15 março 2016

Paulo Paiva, Corinthians campeão e Tostão prenunciando o atual declínio do futebol brasileiro.

Acreditem, além daquela arenga inócua e do velho lengalenga habituais dos que são chamados de cronistas esportivos, há vida inteligente na cobertura do chamado esporte bretão. São poucos, são raros os que compõem esse grupo, mas existem para nos livrar da mediocridade geral que contempla essa nação de tantos amantes do dito esporte das multidões. O principal entre esses raros bem-pensantes, no melhor dos sentidos, chama-se Tostão e suas opiniões podem ser lidas no jornal Folha de São Paulo. Poucos são os cronistas mais contidos e discretos, os outros em grande quantidade infestam rádios e TVs e ali destilam uma multidão de lugares-comuns, frases de efeito, opiniões emitidas por conveniência, pretenso entendimento de táticas e do que acontece em campo, visão rasteira do universo pebolístico e uma sórdida conivência com a cartolagem nefasta. Alguns adotam a linha humorística, imaginam-se criativos e engraçadíssimos. Emitem suas opiniões com ares de professores, mestres, próceres, grandes luminares do assunto. Não são luminares coisa alguma, em sua maioria assassinam nosso léxico e quase nunca acertam o alvo embora tenham suas opiniões em altíssima conta. Grande parte têm ligações nefárias com a cartolagem podre que tanto mal faz ao esporte, trabalham a serviço da escória. Pois Tostão é um dos raros casos de cronistas que podem ser lidos e ouvidos com respeito. Sou seu admirador incondicional e procuro ler tudo o que ele escreve. Acho-o pessoa idônea, equilibrada, imparcial que conhece tudo do assunto, conhece o país que vivemos, fala o que de fato pensa, mostrando conhecer profundamente o que se passa nas quatro linhas do campo. Não busca afirmação pessoal nem polêmicas baratas. Para traduzir o que penso sobre a conquista do Campeonato Mundial Interclubes pelo Corinthians nesse ano de 2012 vou fazer minhas as palavras do inigualável Tostão. Se os que se apossaram dos destinos do nosso futebol tivessem sua visão e consciência e não pensassem tão obsessivamente em acumular fortunas às custas desse esporte, certamente não teríamos passado o vexame mundial que passamos na Copa do Mundo que viria em 2014. Para ilustrar vou usar uma carica relativa à conquista do Bi do meu amado Timão, feita pelo cartunista Paulo Paiva, que é, assim como eu, mais um a compor este formidável bando de loucos que agora mostrou ao mundo e a quem sabe enxergar as coisas com clareza o que é amar verdadeiramente um time de futebol. Com vocês, o traço de PP e o texto irretocável do Tostão:

Aprendam com o Coringão  
Como escrevo aos domingos e quartas, não sou blogueiro, tuiteiro, não participo de rede social, não trabalho no rádio nem na televisão, gosto de palpitar, ainda não escrevi sobre o jogo do Corinthians e tenho a pretensão de achar que algum leitor queira saber minha opinião, continuo com o assunto, já comentado um milhão de vezes pela imprensa. Você já imaginou se, em uma das defesas de Cássio, a bola tivesse sido chutada um pouco para o lado? Seria gol, e o jogo poderia ter tido outra história. As opiniões seriam diferentes. Tite, certamente, seria criticado, o que seria injusto. Seu trabalho foi ótimo, independentemente do resultado.
Diferentemente das vitórias do São Paulo sobre o Liverpool e do Internacional sobre o Barcelona, quando os times brasileiros foram dominados durante toda a partida, o Corinthians fez um jogo equilibrado com o Chelsea.
Tite, mais uma vez, acertou ao colocar Jorge Henrique de um lado e Danilo de outro, deixando Emerson livre, como gosta e próximo de Guerrero. O time ficou mais forte, na defesa e no ataque. Parecia um clássico inglês. O Corinthians, no tradicional 4-4-2, com duas linhas de quatro e dois atacantes, enquanto o Chelsea atuava como as atuais equipes globalizadas, ditas modernas, com uma linha de três meias e um centroavante (4-2-3-1). O Corinthians não mostrou nenhuma novidade tática. Apenas executou muito bem o que foi planejado.
Ter um grande conhecimento teórico sobre futebol é essencial para ser um bom técnico. Mas o melhor treinador não é o que sabe mais a teoria. É o que percebe os detalhes subjetivos, nebulosos e faz com que os jogadores executem com eficiência o que foi planejado.
O Chelsea mostrou por que foi eliminado na primeira fase da Copa dos Campeões, pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, está muito distante dos primeiros colocados no Campeonato Inglês e, recentemente, foi goleado pelo Atlético de Madri, por 4 a 1, pela Supercopa da Europa.
Em resumo, há hoje três maneiras de se jogar futebol. Uma, única, a do Barcelona, que ocupa o campo adversário, fica com a bola e espera o momento certo para tentar a jogada decisiva. Outra, a do Corinthians e de equipes da Europa, de times compactos, que alternam a marcação por pressão com a mais recuada e que conseguem sair da defesa para o ataque com troca de passes. E a terceira, a da maioria dos times brasileiros e sul-americanos, com muitos chutões, jogadas aéreas, excesso de faltas e correria. É uma maneira arcaica de se jogar.
Espero que outros clubes brasileiros aprendam com o Corinthians a ser organizados, dentro e fora de campo. Isso já se iniciou no Brasileirão deste ano. Alguns técnicos tiraram a máscara, aceitaram as críticas e, lentamente, começam a mudar. Tomara!
(Publicado originalmente em 21/12/12)