19 setembro 2013

Meio ambiente, Ilha do Fogo e o povo de Juazeiro e Petrolina contra arbitrariedade do Exército

O Rio São Francisco banha, entre outras, duas cidades importantes do glorioso nordeste brasileiro, Juazeiro, pelo lado da Bahia, e Petrolina, pelas margens pernambucanas. Entre elas fica a aprazível Ilha de Fogo, patrimônio indissociável da população que habita ambas as cidades tão cantadas em verso e prosa. Não se deve confundir a baiana Juazeiro, a qual estou me reportando, com Juazeiro do Norte, que fica no Ceará, famosa por ser a terra do lendário Padim Padre Ciço. Juazeiro é terra do notabilíssimo João Gilberto, de Ivete Sangalo, de Galvão, poeta e letrista dos Novos Baianos, e gente importante no cenário futebolístico tais quais Nunes, camisa nove do Flamengo, que jogou ao lado de Zico e Luís Pereira, que foi zagueiro da seleção brasileira de futebol, além de Daniel Alves, lateral titular do Barcelona e do nosso auriverde selecionado. Tive a felicidade de morar na doce Juazeiro por alguns anos e fui frequentador da Ilha do Fogo, onde ia me divertir, mergulhar, nadar lépido qual um Cielo, apreciar a bela vista insular do pôr-do-sol, jogar conversa fora com amigos espairecendo a mente e levar a criançada para uma jornada garantida de lazer. Agora fico sabendo que o Exército pernambucano conseguiu na Justiça de lá, sabe-se lá com que argumentos, o direito de se apossar da Ilha sob pretexto de usá-la para treinamento militar, proibindo assim o acesso aos seus legítimos donos, os moradores. Fico imaginando se algum oficial tomado por alguma delirante paranoia está com receio de que a Ilha do Fogo possa se tornar uma nova Pearl Harbor, sujeita a fulminantes ataques de povos inimigos do Brasil. O fato é que na sua pretensão os militares não levam em consideração a vontade popular e baianos e pernambucanos que há décadas frequentam a Ilha do Fogo, em que comerciantes locais vivem honestamente da venda das suas mercadorias aos ribeirinhos e onde o povo vai para respirar o que ainda resta de natureza nestes tempos de agressão ao meio ambiente. Durante 20 anos o povo brasileiro sofreu horrores com o autoritarismo militar, como indicam livros diversos e minisséries da Rede Globo, que aliás recentemente pediu desculpas ao povo deste país por ter apoiado o golpe militar. Quem acredita que este tempo autoritário e de decisões arbitrárias passou deve ficar atento ao que ocorre na Ilha do Fogo, entre Juazeiro e Petrolina e unir-se aos moradores, que estão amplamente cobertos de razão neste justíssimo protesto pacífico. O Exército, mesmo sentindo a pressão popular, não desistiu de suas pretensões ilegítimas. E numa jogada que parece ter surgido da mente torta de algum político oportunista, adotou uma atitude que se pretende conciliadora e magnânima, resolveu "permitir" que os moradores tenham acesso controlado à Ilha do Fogo nos domingos e feriados, como se fosse um ato de grandeza permitir que os legítimos donos da Ilha do Fogo, o povo, possa ter acesso ao que é, ao que foi e sempre será seu.