Na gênese do PT nacional está Jaques Wagner, ombro a ombro com Lula desde o primeiro instante. Na Bahia, ao lado de companheiros cheios de entusiasmo e determinação, Wagner também está no PT desde os alicerces que se iniciou em época em que o Carlismo gozava de ótima saúde e seu líder, Antonio Carlos Magalhães, conhecido nacionalmente comoToninho Malvadeza, mostrava com prazer o porquê de sua famigerada alcunha. Pelejas acirradas contra tais forças sempre soaram como algo quixotesco, utópico. Naquele tempo eu e Wagner éramos vizinhos na Vila Matos, no Rio Vermelho, um lugar simples, de gente simples com quem Jaques bem se relacionava. Ali ele me falou entusiasmado que estava montando seu comitê que dividiria com Roberto Ataíde e Walter Pinheiro. Encomendou-me um folheto para a divulgação. Fiz um mapinha porreta e rematei com simpáticas caricaturas do trio. Ilustrando esta postagem está a primeira caricatura que alguém fez de Jaques Wagner, que curtiu e aprovou tudo numa boa. Wagner ainda não tinha as melenas argênteas nem a olorosa e bem aparada barba que ora ostenta e que lhe dão um ar de distinção e de confiabilidade tão necessárias a um homem público. Além, é claro, de provocar justificável frenesi na primeira-dama. Eram tempos de bovinas anoréxicas e Wagner, acanhado, me pediu uma graninha para pegar um buzu alegando que tinha que ir ao jornal A Tarde, seu local de trabalho, à época, onde iria fazer umas caricaturas a serem publicadas pelo matutino. Passei-lhe a grana e nunca mais vi a cor dela. Mais de duas décadas depois o que parecia quixotesco e utópico acabou tornando-se vontade popular e Wagner pespegou uma histórica derrota ao Carlismo que já vinha cambalido pela decadência física e política do antes temido Malvadeza, agora vergastado por escabrosos escândalos que se sucediam revelando um infindável lote de esqueletos no armário. Hoje Wagner vai governando em luta contra as incontáveis dificuldades construídas por décadas nesta terra, buscando derrubar as gigantescas barreiras espalhadas por toda parte. Quanto a mim, ai de mim. Ouço tocar uma estridente campainha interior que me avisa um tanto tardiamente que quem trabalhava no A Tarde era eu e não Wagner. Quem fazia as caricaturas era eu. Quem pegava o buzu pro jornal era eu, o que me leva a uma nada sherlockiana dedução de que fui eu quem tomou a grana emprestada na mão de Jaques e não o contrário. Ciente disso, reconheço de público minha dívida externa e prometo ao nosso democrático governante que tão logo possa eu passo aí no Palácio de Ondina para quitar meu débito. Não será por falta de grana para o buzu que Vossa Excelência se verá impedido de exercer uma saneadora e progressista gestão tão desejada pela população afrobaiana, meu caro Governador. Ao senhor, os meus respeitos e o meu mais democrático axé.