Papai Joel e de qualquer outro consagrado técnico que alcance o sucesso em sua atividade.
(08/05/13)