23 setembro 2017

As Histórias em Quadrinhos e os Professores Álvaro de Moya, Moacyr Cirne, Sonia Bibe Luyten, Luiz Cagnin, J. Marques de Melo e Waldomiro Vergueiro.

À medida que vou lendo o livro “Os Pioneiros no Estudo de Quadrinhos No Brasil” minha imaginação vai ficando tão livre, leve e solta que acaba por me fazer revisitar minha infância. Nela estou em um cantinho sossegado de minha antiga casa devorando com os olhos uma história em quadrinhos do Spirit. Toneladas de prazer emergindo do argumento e dos fantásticos desenhos de Will Esner. O mesmo valendo para os trabalhos de Flavio Colin, Cannif, Frank Robbins, Luiz Sá e tantos mais que eu lia avidamente. Fantástico. Piramidal. Constato só agora que fui um menino abençoado, contemplado com a grande fortuna de ter um pai esclarecido que, diferente de tantos, não se deixava levar pelas campanhas difamatórias movidas contra as histórias em quadrinhos por setores mais conservadores da sociedade incluindo-se, em extensa lista, políticos arrivistas, religiosos, professores, donas de casa e quantos enxergassem nos quadrinhos um caminho para a perversão em patamares elevados. Esclarecedor, o livro faz um registro de tais barbaridades culturais e serve também para alertar as pessoas de que nem tudo que se publica e se divulga através da mídia merece credibilidade. Jornais, revistas e TVs muita vez veiculam grandes mentiras como sendo expressões da mais autêntica verdade, o que de fato não são. No caso das HQs isso ficou indubitavelmente comprovado graças à atuação de pessoas com uma visão lúcida, despida de preconceitos destruidores, sintonizadas com o avanço do conhecimento. E grandes equívocos foram se desfazendo graças ao denodo dessas pessoas, entre eles notáveis professores. Eles lutaram para que os quadrinhos fossem sendo mais e melhor estudados, compreendidos e aceitos pela sociedade de maneira geral. A luta desses professores fez com que se fossem abrindo espaço nas áreas de produção e preservação do conhecimento, escolas, bibliotecas, universidades. Décadas depois do início dessa peleja contra ferrenhos opositores dos quadrinhos, o panorama tornou-se amplamente favorável para essa forma de expressão e incontáveis eventos vitoriosos aconteceram. Entre eles, a 1ª Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos, em 2011. Ela mostrou a contribuição daqueles que primeiro defenderam a histórias em quadrinhos no âmbito da universidade brasileira décadas atrás. Depoimentos importantes desses pioneiros foram prestados nessa Jornada Internacional. Os organizadores do evento, entendendo que a palavra falada é volátil, houveram por bem registrar tudo nesse livro. Nos créditos do livro ficamos sabendo que a organização de “Os Pioneiros no Estudo de Quadrinhos no Brasil” é dos professores universitários Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e Nobu Chinen e que a edição é da Editora Criativo. Os depoimentos registrados para a posteridade são dos professores Álvaro de Moya, Antonio Luiz Cagnin, José Marques de Melo, Moacy Cirne, Sonia Bibe Luyten e Waldomiro Vergueiro. O visual gráfico é muito bonito, sendo que a direção de arte é de Yuri Botti. As ilustrações ficaram por cargo do notável Alexandre Jubran que se incubiu de retratar com fidelidade e maestria os autores dos valiosos depoimentos. A quem interessar possa, o adulto que hoje sou faz saber que não me transformei em um marginal, como reacionários opositores das HQs vaticinavam que sucederia às crianças e jovens que lessem quadrinhos. Na verdade, tornei-me um profissional da área e tento levar a adultos e crianças momentos tão sublimes quanto os que meus autores preferidos me proporcionaram em minha infância povoada por incontáveis personagens maravilhosos das HQs. A Moya, Cirne, Cagnin, Marques de Melo, Sonia Luyten, Vergueiro e outros aqui não nominados, a todos esses notáveis professores, meus mais sinceros agradecimentos.
(Publicado originalmente em 29/10/2015)