23 abril 2019
13 abril 2019
Woody Allen, o cartunista Laerte, o artista plástico Flávio de Carvalho e o mundo dos crossdressers.
Estilistas, costureiros, bordadeiras, correi. É chegada a hora de tesourar, costurar e alinhavar para uma nova vertente que surgiu forte no mundo da moda: o crossdresser. Não que isso seja de fato coisa nova, na verdade a coisa vem de longe. No cinema, entre outras películas, o tema foi abordado pelo cineasta Woody Allen ainda nos anos 70 em um filme intitulado "Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo e não tinha coragem de perguntar". Nele, um sisudo pai de família tem o incontrolável impulso de vestir-se às escondidas com as roupas da esposa, passando, assim trajado, horas a fio admirando-se no espelho. Aqui no Brasil, há já algum tempo, graças ao cartunista Laerte, o tema voltou à baila, já que este artista reivindicou para si - e conseguiu, com muita personalidade - o direito de se trajar em público com vestimentas até então consideradas de uso restrito ao mundo feminino. Curiosamente, vale lembrar que mulheres lutaram e ainda lutam muito para conseguir direitos que sempre lhes foram negados. Voto, cargos políticos, empregos, um mundo de coisa. Mas ao mesmo tempo sempre lhes foram franqueadas coisas que aos homens eram negadas, sempre puderam elas desfilar por ruas e ambientes com cabelos cor-de-rosa ou azuis ou verdes sem reações hostis dos varonis. Também nunca sofreram maiores constrangimentos ao usarem indumentárias tidas como sendo de uso exclusivo dos barbados, como calça comprida. Esta até que deu um pouco de trabalho para elas no início mas hoje é mais que normal. Comum é ver-se por aí belas evas envergando chapéus e ternos masculinos, com gravata e tudo. Mulheres acendendo puros em bares e até jogando sinuca sem jamais aparecer uma nega maluca dizendo que aquilo é uma aberração. Quanto aos homens, pobres homens. Tirando os escoceses e povos da Índia, homem com saia não tem vida fácil. Basta lembrar o grande alvoroço que causou o artista plástico Flávio de Carvalho em 1956 ao desfilar pelo Viaduto do Chá, em Sampa, seu Traje Tropical composto de saiote e mangas curtas, deixando estarrecida e indignada a patuleia da pauliceia. Uma multidão seguia atrás do performático artista, gritando agressivamente em seus ouvidos algo assim como: "Viaduto!" "Viaduto!" Sem colher de Chá. No fim das contas, pelo que eu li sobre personalidades brasileiras, quem estava certa mesmo era uma senhorita chamada Luz del Fuego, que não usava roupa masculina nem feminina, preferindo - a título de indumentária - usar sobre seu corpo desnudo apenas uma prosaica e confortável serpente viva. Uma autêntica snakedresser.
(15/03/13)
(15/03/13)
11 abril 2019
Desenhos de Setúbal para trilogia de quadrinhos Em Terras Americanas

Antonio Cedraz, o aclamado Mestre baiano dos quadrinhos, emérito criador do personagem Xaxado, em uma dessas segundas-feiras de céu cinzento me telefonou e disse que o a Editora Cedraz tinha um projeto para fazer três histórias em quadrinhos aguardando o resultado de uma licitação da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Falou que se o projeto fosse escolhido O Estúdio receberia recursos do Fundo de Cultura do Estado, que as chances de escolha eram grandes e, melhor ainda, que eu seria um dos participantes na feitura das HQs. Diante de tão alvissareira notícia o tom cinza do céu desvaneceu-se imediatamente para mim. Contou-me Cedraz que ele e Tom Figueiredo, escritor, argumentista e seu braço direito no Estúdio, haviam me escolhido para desenhar a trilogia batizada de Em Terras Americanas que seria realizada em uma linha diferente daquela dirigida para o público infantil habitualmente adotada pelo Estúdio Cedraz e que o tornou um desenhista admirado em todo o Brasil. O estilo a ser empregado seria aquele que costumeiramente se vê nas revistas de super-heróis em que os desenhistas mostram conhecimentos de anatomia e domínio de sombras e iluminação, movimentos, indumentárias, expressões fisionômicas. Passou-se um tempo e o melhor acabou acontecendo: o projeto do Estúdio Cedraz foi realmente selecionado. Agora restava apenas aguardar a chegada da verba oficial para podermos tocar o trabalho. Enquanto isso não acontecia tratei de intensificar meus treinos de desenho de anatomia, mergulhando em livros que tenho sobre o assunto, rabiscando em toneladas de papéis e procurando ver o que estava se publicando de novidade nos quadrinhos na linha pretendida, os conceitos mais em voga, os novos grafismos utilizados. Todo esforço e treino para aprender a desenhar corretamente a anatomia é pouco. Há que se empenhar muito, copiar dos livros adequados mãos, pés, pernas, olhos, narizes, bocas, fazer, refazer, treinar compulsivamente dias e dias buscando aprender tudo sobre cada músculo do corpo humano, movimentos, expressões fisionômicas. E há ainda as sombras, ângulos, enquadramentos diversos, entre otras cositas, detalhes que exigem uma dedicação e uma perseverança que existem somente nos que gostam muito de desenhar e pretendem melhorar o próprio desempenho. Por fim, Tom Figueiredo anunciou que havia chegado a hora de iniciarmos o trabalho que foi feito em uma equipe composta pelo próprio Tom, na qualidade de autor do argumento, do roteiro e até mesmo dos providenciais rafes, aqueles desenhos rápidos feitos para orientar os desenhistas de quadrinhos. De posse do material passado por Tom tratei de iniciar o trabalho de desenhar as mais de sessenta páginas que continham as três histórias de Em Terras Americanas e de suas respectivas capas, todas feitas em pranchas de papel em formato A3, como manda o figurino tradicional. Desenhar histórias em quadrinhos pode ser algo divertido e compensador, mas como já disse antes e repito agora, é também um trabalho árduo que exige uma boa dose de rigor, disciplina e uma dedicação exclusiva ou quase isso. Umas bronquinhas do Tom, também contam muito para a celeridade do processo. Vale dizer que o sempre presente trabalho da coordenação de produção foi fundamental também para que eu pudesse trabalhar com a necessária segurança e tranquilidade. Não sei dizer aqui o quanto demorei desenhando e artefefinalizando com nanquim a primeira das revistas, mas tão logo terminei passei incontinente para Vitor Souza, o colorista encarregado de enriquecer com suas cores as HQs, para que ele desse início à sua própria maratona colorindo sozinho as mais de sessenta páginas, uma equipe de um homem só. Enquanto Vitor coloria a primeira das revistas passei a desenhar e artefinalizar a segunda. E assim a coisa caminhou até que finalmente concluímos as três HQs para a alegria da equipe e para a felicidade geral desse povo varonil que com justificável júbilo oscula o auriverde pendão da minha terra que a brisa do Brasil beija e balança. Bom é saber que por terem sido publicadas com numerário advindo de verba oficial, as três revistas estão sendo vendidas por preço mais que acessível, sendo que a renda angariada será totalmente revertida em favor da ONG Centro Comunitário Batista Soteropolitano . Os amantes dos quadrinhos interessados podem adquirir por módicos R$12,00, todos os três exemplares de Em Terras Americanas ali na KATAPOW (Av. Octávio Mangabeira, Edifício Privilege, loja 7, Pituba) e na RV CULTURA E ARTE (Av. Cardeal da Silva, 158, Rio Vermelho), localizadas ambas nessa cidade de Salvador, Bahia, espaços especializados na venda do que há de melhor no universo dos quadrinhos (Um rápido e necessário PS: a loja KATAPOW já deixou de existir, mas a RV continua firme, para alegria dos quadrimaníacos). Os leitores que não moram em Salvador ou mesmo os que não têm tempo de passar em uma das lojas citadas, podem encomendar seus exemplares pela Internet enviando o pedido em e-mail para editora@estudiocedraz.com.br. Nesse caso o preço é R$18,00, com o frete incluso. Enquanto você não adquire seus exemplares, usando de minha proverbial generosidade, postei acima uma capa e duas páginas das HQs para permitir que você, leitor amado, possa aqui e agora prelibar alguns momentos de Em Terras Americanas.
05 abril 2019
Pedro Almodóvar, Liberdade, Sexualidade, Democracia e o Avanço da direita no mundo.
Pedro Almodóvar, no traço cinematográfico do cartunista e também ator J. Bosco.
O reacionarismo, o racismo, a homofobia têm macróbia existência no Brasil. Às vezes ficam embuçados nas sombras, ali bem escondidinhos, esperando a hora de mostrar suas caratonhas. Outras vezes saem à luz, falam de forma estentórea. Quando se sentem fortes, engrossam ainda mais as vozes, gritam alto, hostilizam, agridem e fazem tudo para subjugar os que deles discordam. Não somos só carnaval, futebol, mulatas malemolentes, gingado e samba no pé. Ideias e atitudes retrógradas foram sempre uma constante entre nós, brasileiros, coisa que muitos não soem imaginar e por isso costumamos desfrutar perante o mundo do conceito de sermos um povo de constante alma solar, cordato, aberto ao diálogo e receptivo à ideias progressistas. Péro las cosas não são bem assim, há uma abissal distância entre essa boa conceituação da qual desfrutamos, e o que de fato mostramos ser na prática cotidiana. No entanto, não temos exclusividade no que se refere a lamentáveis comportamentos reacionários. Não só o Brasil vem sendo atingido por uma crescente onda de retrocessos, de reacionarismos, fascismo, nazismo, totalitarismo, de políticas excludentes que privilegiam apenas e tao somente os já muito privilegiados, de graves ameaças vindas dos extremistas de direita. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que em seus filmes recheados de ideias libertárias sempre defendeu a mais ampla liberdade de expressão artística e popular, bem como liberdade sexual e a Democracia como sendo ainda o melhor dos caminhos, mostra uma enorme preocupação com esse crescimento da direita no mundo. No recente Festival de Cannes ele deu entrevista falando sobre o assunto. Aqui, alguns trechos da entrevista:
Repórter: Como o Sr. vê o crescimento dos partidos de direita na Europa?
Almodóvar: Estou aterrorizado com o avanço da direita. Não tenho filhos, mas, se tivesse, ficaria preocupado com o destino deles, por temer um destino atroz para o mundo.
Repórter: Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump conquistou um espaço inesperado na campanha presidencial.
Almodóvar: Não quero sequer pensar na possibilidade de Donald Trump chegar à Casa Branca, pelo retrocesso que ele representa. A situação é preocupante no mundo todo. Nunca imaginei que manifestações contra o casamento gay e contra o aborto pudessem arrastar tanta gente na França. Para nós, espanhóis, a decepção com a França é ainda maior.
Repórter: Por quê?
Almodóvar: Os franceses têm um problema gravíssimo para resolver. Na Espanha, não temos um índice de crescimento tão significativo da direita. E digo direita civilizada. Não a extrema-direita da França, onde a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, promete representar um perigo real na eleição presidencial de 2017. O país sempre foi um modelo de sociedade laica, além de ter sacudido os valores antigos com a revolta de maio de 1968. É uma pena constatar que a França não é o país que eu pensava. Tenho a sorte por ter crescido rodeado de mulheres que me inspiraram com sua força e me ensinaram a não ter preconceitos.
Repórter: Seus filmes refletem o momento político pelo qual a Espanha passava. Se "A lei do desejo" e "Mulheres à beira de um ataque de nervos" retratavam a extravagância do país recém-saído da ditadura militar, o que "Julieta" diz da Espanha atual?
Almodóvar: O filme representa um país triste, solitário e carregado de dor. Jamais poderia ter filmado "Julieta" nos anos 1980 ou 1990. Os tempos mudaram e eu também mudei. Enquanto minhas primeiras personagens saíam para a rua, para aproveitar a vida, Julieta é reclusa, passando quase todo o tempo em casa. Comparado aos anos de euforia, hoje sou mais introspectivo. Conforme o tempo passa, ele também se encarrega de trazer a nossa cota de dor, da qual ninguém escapa.
Pergunta: "Julieta" é o seu filme mais econômico no que diz respeito às emoções? Isso também é resultado da experiência adquirida?
Almodóvar: Para chegar a esse nível de contenção, é preciso experiência. Não só experiência de vida, mas profissional. Por ser meu vigésimo filme, eu me sinto maduro como diretor. Reduzir os elementos é muito mais difícil do que parece. Precisei usar planos simples, em que os atores faziam poucos movimentos, apostando tudo o que tinha em uma cartada só. O cuidado foi muito mais minucioso, para garantir que a cena tivesse força dramática, ainda que ninguém pudesse chorar.
Repórter: Incomoda o fato de a crítica ter se surpreendido com a abordagem contida de "Julieta", como se ela soubesse mais que o Sr. como deve ser uma obra de Almodóvar?
Almodóvar: O peso de ser quem sou só existe quando termino o filme e não durante a roteirização ou filmagem. Tomo as decisões com liberdade, sem considerar o mercado ou o espectador. Os fantasmas só aparecem na sala de edição. É nessa fase que começo a ter medo. Há sempre uma comoção no lançamento de meus filmes, o que não é bom, por aumentar as expectativas. Preferiria que o público assistisse a meus filmes mais relaxadamente, para poder avaliá-lo apenas pelo que ele é.
Repórter: O Sr. diria que compreende melhor a vida por fazer cinema?
Almodóvar: Entendo melhor a mim mesmo. Obviamente, os meus personagens vão muito além de mim, embora eu esteja em todos eles. Muitas vezes os meus filmes representam espécies de premonição, antecipando situações com as quais vou me deparar algum tempo depois.
Repórter: Pode dar um exemplo?
Almodóvar: Antes de "Mulheres" eu não havia jogado um telefone na parede(risos). A culpa que Julieta carrega, por ter fracassado como mãe, também ecoou em mim. Achei que já tivesse superado a culpa pela criação católica que recebi, mas não cheguei lá ainda. Por mais que eu tenha uma abordagem laica, sem pensar em céu ou inferno, passei a pensar no que fiz de errado, com quem fiz e como poderia assumir a responsabilidade e remediar.
(13/09/16)
O reacionarismo, o racismo, a homofobia têm macróbia existência no Brasil. Às vezes ficam embuçados nas sombras, ali bem escondidinhos, esperando a hora de mostrar suas caratonhas. Outras vezes saem à luz, falam de forma estentórea. Quando se sentem fortes, engrossam ainda mais as vozes, gritam alto, hostilizam, agridem e fazem tudo para subjugar os que deles discordam. Não somos só carnaval, futebol, mulatas malemolentes, gingado e samba no pé. Ideias e atitudes retrógradas foram sempre uma constante entre nós, brasileiros, coisa que muitos não soem imaginar e por isso costumamos desfrutar perante o mundo do conceito de sermos um povo de constante alma solar, cordato, aberto ao diálogo e receptivo à ideias progressistas. Péro las cosas não são bem assim, há uma abissal distância entre essa boa conceituação da qual desfrutamos, e o que de fato mostramos ser na prática cotidiana. No entanto, não temos exclusividade no que se refere a lamentáveis comportamentos reacionários. Não só o Brasil vem sendo atingido por uma crescente onda de retrocessos, de reacionarismos, fascismo, nazismo, totalitarismo, de políticas excludentes que privilegiam apenas e tao somente os já muito privilegiados, de graves ameaças vindas dos extremistas de direita. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que em seus filmes recheados de ideias libertárias sempre defendeu a mais ampla liberdade de expressão artística e popular, bem como liberdade sexual e a Democracia como sendo ainda o melhor dos caminhos, mostra uma enorme preocupação com esse crescimento da direita no mundo. No recente Festival de Cannes ele deu entrevista falando sobre o assunto. Aqui, alguns trechos da entrevista:
Repórter: Como o Sr. vê o crescimento dos partidos de direita na Europa?
Almodóvar: Estou aterrorizado com o avanço da direita. Não tenho filhos, mas, se tivesse, ficaria preocupado com o destino deles, por temer um destino atroz para o mundo.
Repórter: Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump conquistou um espaço inesperado na campanha presidencial.
Almodóvar: Não quero sequer pensar na possibilidade de Donald Trump chegar à Casa Branca, pelo retrocesso que ele representa. A situação é preocupante no mundo todo. Nunca imaginei que manifestações contra o casamento gay e contra o aborto pudessem arrastar tanta gente na França. Para nós, espanhóis, a decepção com a França é ainda maior.
Repórter: Por quê?
Almodóvar: Os franceses têm um problema gravíssimo para resolver. Na Espanha, não temos um índice de crescimento tão significativo da direita. E digo direita civilizada. Não a extrema-direita da França, onde a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, promete representar um perigo real na eleição presidencial de 2017. O país sempre foi um modelo de sociedade laica, além de ter sacudido os valores antigos com a revolta de maio de 1968. É uma pena constatar que a França não é o país que eu pensava. Tenho a sorte por ter crescido rodeado de mulheres que me inspiraram com sua força e me ensinaram a não ter preconceitos.
Repórter: Seus filmes refletem o momento político pelo qual a Espanha passava. Se "A lei do desejo" e "Mulheres à beira de um ataque de nervos" retratavam a extravagância do país recém-saído da ditadura militar, o que "Julieta" diz da Espanha atual?
Almodóvar: O filme representa um país triste, solitário e carregado de dor. Jamais poderia ter filmado "Julieta" nos anos 1980 ou 1990. Os tempos mudaram e eu também mudei. Enquanto minhas primeiras personagens saíam para a rua, para aproveitar a vida, Julieta é reclusa, passando quase todo o tempo em casa. Comparado aos anos de euforia, hoje sou mais introspectivo. Conforme o tempo passa, ele também se encarrega de trazer a nossa cota de dor, da qual ninguém escapa.
Pergunta: "Julieta" é o seu filme mais econômico no que diz respeito às emoções? Isso também é resultado da experiência adquirida?
Almodóvar: Para chegar a esse nível de contenção, é preciso experiência. Não só experiência de vida, mas profissional. Por ser meu vigésimo filme, eu me sinto maduro como diretor. Reduzir os elementos é muito mais difícil do que parece. Precisei usar planos simples, em que os atores faziam poucos movimentos, apostando tudo o que tinha em uma cartada só. O cuidado foi muito mais minucioso, para garantir que a cena tivesse força dramática, ainda que ninguém pudesse chorar.
Repórter: Incomoda o fato de a crítica ter se surpreendido com a abordagem contida de "Julieta", como se ela soubesse mais que o Sr. como deve ser uma obra de Almodóvar?
Almodóvar: O peso de ser quem sou só existe quando termino o filme e não durante a roteirização ou filmagem. Tomo as decisões com liberdade, sem considerar o mercado ou o espectador. Os fantasmas só aparecem na sala de edição. É nessa fase que começo a ter medo. Há sempre uma comoção no lançamento de meus filmes, o que não é bom, por aumentar as expectativas. Preferiria que o público assistisse a meus filmes mais relaxadamente, para poder avaliá-lo apenas pelo que ele é.
Repórter: O Sr. diria que compreende melhor a vida por fazer cinema?
Almodóvar: Entendo melhor a mim mesmo. Obviamente, os meus personagens vão muito além de mim, embora eu esteja em todos eles. Muitas vezes os meus filmes representam espécies de premonição, antecipando situações com as quais vou me deparar algum tempo depois.
Repórter: Pode dar um exemplo?
Almodóvar: Antes de "Mulheres" eu não havia jogado um telefone na parede(risos). A culpa que Julieta carrega, por ter fracassado como mãe, também ecoou em mim. Achei que já tivesse superado a culpa pela criação católica que recebi, mas não cheguei lá ainda. Por mais que eu tenha uma abordagem laica, sem pensar em céu ou inferno, passei a pensar no que fiz de errado, com quem fiz e como poderia assumir a responsabilidade e remediar.
(13/09/16)
Álex de la Iglesia, suas ótimas comédias e o melhor do cinema espanhol.
(15/01/17)
01 abril 2019
Literarte, uma livraria baiana muito bem humorada.

(20/06/18)
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