Um sujeito vestido formalmente, uma cadeira, uma mesinha, uma sinuosa fila de enfadadas pessoas à espera de uma dedicatória. Isto é o que se pode prever no lançamento do livro de qualquer autor neste patropi que dizem - e ultimamente está difícil de concordar - abençoá por Dê. Qualquer autor, disse eu? Não quando este autor é um cara chamado Nildão, um que usando de sua alta criatividade e sua proverbial joie de vivre transforma um evento invariavelmente maçante em um acontecimento prazeroso, um ponto de encontro de gente descontraída e de bem com a vida, cheio de festividade, lúdico, divertido, dançante e memorável. Assim soem ser os lançamentos dos livros deste artista do grafismo, do cartum e da própria vida . E ele tinha que escolher o Humor como forma de manifestação, vez que os pais mostraram serem criativos e bem humorados quando na pia batismal - sem consultá-lo - o nomearam Josanildo. Os amiguinhos não disseram nada, mas pelo não, pelo sim, acharam por bem chamá-lo apenas de Nildão, que é como ele ficou conhecido até hoje em Jacobina, Soterópolis, Sampa e em Paris sendo que semelhante alcunha no aumentativo certamente pode levar qualquer um a induzir de maneira equivocada que seu portador não pode jamais ser um artista e sim um troglodítico beque central de alguma altaneira esquadra do popular esporte bretão que só deixa a grande área para matar a jogada, eufemismo que os frenéticos e irrefreáveis cronistas esportivos usam para descrever aquele lance em que os chamados zagueirões derrubam algum desavisado adversário com um impiedoso e fatídico chute nos quibas e / ou adjacências. Qual o quê, minhas gentes. Nildão é figura mais que leve tanto fisicamente quanto no seu modo de ser. E sabemos que a grande área em que ele transita é bem outra e que engloba além dos ditos cartuns e grafismos um lote de coisas que requeiram o uso de uma cuca competente e saudável como a dele. Nildão grafita. Nildão anima ( nunca desanima ). Nildão logotipeia. Nildão cria frases. Nildão faz Hai-Kai. Nildão agita mas não cai. Foi por eu tentar transitar nas mesmas áreas que o acabei conhecendo há mais de 30 anos e nos tornamos amigos desde então. E além de amigos, nos tornamos cúmplices em parcerias diversas. O ex-Josanildo é pródigo em qualidades positivas sendo talvez a mais forte delas sua incrível postura altamente racional diante das coisas o que costuma livrá-lo das armadilhas dos estereótipos e dos preconceitos de todas as ordens. Improvisações descabidas, amadorismos inócuos, escolhas precipitadas ou calcadas em passionalidades vãs não compõem seu estilo profissional que sempre primou pelo aperfeiçoamento do seu próprio saber. Para tanto muito se informou e entre outras coisas leu muito e de tudo. Sua seriedade profissional não o impediu de ser a pessoa amável que é, carismático, agradável, agregador, detentor de um sorriso sincero e franco, de um bom-humor contagiante, astral elevadíssimo, solícito, um monstro para fazer amigos, tendo sempre para eles um abraço afetuoso e acolhedor sem nunca ter almejado nenhum cargo público. Não me limitei a comprovar de perto estas virtudes Nildônicas pois embora sejamos tão distintos um do outro, de há muito percebi que algumas atitudes e posturas que adoto com a maior propriedade têm muito do que assimilei deste tão querido amigo que sabe viver a vida com sabedoria de guru qual um Mr. Natural do Robert Crumb em versão baiana, sempre aboletado entre nuvens em seu Nirvana na cobertura do Edifício Pedrão, ali na Rua Carijós, no Rio Vermelho. Josanildo, pra você meus mais respeitosos e fraternais amplexos e ósculos, bró!
(Publicado originalmente em 19 de outubro de 2009)
(Publicado originalmente em 19 de outubro de 2009)