Pensei em Hilda Hilst, grande e iluminada poeta, e me bateu vontade de ler algo bem fescenino dela. Achei esta poesia com sua marca inconfundível. Se você gosta da boa poesia, certamente gosta de Hilda. Na primeira foto ela com o magistral Zeca Baleiro, seu parceiro em belas composições. Na outra ela com aquela carinha singela de avó pacata e toda convencional. E qualquer um há de pensar como ela pode escrever versos tão iconoclastas com esta carinha meiga aê. Delicie-se agora com a poesia, entonces.
Araras versáteis
Araras versáteis. Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.
(28/11/13)
(28/11/13)