22 maio 2012

Cinegrafista que filmou celular de deputado Vaccarezza na CPI vai para a penitenciária

Shakespeare deveria estar pensando no Brasil quando escreveu que "há mais coisas ente o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia". Por exemplo, a quase táctil inversão de valores existente entre nós de difícil compreensão para os que se pretendem racionais. A todo instante as televisões nos mostram vídeo  fita onde alguém é flagrado corrompendo ou sendo corrompido ou ainda um sacripanta afirmando que matou ou estuprou alguém. Estarrecido você assiste aquilo e conclui que com provas tão cabais e incontestáveis o crápula que protagoniza o fato vai parar atrás das grades por décadas, no mínimo. Eis que o protagonista surge em cena ladeado por um labioso advogado que sustenta estóicamente que a gravação em que "seu cliente" é apresentado corrompendo, estuprando ou matando não tem validade legal alguma pois foi feita ilegalmente sem a devida e necessária autorização de um juiz como determina a dura lex sed lex. Aí impera a tal inversão de valores vigente entre nós que termina livrando a cara do delituoso e colocando no banco dos réus a pessoa que gravou o delito, com formidáveis chances de que ela, sim, vá parar atrás das grades, tendo ainda que indenizar o crápula por difamação e calúnia. Abordo este assunto devido ao fato de ter ficado impressionado esta semana com uma imagem veiculada pelo SBT. Um cinegrafista atento e com invejável senso jornalístico captou em espetacular flagrante a tela do celular do deputado do PT paulista, Cândido Vaccarezza. Nela, nítida, uma mensagem que o parlamentar acabara de digitar e estava enviando para o Governador do Rio, Sérgio Cabral, tranquilizando-o, afirmando que Cabral nada tinha a temer daquela CPI de araque, apesar de ter sido flagrado em cenas de love story explícita ao lado do megatrambiqueiro Cachoeira, sob as luzes de Paris. Com imagem tão nítida da tela do celular do petista e da mensagem comprometedora, com tão irrefutável prova, qualquer um poderia afirmar que o deputado Vaccarezza é, no mínimo, um safado que não dá bola ao decoro parlamentar, que para conseguir governabilidade o PT de há muito abandonou seus príncípios eticos, que esta CPI é uma lamentável farsa, que logo afastarão o Vaccarezza da CPI na base do "vão-se os anéis mas ficam os dedos" e que mais uma vez o povo está sendo feito de palhaço. Nos EUA, o tal cinegrafista ganharia um Prêmio Pulitzer sendo aplaudido de pé e angariaria, de quebra, a eterna a admiração de todos. Por aqui, a tal inversão de valores reinante manda que o sagaz cinegrafista coloque suas barbas de molho. É de se esperar que Vaccarezza apareça em público ladeado por um rábula qualquer dizendo-se vítima de invasão de privacidade por parte do cinegrafista. E qualquer tribunal por aqui dará ganho de causa ao parlamentar mandando o autor das imagens tomar café de canequinha dentro de alguma penitenciária de segurança máxima. E ele se verá premido a buscar uma outra profissão menos perigosa.