05 abril 2019

Álex de la Iglesia, suas ótimas comédias e o melhor do cinema espanhol.

Sou dos que sentem um enorme prazer ao assistir um bom filme produzido pelo cinema espanhol. Um prazer já antigo, que sempre nos chegou, aqui no Brasil, através de cineastas como Luis Buñuel e seus filmes belos e questionadores, de Saura, e, em tempos mais recentes, de Fernando Trueba e Bigas Luna. Volta e meia, quando se faz necessário, o cinema da Espanha se recicla, ousando quando tudo parece ser acomodação e mesmice. Em 1991, um novo cineasta, Álex de la Iglesia, causou ótima impressão entre os espanhóis ao rodar um curta-metragem, Mirindas asesinas. Álex, valendo-se de curtos 12 minutos, brindou os cinéfilos com um humor contagiante, personagens hilários, um timing perfeito, mostrando quem ele era e a que veio. O público e a classe artística adoraram. Tão boa impressão ele causou que ninguém menos que o já consagrado cineasta Pedro Almodóvar decidiu financiar o primeiro longa-metragem de la Iglesia, através da vitoriosa produtora El Deseo, que Pedro divide com seu irmão, Agustín Almodóvar. Assim, com esse aval luxuoso e toda uma estrutura profissional à disposição, em 1993 foi rodada Acción mutante, uma divertida comédia, cheia de alternativas e inovações, bem escrita, interpretada e dirigida, que fugia aos filmes habituais, renovando a linguagem da comédia, propondo novos caminhos ao cinema da Espanha. Acción mutante, tendo sido um filme bem sucedido, propiciou a Álex a realização de novas e maravilhosas comédias, todas muito bem produzidas, as aberturas dos filmes graficamente bonitas, criativas e modernas sendo uma constante, efeitos especiais de primeira, um grande número de atores e figurantes sempre em cena, o que requer um diretor seguro e atento. Os argumentos, que fogem ao convencional, são sempre inteligentemente escritos por Iglesia, em grande parte assinados com o notável Jorge Guerricaechevarria, uma parceria de sucesso. Alicerçado por tanta excelência, o trabalho de direção de Álex de la Iglesia mostra ser feito com total competência e dinamismo, não permitindo ele que suas comédias tenham momentos de monotonia, nem resvalem para um humor barato, previsível. Álex sempre trabalha com excelentes comediantes, atores e atrizes versáteis, conseguindo que eles deem o melhor de si. Entre tantos notáveis estão Carmen Maura e Rossy de Palma, mundialmente consagradas pelas câmeras de Almodóvar, o superstar Javier Bardem, o sempre ótimo Santiago Segura, Álex Angulo, Sancho Gracia, Enrique Villén e a bela Carolina Bang, que tornou-se esposa do diretor. Uma comédia de Álex de la Iglesia é garantia de um humor de alto nível, gostosas risadas, muitas emoções e momentos de prazer. Aos espectadores, resta buscar em locadoras ou na internet, comédias como a cult El dia de la bestia (1995), Perdita Durango (1997), Balada triste de trompeta (2010), La chispa de la vida (2012), que é um misto de drama intenso e comédia, Las brujas de Zugarramurdi (2013) e Mi gran noche (2015). Os títulos em Português são traduções ao pé da letra. Essas películas citadas são todas deliciosas, mas há muitas outras mais, entre elas uma intitulada 800 balas (2002), que me agrada muitíssimo pela sua temática que mostra a luta pela sobrevivência de um grupo de ex-figurantes e dublês que se apresentam em uma cidade-fantasma, na verdade, um antigo set de filmagem de Almeria, na Espanha, local onde se rodaram, de fato, dezenas de filmes de faroeste, muitos estrelados por cultuados astros do cinema mundial, como Clint Eastwood. 
(15/01/17)