09 maio 2015

Timbalada, Ninha e El Marrón


O cantor Ninha há já um bom tempo deixou a Timbalada. Mas sempre que faço uma pintura em tela - como esta aê - mostrando este tão formidável grupo criado pelo não menos formidável Carlito Marrón, não deixo de colocar uma alegre e rotunda figura ao microfone para lembrar o magistral e - ao menos para mim - eterno timbaleiro, dono de uma voz poderosa que soube mostrar ao mundo que a Timbalada revitaliza. Sem Ninha, o grupo da Timbalada segue sua trilha de músicas e alegrias lançando novos e bons cantores, sempre se reciclando graças à mente inventiva de El Marrón, que também atende pelo nome de Carlinhos Brown. E o próprio Ninha, vida que segue, continua cantando cada vez mais bonito, levando a todos esta vocação musical inegável e toda alegria interior do povo negro da Bahia que se dissemina e a todos contamina. Um brungundum bragadá pra Timbalada, pro Carlito Marrón e procê, Ninha.

01 maio 2015

Humor de graça / Branca de Neve queimadinha


H. Lima, artista plástico ou Lima Limão vai à luta.

Sem providenciais mecenas para ampará-los nesse mundo hodierno, os artistas plásticos que não alcançam as boas galerias - bem raras nesta urbe - sempre tiveram que partir para um renhido embate pela sobrevivência indo buscar possíveis compradores aonde eles estivessem. E nestes anos 70 lá estou eu com meu amigo Lima, que assinava seus trabalhos artísticos como H.Lima e era também conhecido popularmente como Lima Limão ou ainda como Macarrão 38, devido ao fato de em sua quase anoréxica magreza lembrar o famoso produto alimentício, uma massa das mais fininhas. Lima, gravador e pintor, marcha estoicamente, subindo e descendo inacabáveis escadas de prédios da Cidade Baixa tentando vender dois entalhes que recém fizera. Eu, seu fiel e prestativo acólito nesta empreitada dificultosa ajudo a carregar as peças. Lima, como já narrei em postagem anterior, conseguia dois pedaços de compensados, entalhava-os, coloria-os e saía em campo para o corpo-a-corpo necessário à subsistência. Com o dinheiro auferido, comprava novo material para preparar mais dois e repetir a façanha sem assim jamais conseguir acumular em sua casa e ateliê uma produção de seu trabalho, mínima que fosse. Nada disso tirava o constante bom humor baiano de Lima. Certo dia visitamos o escritório de um profissional liberal que em mais de uma oportunidade já comprara obras de meu amigo. Após olhar sem entusiasmo os trabalhos, o sujeito diz : "Você bem sabe que gosto de sua arte. Mas estes trabalhos seus não me agradaram. Façamos o seguinte: no próximo final de semana  passo em seu ateliê e com calma olho todos os outros trabalhos que você tiver lá, escolho um que eu gostar e compro. Certo?" Ao ver o semblante de desalento de Lima, o homem inquire, desconfiado: "Você tem outros trabalhos em casa, não tem?" E Lima, a imagem da humildade personificada: "Quem sou eu, doutor, para ter um quadro meu?! Isto é pro senhor que pode!"
(Publicado originalmente em 06 de novembro de 2010)